sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Ministro do Plano timorense quer mais harmonização e coordenação ministerial


Díli, 21 ago 2020 (Lusa) -- O processo de ordenamento do território em Timor-Leste exige maior harmonização e coordenação ministerial, melhor recolha de dados e um planeamento adequado, disse em entrevista à Lusa o novo ministro da tutela.

José Reis, que além de ministro do Plano e Ordenamento (MPO) é também vice-primeiro-ministro, explicou que, nos dois anos e meio que restam de mandato ao Governo, é crucial fazer levantamentos em Díli e noutros municípios, atualizando planos mestre que já existem.

"Temos um plano de ordenamento feito, mas temos que ver como ajustar e definir algumas coisas que foram propostas e recomendadas. Há uma lei base do ordenamento do território, mas há ferramentas que devem ser aprovadas", explicou José Reis à Lusa.

"Há três decretos-leis que foram preparados, mas há alguns problemas e em 2021 temos que avançar com essas e outras leis necessárias para poder implementar a lei do ordenamento", frisou.


Nesse quadro, disse, há que reavaliar e adaptar um plano mestre para Díli e avançar com levantamentos adicionais em "municípios com grande densidade demográfica" como Baucau, Ermera, Bibonbaro, Viqueque e Lautem, frisou.

"Temos colocado a carroça à frente do boi. Estamos a tentar reverter a situação, mas não é fácil. Tem que ser trabalhado. E queremos um centro de planeamento integrado porque esta área é transversal", afirmou.

"No que resta do mandato não vamos conseguir tudo, mas temos que trabalhar para garantir um planeamento e ordenamento mais equilibrado e sustentável", disse.

José Reis notou que, no setor do ordenamento, esse planeamento exige "recolher muita informação que falta", criando, um centro de dados geoespaciais que centralize informação de várias instituições.

Dados dos registos cadastrais, do mapeamento de Timor, do IPG, da agricultura e Obras Públicas, devem ser unificados parar permitir "levar a cabo um plano de ordenamento mais adequado".

Enquanto vice-primeiro-ministro, José Reis tem delegadas também competências na coordenação na área das infraestruturas, setor, explicou, no qual é necessário "garantir que o planeamento e ordenamento é feito de forma mais integrada".

Procurar "mais harmonização e coordenação entre todo os ministérios, no que toca ao setor das infraestruturas", que é "essencial" para o país.

Importa avaliar "não apenas a construção física, mas a necessidade de existência da própria infraestrutura para melhorar a comunicação e assim poder abrir um caminho para um desenvolvimento mais equilibrado para a melhoria do povo e do país".

"Em muitos casos, até agora, a construção das infraestruturas nem sequer respeitou o ordenamento", disse.

Como exemplo, citou o caso da construção de uma nova autoestrada no sul do país -- foi já feito um primeiro troço -- "em que há uma quebra forte por causa de uma fonte de gás e petróleo à margem da estrada", referiu.

"Quando perguntei ao Instituto de Petróleo e Geologia (IPG) se tinha informado as Obras Públicas e a Agência de Desenvolvimento Nacional (ADN) disseram que informaram, mas que isso não foi respeitado por causa da decisão política", afirmou.

"Temos de fazer correções para garantir que as infraestruturas servem os cidadãos", notou.

José Reis, que é secretário-geral adjunto da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) -- maior partido no parlamento -, é o principal responsável da força política no VIII Governo, de que fazem ainda parte o Partido Libertação Popular (PLP) e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan (KHUNTO).

Questionado sobre as prioridades, José Reis destaca a questão "urgente" da água, mas também infraestruturas educativas e de saúde, concluindo a rede elétrica nacional que ainda não chega a 77 sucos (equivalentes a freguesias).

Há ainda a questão das estradas rurais, especialmente importantes no que toca às ligações "entre as áreas de maior densidade e as zonas de produção, para facilitar o escoamento dos produtos".

Uma das mudanças que quer ver avançar tem a ver com a ADN, instituição que nos últimos 10 anos "tem sido alvo de muitas críticas", especialmente, sublinhou, em torno do seu papel e da forma como o tem vindo a executar.

"A ADN tem como papel mais importante verificar e certificar os projetos, o desenho, a racionalização do projeto, a sua qualidade. Mas o que tem vindo a ser criticado é que a ADN se virou quase como um executivo das infraestruturas, com várias infraestruturas diretamente sob a ADN", referiu.

José Reis disse que vai ser pedida uma "auditoria de desempenho e financeira à ADN" para ver o que se deve continuar e o que importa corrigir.

Em termos gerais, o governante explicou que houve um esforço de contenção nos gastos em infraestruturas para 2021, com a fatura total nas contas públicas a poder ficar entre os 80 e os 124 milhões, abaixo dos 200 milhões inicialmente propostos.

ASP // JMC

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