Por
António Sampaio
O
mais inesperado no comício de encerramento da campanha do CNRT para as
legislativas de sábado em Timor-Leste foi, antes do 'show' Xanana Gusmão, ouvir
nas colunas em Tasi Tolo, um "ó malhão, malhão" e a voz de Amália.
Já
se tinham ensaiado os "Vota CNRT", ouvido o "tebe-dai" e
outros temas cantados por cinco artistas 'pop' timorenses - o animador foi o
famoso Anito Matos -, mas não se esperava o clássico popular português a fazer
dançar euforicamente tantos jovens timorenses.
No
palco, um grupo de roda, doze jovens, eles e elas de camisa branca, eles com
meias brancas sobre as calças pretas até ao joelho e elas de saia rodada azul -
a mesma cor do lenço.
Ao
seu lado, recordando os guerreiros tradicionais, vários jovens rodavam sobre si
próprios, em tronco nu, com um lenço e penas na cabeça e 'tais' (pano
tradicional) à cintura, mas com a espada que normalmente trazem na mão, trocada
neste caso por bandeiras do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense
(CNRT).
No
público, jovens acompanhavam, a dançar em euforia o "vira" e a voz da
fadista mais conhecida de Portugal, com saltos e "CNRT" a compasso.
A
crescente sofisticação das campanhas em Timor-Leste evidenciava-se no que foi
montado em Tasi Tolo: um palco com uma passadeira em forma de 7 - o número do
partido no boletim de voto - dois grandes balões quadrados, um com a foto do
Xanana e a mensagem "avançar para o futuro com confiança".
No
outro, quatro mensagens: paz e estabilidade, desenvolvimento, unidade nacional
e economia, e depois sete mais pequenos, azuis, brancos e verdes (as cores do
CNRT) com a foto de Xanana.
Estava
montado o cenário para a chegada da estrela da tarde, Xanana Gusmão, 71 anos,
que com o comício de hoje completou 20 em menos de um mês, percorrendo todos os
13 municípios do país.
Rodeado
por uma multidão que o acompanhou desde a entrada no recinto, Xanana Gusmão
chegou num jipe descapotável, e todas as atenções se voltaram para si, com
jornalistas, seguranças e polícias de várias unidades a empurrarem-se
mutuamente.
À
entrada da zona vedada, mais próximo do palco, Xanana Gusmão ergue as mãos
enquanto segura uma espada tradicional e depois desce, pedindo calma a todos,
beijando e saudando um público maravilhado e em festa.
Depois
volta a fazer o mesmo dentro do recinto, sempre cercado por um enxame de
jornalistas e seguranças, até à tribuna de honra onde os cumprimentos e abraços
mais demorados são para os veteranos, colegas de armas na luta contra a
ocupação indonésia.
Sobe
ao palco pela primeira vez e antes das palavras de ordem, depois da oração e
dos hinos de Timor-Leste e do partido, Xanana Gusmão pega no microfone e diz
que se vai falar do "futuro que pertence ao povo".
Na
véspera do fim da campanha, saúda o ambiente "de liberdade e democracia,
sem violência política em que se respeitam as diferenças" com que os
timorenses debatem hoje em quem votarão no sábado.
É
difícil avaliar exatamente quantos militantes e apoiantes do CNRT estavam em
Tasi Tolo. O palco foi montado no centro do recinto da zona - no mesmo espaço
onde no dia 20 de maio tomou posse o Presidente da República - e o calor
afastou muitos para as sombras das árvores próximas.
Na
prática era como se o comício se esticasse desde a margem das três lagoas
salgadas que dão nome ao local - por trás do palco - até às árvores mais
próximas da estrada que permite sair de Díli para oeste e depois, saltando essa
via, no descampado junto ao mar.
Muitos
dos jovens ficaram em grupos, encostados às motas ou aos carros, ou
empoleirados nas 'angunas', as camionetas amarelas que se tornam elemento
essencial de qualquer ação de campanha.
Uma
hora depois de Xanana Gusmão chegar ao local - e duas depois da festa começar e
ainda havia uma longa fila de veículos a tentar chegar a Tasi Tolo, com a
polícia a tentar controlar as motas que com bandeiras serpenteavam entre o
lento trânsito.
Veículos
que, um pouco por toda a cidade, se tinham visto desde a manhã, passeando em
maiores ou menores caravanas antes de se começarem a movimentar para Tasi Tolo.
Entre
os líderes do CNRT há "confiança moderada", como comentou um dos
responsáveis que estava na tribuna de honra.
Instado
a explicar o que quer dizer "confiança moderada", num cenário em que
a maioria absoluta seriam 33 dos 65 lugares, o líder diz enfaticamente:
"moderado seriam 35 a 37".
Os
votos contam-se a partir das 15:00 de sábado (07:00 em Lisboa) quando fecham as
urnas, que começaram oito horas antes a receber os votos.
SAPO
TL com Lusa
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