quarta-feira, 19 de julho de 2017

TERMINOU A CAMPANHA ELEITORAL | O ‘ó malhão, malhão’ antes do 'show' Xanana Gusmão


Por António Sampaio

O mais inesperado no comício de encerramento da campanha do CNRT para as legislativas de sábado em Timor-Leste foi, antes do 'show' Xanana Gusmão, ouvir nas colunas em Tasi Tolo, um "ó malhão, malhão" e a voz de Amália.

Já se tinham ensaiado os "Vota CNRT", ouvido o "tebe-dai" e outros temas cantados por cinco artistas 'pop' timorenses - o animador foi o famoso Anito Matos -, mas não se esperava o clássico popular português a fazer dançar euforicamente tantos jovens timorenses.

No palco, um grupo de roda, doze jovens, eles e elas de camisa branca, eles com meias brancas sobre as calças pretas até ao joelho e elas de saia rodada azul - a mesma cor do lenço.

Ao seu lado, recordando os guerreiros tradicionais, vários jovens rodavam sobre si próprios, em tronco nu, com um lenço e penas na cabeça e 'tais' (pano tradicional) à cintura, mas com a espada que normalmente trazem na mão, trocada neste caso por bandeiras do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT).


No público, jovens acompanhavam, a dançar em euforia o "vira" e a voz da fadista mais conhecida de Portugal, com saltos e "CNRT" a compasso.

A crescente sofisticação das campanhas em Timor-Leste evidenciava-se no que foi montado em Tasi Tolo: um palco com uma passadeira em forma de 7 - o número do partido no boletim de voto - dois grandes balões quadrados, um com a foto do Xanana e a mensagem "avançar para o futuro com confiança".

No outro, quatro mensagens: paz e estabilidade, desenvolvimento, unidade nacional e economia, e depois sete mais pequenos, azuis, brancos e verdes (as cores do CNRT) com a foto de Xanana.

Estava montado o cenário para a chegada da estrela da tarde, Xanana Gusmão, 71 anos, que com o comício de hoje completou 20 em menos de um mês, percorrendo todos os 13 municípios do país.

Rodeado por uma multidão que o acompanhou desde a entrada no recinto, Xanana Gusmão chegou num jipe descapotável, e todas as atenções se voltaram para si, com jornalistas, seguranças e polícias de várias unidades a empurrarem-se mutuamente.

À entrada da zona vedada, mais próximo do palco, Xanana Gusmão ergue as mãos enquanto segura uma espada tradicional e depois desce, pedindo calma a todos, beijando e saudando um público maravilhado e em festa.

Depois volta a fazer o mesmo dentro do recinto, sempre cercado por um enxame de jornalistas e seguranças, até à tribuna de honra onde os cumprimentos e abraços mais demorados são para os veteranos, colegas de armas na luta contra a ocupação indonésia.

Sobe ao palco pela primeira vez e antes das palavras de ordem, depois da oração e dos hinos de Timor-Leste e do partido, Xanana Gusmão pega no microfone e diz que se vai falar do "futuro que pertence ao povo".

Na véspera do fim da campanha, saúda o ambiente "de liberdade e democracia, sem violência política em que se respeitam as diferenças" com que os timorenses debatem hoje em quem votarão no sábado.

É difícil avaliar exatamente quantos militantes e apoiantes do CNRT estavam em Tasi Tolo. O palco foi montado no centro do recinto da zona - no mesmo espaço onde no dia 20 de maio tomou posse o Presidente da República - e o calor afastou muitos para as sombras das árvores próximas.

Na prática era como se o comício se esticasse desde a margem das três lagoas salgadas que dão nome ao local - por trás do palco - até às árvores mais próximas da estrada que permite sair de Díli para oeste e depois, saltando essa via, no descampado junto ao mar.

Muitos dos jovens ficaram em grupos, encostados às motas ou aos carros, ou empoleirados nas 'angunas', as camionetas amarelas que se tornam elemento essencial de qualquer ação de campanha.

Uma hora depois de Xanana Gusmão chegar ao local - e duas depois da festa começar e ainda havia uma longa fila de veículos a tentar chegar a Tasi Tolo, com a polícia a tentar controlar as motas que com bandeiras serpenteavam entre o lento trânsito.

Veículos que, um pouco por toda a cidade, se tinham visto desde a manhã, passeando em maiores ou menores caravanas antes de se começarem a movimentar para Tasi Tolo.

Entre os líderes do CNRT há "confiança moderada", como comentou um dos responsáveis que estava na tribuna de honra.

Instado a explicar o que quer dizer "confiança moderada", num cenário em que a maioria absoluta seriam 33 dos 65 lugares, o líder diz enfaticamente: "moderado seriam 35 a 37".

Os votos contam-se a partir das 15:00 de sábado (07:00 em Lisboa) quando fecham as urnas, que começaram oito horas antes a receber os votos.

SAPO TL com Lusa

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