Jacarta, 06 mai 2019 (Lusa) -- O
260.º edifício a ser considerado património cultural de Jacarta é um imóvel
português, construído em 1937, comprado pelo Estado em 1952 para acolher a
embaixada na capital indonésia e que esteve abandonado quase três décadas.
A sua recuperação foi organizada
por Ana Gomes, a primeira embaixadora de Portugal em Jacarta, que depois de 24
anos de relações cortadas devido à questão de Timor-Leste, abriu a secção de
interesses em Jacarta, em 1999, e recuperou e reabilitou a embaixada que foi
reaberta em 2003.
"Na altura consegui apurar
que o [ministro dos Negócios Estranheiros indonésio] Ali Alatas nos tinha
defendido para que não ficássemos sem casa", contou à Lusa a agora
eurodeputada.
"Da mesma forma que a
família Suharto tinha conseguido confiscar várias casas em Mentang, tinha
intenção de ficar com a nossa casa. E o Alatas nunca deixou: esta casa é dos
portugueses e eles, um dia, irão voltar", contou.
A casa está localizada na Jalan
Indramayu, no bairro de Menteng, uma das zonas residenciais mais exclusivas de
Jacarta, a duas ruas da famosa praça com o Monumento Selamat Datang (de boas
vindas), uma das mais conhecidas da capital.
Comprada inicialmente para
acolher tanto a embaixada como a residência oficial, a casa ficou abandonada
depois da saída do último diplomata português, em 11 de dezembro de 1975,
quatro dias depois da invasão indonésia de Timor-Leste.
Ana Gomes referiu que um dos seus
objetivos quando chegou a Jacarta foi tentar saber sobre o estado da casa,
explicando que inicialmente, os contactos não tiveram êxito, com dúvidas sobre
a localização do imóvel ou o seu estado.
Acabou por ser o antigo
embaixador Melo Gouveia -- que tinha vivido na casa, onde foi encarregado de
negócios, nos anos 1970 -- a dar mais informação, incluindo "umas
fotocópias pouco claras de fotos antigas".
"Várias vezes andámos a
procurar no bairro. Havia casas parecidas e até entrámos no quintal de uma para
ver se era", recorda, explicando que acabou por ser a chanceler, Alexandra
Costa, a conseguir identificar a casa e, posteriormente, a conseguir até obter
a chave.
"Fomos à casa que estava em
péssimo estado. O jardim era um matagal. Estava tudo ao abandono. Até havia lá
dentro um cofre forte, fechado, que tivemos que arrombar e que só tinha papeis
podres, sem importância", contou.
Tomou posse da casa e iniciou um
processo para a recuperação e reabilitação do imóvel, agora já só para servir
como embaixada.
"Arranjei um arquiteto
indonésio, que podia manter a casa com a traça original, mas com obras para
poder instalar a embaixada. Acompanhamos todo o processo e a casa ficou pronta.
Vim-me embora a dois meses da casa ser inaugurada", recordou.
Uma das obras mais importantes
foi trocar as tábuas do telhado por lâminas de cortiça que imitam o estilo
original da casa minimizando os riscos que o telhado antigo tinha.
A representação portuguesa em
Jacarta, que até janeiro de 2000 funcionou na Embaixada da Holanda,
posteriormente nas antigas instalações da Embaixada da Suécia, poderia
regressar a 'casa'.
Um espaço que, três anos depois
seria classificada pela Indonésia como património cultural, por ser um dos
vestígios dos contactos seculares entre os dois países.
A diretora dos Serviços Culturais
e Patrimoniais do Governo de Jacarta, Aurora Tambunan, e o embaixador de
Portugal em Jacarta, José Santos Braga, descerraram em fevereiro de 2006 duas
placas em que se justifica, em português e indonésio, as razões da
classificação.
Apesar de ter uma representação
diplomática em Jacarta desde as primeiras décadas do século 20, a primeira embaixadora
portuguesa no país foi Ana Gomes, que chefiou a secção de interesses aberta em
30 de janeiro de 1999 e reabriu a embaixada em 12 de julho de 2000.
Ana Gomes apresentou credenciais
a 18 de julho e ocuparia o cargo até 14 de abril de 2003, altura em que foi
substituída por José Santos Braga, embaixador em Jacarta até novembro de 2008.
Quatro meses depois assume
funções como embaixador Carlos Frota, que fica até junho de 2012, altura em que
é substituído durante quase um ano por Pedro Félix Coelho, encarregado de
negócios interino.
Joaquim Lemos assume funções como
embaixador em março de 2013 sendo substituído pelo atual titular do cargo, Rui
do Carmo, em novembro de 2016.
Os registos do Ministério dos
Negócios Estrangeiros indicam que o primeiro representante português em
Timor-Leste foi Vasco Vieira Garin, que esteve em missão especial até 1950,
seguindo-se 10 representantes, entre encarregados de negócios, ministros
plenipotenciários e até um cônsul geral, António Pinto da França.
Guilherme de Sousa Girão acabou
por ser o último diplomata em Jacarta antes da interrupção que durou 24 anos,
que começou quatro dias depois da invasão indonésia de Timor-Leste e duraria
até 30 de janeiro de 1999, quando Ana Gomes abre a secção de interesse.
ASP // VM
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