quarta-feira, 21 de maio de 2025

Trabalho sem salário, vidas sem direitos: a luta das mulheres que sustentam Timor-Leste

Rilijanto Viana | Diligente

Sem contrato, sem salário digno, sem descanso. Em Timor-Leste, centenas de mulheres trabalham como empregadas domésticas ou cuidadoras, num esforço diário que continua invisível e desvalorizado.

Gracilda Soares tem 21 anos e trabalha como empregada doméstica em Díli desde 2021. Abandonou a escola primária por falta de condições financeiras dos pais e deixou a mãe e o irmão mais novo em Ermera para procurar trabalho na capital. Atualmente, trabalha numa casa em Maloa, de segunda-feira a sábado, das 7h às 17h. Ao domingo, descansa. Mas se faltar durante a semana, tem de compensar os dias.

Está empregada sem qualquer contrato formal e recebe uma remuneração abaixo do salário mínimo. “Comecei aqui há quatro meses. Um colega recomendou-me. O patrão deu-me serviços como cuidar da casa, lavar roupa e cozinhar. Depois paga-me 80 dólares por mês”, contou.

Antes, Gracilda trabalhava em Vila Verde, onde recebia 115 dólares. Ao mudar-se para Maloa, passou a ganhar menos. “Eu recebo apenas o suficiente para sustentar a minha família. Tenho de enviar algum dinheiro para a minha mãe em Ermera e o resto é para as minhas despesas”, explicou. Embora se sinta confortável com as tarefas que realiza, o baixo salário é o maior obstáculo. “Sinto-me bem com o trabalho que faço, mas o desafio é o salário”, afirmou.

Agustina dos Santos, de 31 anos, natural de Liquiçá, trabalha há seis meses numa loja chinesa em Díli. Tem como funções organizar mercadorias, embrulhar produtos e atender clientes. Trabalha das 8h às 17h e recebe 120 dólares, dos quais cinco são descontados para a segurança social, restando-lhe 115. Aos sábados e domingos, tem direito a folga, mas, se decidir trabalhar, recebe um bónus de 7,50 dólares ao sábado e quatro ao domingo.

Mãe de três filhos, Agustina considera o salário insuficiente para as necessidades da família. “Vivemos em Dili, e tudo precisa de dinheiro: pagar a renda do quarto, eletricidade, água, escola das crianças, alimentação e outras coisas”, lamentou. Apesar disso, sente-se satisfeita com o tratamento recebido pelos patrões. “São bons e não se zangam connosco. Mas as férias são difíceis de conseguir, porque querem que a gente trabalhe sempre”, explicou. Pediu ao Governo que faça campanhas de sensibilização junto dos empregadores. “No passado, os trabalhadores não eram bem tratados. Muitas situações ainda acontecem. É preciso que os nossos direitos sejam reconhecidos”, apelou.

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