Abu Dhabi, 11 jan (Lusa) - O
representante timorense para o Mar de Timor, Xanana Gusmão, disse hoje que os
investimentos no consórcio do Greater Sunrise são um passo no desenvolvimento
de uma indústria petrolífera nacional e, posteriormente, na diversificação
económica.
"Timor-Leste reconhece que a
diversificação de uma economia baseada em recursos é a maneira mais sensata de
resolver problemas potenciais associados à dependência de recursos", disse
Xanana Gusmão, que falava em
Abu Dhabi , nos Emiratos Árabes Unidos, num encontro especial
fechado com líderes mundiais do setor da energia, no primeiro dia do Fórum de
Energia Global do Conselho Atlântico.
"Também reconhecemos que não
existe uma fórmula mágica sobre como alcançar rapidamente a diversificação - fomentar
a diversificação é um processo de longo prazo", considerou, segundo o
discurso enviado à Lusa.
"Timor-Leste reconhece que a
diversificação de uma economia baseada em recursos é a maneira mais sensata de
resolver problemas potenciais associados à dependência de recursos. Também
reconhecemos que não existe uma fórmula mágica sobre como alcançar rapidamente
a diversificação - fomentar a diversificação é um processo de longo
prazo", afirmou.
Xanana Gusmão, que deverá voltar
a intervir num dos painéis de debate do encontro no sábado, admitiu que em
países em desenvolvimento "a chamada 'maldição dos recursos' pode resultar
em Estados falhados, estagnação económica e corrupção", mas que cabe aos
líderes decidir que rumo querem para o país.
"Eu já vi muita coisa na
minha vida para me tornar um prisioneiro da ideia da 'maldição dos recursos'.
Não há resultados inevitáveis na vida, ou na vida das nações", afirmou.
"É a liderança que decide se
os recursos serão uma maldição ou um rumo para um futuro próspero. Infelizmente,
em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, ainda existem muitos
obstáculos políticos, especialmente o ego demonstrado por líderes políticos que
impedem um processo suave em direção à democracia e, consequentemente, ao
desenvolvimento do povo e das suas nações", considerou.
O ex-Presidente e
ex-primeiro-ministro de Timor-Leste referiu-se ainda aos acordos do final ano
passado para a compra das participações da ConocoPhillips e da Shell no
consórcio do Greater Sunrise, por um valor total de 650 milhões de dólares (565
milhões de euros).
Xanana reiterou que os
investimentos "representam um passo importante" para "trazer um
gasoduto para Timor-Leste" e construir a indústria petrolífera do país.
"Isto é fundamental para
garantir que os empregos e as indústrias que vêm dos recursos de Timor-Leste,
permaneçam em Timor-Leste - nas nossas costas e para o nosso povo",
afirmou.
Trata-se de uma decisão polémica,
que tem dividido a opinião pública em Timor-Leste, levando a alterações à lei
das atividades petrolíferas que foram aprovadas pela maioria do Governo no
parlamento, vetadas pelo Presidente e novamente aprovadas pelas bancadas do
executivo, esta semana, numa sessão boicotada pelo partido com maior assento
parlamentar, a Fretilin (na oposição).
As compras estão igualmente
inscritas no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 -- que por isso se torna
o mais elevado da história de Timor-Leste, e que está atualmente a ser
analisado pelo Presidente da República.
A compra das participações da
ConocoPhillips e da Shell garantem "uma maioria do Greater Sunrise, um dos
maiores campos de gás no Sudeste Asiático", disse ainda Xanana Gusmão, e
asseguram que "70% da receita flui" para Timor-Leste, sendo essencial
aproveitá-las de forma a garantir o futuro do país.
"Com as questões de
propriedade e jurisdição sobre os recursos resolvidas, podemos avançar com o
plano de desenvolvimento para a sua exploração", frisou.
O também responsável do Gabinete
de Fronteiras Marítimas disse que os recursos naturais são a "base para
uma economia diversificada", o que exige "planeamento a longo-prazo e
instituições eficazes que respondam às necessidades das pessoas que precisam
delas".
Central a esse processo,
recordou, está o Fundo Petrolífero -- que nasceu em 2005 com 205 milhões de dólares
(178 milhões de euros), tem financiado o Estado desde então e tem hoje um saldo
de cerca-a de 17.200 milhões de dólares (14.915 milhões de euros).
"Estamos determinados a ter
sucesso. Nós assegurámos a paz e estamos a consolidar o nosso Estado. Construímos
um país livre e democrático, com uma economia aberta e o respeito pelo primado
do direito e pela dignidade humana do nosso povo", disse.
ASP // PVJ
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