António Sampaio, Enviado da
Agência Lusa
Camberra, 10 mai 2019 (Lusa) --
Uma ampla maioria de estudantes do ensino superior timorense considera a língua
portuguesa muito ou relativamente importante para se ser
"verdadeiramente" timorense, segundo o estudo de um académico australiano.
Os dados, recolhidos pelo
investigador Michael Leach entre centenas de alunos do ensino superior em Díli,
confirmam um reconhecimento crescente, entre os mais jovens, do papel da língua
portuguesa na formação da identidade nacional.
Feito ao longo dos últimos 15
anos -- com sondagens a alunos do ensino superior em Díli a cada cinco anos
desde 2002 -, o estudo permite avaliar a evolução da perceção de um setor da
juventude timorense sobre alguns dos elementos centrais da identidade nacional.
Questões como língua, relação com
o catolicismo, com a região ou com os países considerados mais próximos, bem
como elementos do passado e do presente, fazem parte do estudo, divulgado no
encontro Timor Leste Update, da Australian National University (ANU).
Entre as questões colocadas Leach
quis saber até que ponto é que capacidade nas duas línguas oficiais -- tétum e
português -- é importante para a noção de identidade timorense, verificando
como essa perceção evoluiu ao longo do tempo.
No caso do tétum esse reconhecimento
tem-se mantido elevado e quase todos consideram que é muito ou bastante
importante para o ser-se timorense.
Já no que se refere ao português,
porém, o estudo mostra mudanças significativas, ecoando em parte o crescente
investimento do país no ensino do português, língua que é hoje mais falada do
que nunca em Timor-Leste.
Em 2002, por exemplo, só cerca de
50% dos jovens consideram a língua portuguesa como relativamente ou muito
importante para se ser "verdadeiramente timorense".
Hoje, entre estudantes do ensino
superior -- ainda que de uma nova geração -, mais de 54% dizem que é
"muito importante" e 39.5% dizem que é relativamente importante para
a formação da identidade nacional.
Mais de 90% consideram, por isso,
que o português tem importância no ser-se timorense ainda que só 25% se
identifiquem como próximo a Portugal, valor muito aquém da
"proximidade" vista com a Indonésia (87.5%) e com a Austrália (78%).
Essencial para esta progressão
tem sido, apesar dos solavancos, o investimento que Timor-Leste tem vindo a
fazer na promoção da língua portuguesa, mas também o apoio de parceiros
internacionais nesta matéria, nomeadamente Portugal.
Em 2002, por exemplo, menos de 3%
dos alunos dizia ter um conhecimento fluente do português e 24% ter um
conhecimento moderado, sendo que no ano passado o número dos com conhecimento
fluente tinha aumentado para 15% e com conhecimento moderado para 61%.
Quase um terço dos timorenses diz
mesmo que o português é uma das línguas que usa em casa, valor que era de
apenas 11,5% em 2002. E apesar das dificuldades com o português, a maioria dos
timorenses considera mais fácil a sua aprendizagem que a do inglês.
No que se refere ao tétum, são
hoje menos os que se consideram fluentes na grande língua nacional (83,5%
contra os 91,5% de 2002).
Leach explicou que o objetivo foi
perceber as atitudes dos estudantes relativamente a temas como a nação e a
identidade nacional, permitindo assim avaliar as mudanças verificadas e
melhorar a compreensão sobre o processo de construção nacional em curso.
Entre as perguntas, o
especialista em Timor-Leste -- que coordena a Timor-Leste Studies Association
(TLSA) -- quis saber até que ponto é que a naturalidade, a cidadania, o tempo
de vida no país, a religião, a língua, a tradição e as instituições são
importantes no conceito de "ser timorense".
Orgulho na forma como a
democracia funciona no país, a cultura e a história e o tratamento dos vários
setores da sociedade, fazem igualmente parte das questões colocadas.
ASP // PJA
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