Jacarta, 18 mai 2019 (Lusa) --O
ex-embaixador da Indonésia em Portugal Lopes da Cruz afirmou à Lusa que se
sente timorense, apesar de só ter passaporte indonésio e português depois de
uma vida a defender os interesses de Jacarta.
"Nasci como português e
continuo a ser português e, é claro, cidadão indonésio, por causa da situação.
Ainda não tenho a cidadania timorense, mas desde a nascença que posso dizer que
sou também timorense", contou à Lusa o antigo embaixador itinerante de
Jacarta para os assuntos de Timor.
"Nesta idade não me inclino
muito pela nacionalidade timorense. Agora quero saber da nacionalidade da vida
eterna, no céu, por causa da fé [católica] que os portugueses levaram a
Timor", disse, explicando que desde jovem tem uma "devoção especial a
Nossa Senhora".
O coração diz, "é um bocado
indonésio", mas "é mais de Portugal", país pelo qual diz ter
"uma paixão especial".
Lopes da Cruz, hoje diplomata
indonésio reformado, conversa com a Lusa na casa que recebeu do Estado, fala
com saudades de Portugal e apesar de enviar, quase diariamente, mensagens com
"reflexões" de fé para "amigos em Timor", não tem para já
planos para voltar ao país.
Quase 20 anos depois do referendo
em que os timorenses escolheram a independência, e 17 anos depois da
restauração da independência, Lopes da Cruz mantém a linha que defende desde
1975.
Uma defesa da presença indonésia
em Timor-Leste, ou pelo menos da autonomia sob controlo indonésio, posição que
o tornou, ao lado do já falecido ministro dos Negócios Estrangeiros Ali Alatas,
uma das principais vozes de Jacarta sobre questões timorenses.
Ao contrário de muitos outros,
porém, Lopes da Cruz mantém uma ligação especial a Portugal, laços, diz, que se
materializam na relação entre os dois países e os dois povos, simbolizados na
relação de cidades geminadas entre Fátima e Larantuca, na ilha indonésia das
Flores.
Depois de quase um quarto de
século de relações cortadas, a relação entre Jacarta e Lisboa "é muito
boa" e, garante, "os indonésios orgulham-se de ter uma boa
relação", que se viu, até, quando o Cristiano Ronaldo veio à Indonésia.
"Quando o Ronaldo veio cá,
estavam 500 mil pessoas a espera dele. Até o Presidente indonésia foi a Bali
visitar o Ronaldo", conta.
Quase como a provar isso, Lopes
da Cruz termina a conversa com uma canção, que ele próprio escreveu, sobre a
glória dos dois países a quem mais anos serviu: Portugal e a Indonésia.
"Indonésia não tem fim /
País de ilhas criado / E Portugal é um jardim / À beira mar plantado",
cantou o ex-diplomata, terminando: "Viva a Indonésia / Viva Portugal / De
mãos dadas a lutar / Para a frente sempre a olhar / Viva a Indonésia / Viva
Portugal / Juntos e com esplendor / Farão o mundo melhor".
ASP // PJA
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