Díli,
16 abr (Lusa) - Timor-Leste terá que formar ou contratar 4.000 médicos e 5.000
professores, duplicar o número de escolas e de centros de saúde e construir
quatro novos hospitais, só para responder às pressões demográficas das próximas
décadas, segundo um estudo.
O
Estudo "Projeção e composição do crescimento populacional de Timor-Leste
até 2030 e as suas implicações setoriais" foi realizado pelo investigador
Udoy Saikia, da Flinders University na Austrália, e apresentado esta semana ao
Conselho de Ministros timorense.
As
'contas', a que Lusa teve hoje acesso, apontam os desafios que as autoridades
vão enfrentar nos próximos anos, com a previsão de que a população timorense
passe dos 1,18 milhões atuais para 1,82 milhões em 2030.
No
estudo consideram-se três cenários para estimar a taxa de fertilidade - baixo,
médio e alto - sendo que em todos eles a tendência é de descida.
Ainda
assim, e olhando para o cenário "médio", o estudo antecipa uma
redução de cerca de 6 crianças por mulher (entre 2010 e 2015) para cerca de 4,5
em 2020-2025 e para pouco mais de 4 em 2025. Em 1996-1997 era de 8,41.
A
esperança de vida crescerá de cerca de 63 anos em 2010 para 72,1 anos em 2030,
no caso dos homens, passando de 66 para 75,5 no caso das mulheres.
As
dificuldades demográficas evidenciam-se também no rácio de dependência, ou seja
o número de menores de 15 anos e maiores de 65 comparativamente à força
laboral: um valor que continuará acima dos 80 nas próximas décadas.
Especialmente
importante para as contas do Governo é o facto de grande parte dessa componente
se dever aos menores de 15 anos, com o rácio de crianças dependentes a ser um
dos mais elevados do mundo: em 2010 era de 77 e até 2030 só cairá 5 pontos.
Na
Indonésia, por exemplo, esse valor era em 2010 de 45 (será de apenas 32 em
2030) e na vizinha Austrália de apenas 28 em 2010 (permanecerá estável nas
próximas décadas).
Este
elevado número de crianças e jovens implica, por exemplo, que o número de
estudantes inscritos no ensino primário aumentará 72% nas próximas décadas, dos
cerca de 300 mil em 2010 (são quase um terço da população total) para mais de
516 mil em 2030.
Ou
seja, Timor-Leste, que já tem grande falta de professores, terá de aumentar o
seu número em 76%, dos cerca de 8.570 de 2010 para quase 13 mil, duplicando o
número de escolas. Cada ano, o Governo terá que contratar 265 professores e
construir 53 novas escolas.
As
pressões são igualmente dramáticas no setor da saúde, para o qual se comprova
não só as dificuldades atuais mas o impacto demográfico exponencial.
Em
2010, Timor-Leste ainda só tinha um médico por cada 35.300 pessoas (cerca de
370), um valor dramático tendo em conta, por exemplo, que na Papua Nova Guiné
ou na vizinha Indonésia havia um médico por cada 10 mil pessoas.
Para
poder não só reduzir este rácio e para responder ao aumento populacional
Timor-Leste terá que formar ou contratar 4.000 médicos nos próximos 15 anos. E
quase duplicar o número de centros de saúde dos atuais cerca de 70 para quase
120.
Com
180 mil pessoas por hospital - e mesmo que este rácio se mantenha - o
crescimento populacional exige a construção de mais 4 hospitais a somar aos 6
já existentes no país.
Para
conseguir algum 'alivio' na grande pressão demográfica, o estudo sugere medidas
para reduzir a taxa de fertilidade nomeadamente uma aposta na educação e no uso
de contracetivos.
Segundo
os dados citados no estudo, por exemplo, apenas 13,6% das mulheres timorenses
em idade fértil usam contracetivos - o valor mais elevado ocorre nas mulheres
entre 30 e 34 sendo de 24,8%.
Os
mesmos dados referem, porém, que metade das mulheres timorenses considera que
uma família ideal tem cinco ou mais filhos e 18% que o ideal é 8 ou mais.
Timor-Leste
era em 2011 o sétimo país 'mais jovem' do planeta, com a idade média da
população a ser de 16,8 anos (em Angola era 16,7).
ASP
// JPS
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