sábado, 12 de janeiro de 2019

Investimentos no Mar de Timor são passo para diversificação económica -- Xanana


Abu Dhabi, 11 jan (Lusa) - O representante timorense para o Mar de Timor, Xanana Gusmão, disse hoje que os investimentos no consórcio do Greater Sunrise são um passo no desenvolvimento de uma indústria petrolífera nacional e, posteriormente, na diversificação económica.

"Timor-Leste reconhece que a diversificação de uma economia baseada em recursos é a maneira mais sensata de resolver problemas potenciais associados à dependência de recursos", disse Xanana Gusmão, que falava em Abu Dhabi, nos Emiratos Árabes Unidos, num encontro especial fechado com líderes mundiais do setor da energia, no primeiro dia do Fórum de Energia Global do Conselho Atlântico.

"Também reconhecemos que não existe uma fórmula mágica sobre como alcançar rapidamente a diversificação - fomentar a diversificação é um processo de longo prazo", considerou, segundo o discurso enviado à Lusa.

"Timor-Leste reconhece que a diversificação de uma economia baseada em recursos é a maneira mais sensata de resolver problemas potenciais associados à dependência de recursos. Também reconhecemos que não existe uma fórmula mágica sobre como alcançar rapidamente a diversificação - fomentar a diversificação é um processo de longo prazo", afirmou.

Xanana Gusmão, que deverá voltar a intervir num dos painéis de debate do encontro no sábado, admitiu que em países em desenvolvimento "a chamada 'maldição dos recursos' pode resultar em Estados falhados, estagnação económica e corrupção", mas que cabe aos líderes decidir que rumo querem para o país.

"Eu já vi muita coisa na minha vida para me tornar um prisioneiro da ideia da 'maldição dos recursos'. Não há resultados inevitáveis na vida, ou na vida das nações", afirmou.

"É a liderança que decide se os recursos serão uma maldição ou um rumo para um futuro próspero. Infelizmente, em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, ainda existem muitos obstáculos políticos, especialmente o ego demonstrado por líderes políticos que impedem um processo suave em direção à democracia e, consequentemente, ao desenvolvimento do povo e das suas nações", considerou.

O ex-Presidente e ex-primeiro-ministro de Timor-Leste referiu-se ainda aos acordos do final ano passado para a compra das participações da ConocoPhillips e da Shell no consórcio do Greater Sunrise, por um valor total de 650 milhões de dólares (565 milhões de euros).

Xanana reiterou que os investimentos "representam um passo importante" para "trazer um gasoduto para Timor-Leste" e construir a indústria petrolífera do país.

"Isto é fundamental para garantir que os empregos e as indústrias que vêm dos recursos de Timor-Leste, permaneçam em Timor-Leste - nas nossas costas e para o nosso povo", afirmou.

Trata-se de uma decisão polémica, que tem dividido a opinião pública em Timor-Leste, levando a alterações à lei das atividades petrolíferas que foram aprovadas pela maioria do Governo no parlamento, vetadas pelo Presidente e novamente aprovadas pelas bancadas do executivo, esta semana, numa sessão boicotada pelo partido com maior assento parlamentar, a Fretilin (na oposição).

As compras estão igualmente inscritas no Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2019 -- que por isso se torna o mais elevado da história de Timor-Leste, e que está atualmente a ser analisado pelo Presidente da República.

A compra das participações da ConocoPhillips e da Shell garantem "uma maioria do Greater Sunrise, um dos maiores campos de gás no Sudeste Asiático", disse ainda Xanana Gusmão, e asseguram que "70% da receita flui" para Timor-Leste, sendo essencial aproveitá-las de forma a garantir o futuro do país.

"Com as questões de propriedade e jurisdição sobre os recursos resolvidas, podemos avançar com o plano de desenvolvimento para a sua exploração", frisou.

O também responsável do Gabinete de Fronteiras Marítimas disse que os recursos naturais são a "base para uma economia diversificada", o que exige "planeamento a longo-prazo e instituições eficazes que respondam às necessidades das pessoas que precisam delas".

Central a esse processo, recordou, está o Fundo Petrolífero -- que nasceu em 2005 com 205 milhões de dólares (178 milhões de euros), tem financiado o Estado desde então e tem hoje um saldo de cerca-a de 17.200 milhões de dólares (14.915 milhões de euros).

"Estamos determinados a ter sucesso. Nós assegurámos a paz e estamos a consolidar o nosso Estado. Construímos um país livre e democrático, com uma economia aberta e o respeito pelo primado do direito e pela dignidade humana do nosso povo", disse.

ASP // PVJ

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