Banguecoque,
26 fev (Lusa) -- O Kiribati, no Pacífico Sul, está a estudar a possibilidade
de, artificialmente, elevar o nível do solo para lidar com a subida das águas
do mar, fenómeno provocado pelas alterações climáticas e que ameaça fazer
desaparecer o país.
O
arquipélago, que integra 33 atóis coralinos e uma ilha vulcânica, com uma
população de 103 mil habitantes, é um dos mais vulneráveis às mudanças
climáticas, com uma altura média de dois metros acima do nível das águas do
mar.
Segundo
reporta hoje a agência noticiosa espanhola EFE, uma equipa de engenheiros dos
Emirados Árabes Unidos (EAU), obreiros da edificação da maior ilha artificial
no país, visitou Kiribati em janeiro para analisar o terreno e procurar
"soluções técnicas e exequíveis" para a missão.
"Temos
de encontrar estratégias de adaptação que possam ir mais além do que a simples
migração. (...) Poderemos elevar o nível do solo, uma vez que uma ilha
artificial não teria capacidade para suportar as marés altas e as
tempestades", afirmou o Presidente de Kiribati, Anote Tong, à Rádio Nova
Zelândia.
O
projeto, que será estudado ao longo do ano em curso, tem um orçamento inicial estimado
em 100 milhões de dólares (quase 90 milhões de euros) e insere-se num programa
de busca de "soluções criativas" para o país promovido pelas
autoridades locais, em que o material para fazer subir o nível do solo poderia
ser dragado das lagunas internas.
A
subida do nível das águas do mar, proveniente do degelo dos polos, consequência
do aquecimento global, está a pôr em perigo o modo de vida da população.
Os
aquíferos de água potável, por exemplo, estão praticamente todos contaminados
com o sal marítimo, o que tem vindo a impossibilitar a atividade agrícola,
enquanto os diques estão a começar a ceder à forte ondulação, cada vez mais
frequente, e aos avanços do mar, com as consequentes inundações.
Apesar
do compromisso mundial para travar as alterações climáticas e reduzir as
emissões de carbono alcançado em dezembro último em Paris, o Presidente de
Kiribati mostra-se cada vez mais descrente.
"A
ciência continua a indicar que iremos acabar debaixo de água em menos de um
século", sublinhou Anote Tong, alertando que, dentro de cinco anos, poderá
começar a migração dos primeiros refugiados de um arquipélago devido às
alterações climáticas.
O
alerta de Anote Tong foi feito este mês na Conferência sobre as Consequências
das Alterações Climáticas no Pacífico, que decorreu na cidade neozelandesa de
Wellington, que apelou a donativos, públicos ou privados, para se estudarem
"formas inovadoras" que tragam esperança "aos que já a
perderam".
"Há
luz ao fundo do túnel. O que pode ser visto como algo inalcançável e impossível
poderá agora converter-se na solução para o terreno de Kiribati",
sublinhou.
Kiribati,
que em 2012 negociou a compra de 2.200 hectares de terreno em Vanua Levu (ilhas
Fiji), também está a estudar outras propostas, incluindo a de transferir toda a
população para cima de uma gigantesca plataforma flutuante, semelhante às
utilizadas pelas companhias petrolíferas.
"As
nossas autoridades estão a estudar construir um terreno artificial porque os
nossos vizinhos (do Pacífico) não estão dispostos a aceitar-nos nos seus
terrenos a maior altitude", afirmou Claire Anterea, responsável da
organização ambiental de Kiribati "350".
Embora
mostre algumas reticências em relação ao projeto de elevação do solo, Claire
Anterea indicou que a aceitaria se essa for uma "boa solução para a
sobrevivência" da população.
"Investiria
o dinheiro na compra de terras na Austrália ou na Nova Zelândia para construir
locais para colocar a população. Creio que seria a ideia mais acertada do que
gastar milhões na edificação de terrenos artificiais que estarão sempre
fragilizados. (...) As ondas são cada vez mais fortes e mais altas e as
tempestades também estão a ter cada vez maior intensidade", sublinhou
Anterea.
O
caso de Kiribati, porém, não é o único no mundo, pois outras nações insulares
do Pacífico, como as ilhas Marshall, Tuvalu e Tokelau, confrontam-se com
idêntico problema.
JSD
// VM
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