Díli, 29 nov (Lusa) - A ministra
da Educação timorense rejeitou hoje que o projeto piloto de recurso a línguas
locais maternas como línguas de ensino e instrução cause divisões no país,
sendo ainda cedo para determinar o seu nível de sucesso.
"Valorizar a cultura e
identidade dos cidadãos não provoca divisão, mas antes a valorização de todos e
a valorização de uns pelos outros. Portanto, não acredito que este projeto vá
criar divisões na sociedade. O caminho a percorrer é diferente, mas o resultado
esperado é o mesmo", afirmou Dulce Soares em entrevista, por escrito, à
Lusa.
"Queremos preparar crianças
capazes de, no futuro, serem cidadãos ativos na sociedade, capazes de pensar e
analisar e com o domínio das duas línguas oficiais do país. Todos começam no
mesmo patamar, uns fazem um percurso e outros fazem outro, mas têm de atingir
ao mesmo tempo o mesmo objetivo", sustentou.
A ministra lembrou que a própria
constituição defende a valorização das línguas nacionais e que "não há
nenhum país que tenham valorizado as línguas locais e que isso tenha conduzido
à divisão do país".
Dulce Soares concedeu uma
entrevista à Lusa para analisar alguns dos aspetos relacionados com o trabalho
do seu Ministério, com destaque para questões curriculares, de língua e de
recursos educativos.
Entre as medidas polémicas do
Governo conta-se um projeto piloto introduzido em dez das mais de 1.700 escolas
do país onde é usada, em cada uma, a língua nacional materna dos seus alunos
como língua de ensino e instrução.
Na prática, explicou, trata-se de
um projeto para perceber as vantagens e desvantagens de um processo de
progressão linguística "da língua nacional para a língua tétum e depois
para a língua portuguesa".
"Apesar de o ensino de uma
língua e das outras áreas disciplinares ser feito inicialmente na língua
primária do aluno, no final do 6.º ano estas crianças terão de ter uma forte
base de literacia nas duas línguas oficiais, tétum e português, tal como as
restantes crianças que fazem um percurso escolar regular", adiantou.
"Nas escolas do 1.º e 2.º
ciclo que seguem o currículo nacional, as línguas nacionais podem ser usadas
apenas como apoio ou facilitadoras do processo de ensino-aprendizagem, quando
necessário, para assegurar a igualdade de todos no direito a aprender e apenas
nos primeiros anos de escolaridade", acrescentou.
Dulce Soares - que foi
vice-ministra da Educação no VI Governo e tutela a pasta no atual VIII Governo
- explicou que, no caso deste projeto piloto, foram produzidos materiais
didáticos nas línguas oficiais e dada formação aos professores para os poderem aplicar,
com o seu desempenho "também avaliado por falantes da respetiva
língua".
A governante rejeitou as
conclusões de um relatório de maio desde ano, produzido pelo Ministério da
Educação do VII Governo, que considera que o projeto "não está a obter o
sucesso esperado junto das comunidades locais".
No documento refere-se que os
professores dizem que a sua implementação "agrava o sentimento de
exclusão" face a outras escolas e ao resto do país e que o método é
"confuso e sem repercussões positivas no futuro académico dos
alunos".
"Para podermos proceder a
uma análise aprofundada e que permita concluir sobre os índices de sucesso e as
repercussões positivas no futuro académico dos alunos que estudam nessas dez
escolas que integram o programa-piloto, devemos realizar testes e usar outros
instrumentos válidos para determinar o nível de aprendizagem escolar",
afirmou.
Em contrapartida, Dulce Soares
citou um relatório de outubro de 2016, sobre o mesmo projeto, que aponta dados
positivos, incluindo "fortes ganhos de desempenho" que acelera o
desenvolvimento académico das crianças.
"Concordo com o que é
expresso no relatório de maio de 2018, de que alguns professores e dirigentes
podem partilhar do 'sentimento de exclusão' face a outras escolas e ao resto do
país", fundamentou.
"Por isso, quando tomei
posse determinei ser necessário aprovar formalmente o programa-piloto da língua
materna, pois é importante regular este programa, assim como os outros
programas, como o programa do CAFE, alimentação escolar, entre outros",
concluiu.
ASP // JMC
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