Camberra, 14 mai 2019 (Lusa) -
Economia e ambiente, mas também a perceção de um défice democrático no país,
são alguns dos temas dominantes na campanha para as eleições legislativas de
sábado na Austrália, nas quais se prevê uma mudança de Governo.
A perceção de uma crescente
desigualdade social -- os jovens têm cada vez mais dificuldades em aceder ao
mercado imobiliário ou a emancipar-se -, apesar dos sinais do fim da 'bolha'
imobiliária, é um dos assuntos em debate.
A economia é claramente um dos temas
centrais da campanha, com o país a mostrar sinais de desaceleração, uma dívida
privada galopante e, apesar da queda no desemprego, um aumento mínimo de
salários com perda do poder de compra.
De um lado está o ex-líder
sindical Bill Shorten, que assumiu as 'rédeas' dos Trabalhistas desde que
perderam o Governo em 2013 e que surgiu como uma força de união interna no
partido e de crescente penetração no eleitorado.
Do outro lado está o ex-ministro
do Tesouro, Scott Morrison -- terceiro líder dos Liberais em quatro anos -- e
que só assumiu a liderança do partido e do Governo de coligação depois do
derrube interno do seu antecessor, Malcolm Turnbull, que chegou ele próprio ao
poder após afastar Tony Abbott.
As sondagens antecipam que os
mais de 16 milhões de eleitores darão uma vitória a Shorten.
Do lado dos liberais, a campanha
assenta na promoção de várias promessas económicas, incluindo a de reduções de
impostos ao longo de seis anos e a defesa de indústrias tradicionais, incluindo
o carvão e minas.
Trata-se de uma plataforma
assente em valores conservadores nos temas sociais, incluindo limitar números
de refugiados e imigrantes.
Também Shorten tem divulgado um
programa com cortes de impostos, benefícios fiscais e mais gastos sociais,
especialmente para os cidadãos mais vulneráveis, com promessas de aumento do
salário mínimo.
Reduções em benefícios fiscais
para os investidores na bolsa e no setor imobiliário estão entre as promessas
dos trabalhistas que querem reduzir a crescente desigualdade geracional.
O partido defende ainda
estratégias para reduzir emissões com impacto no clima, mais benefícios para
energias alternativas e veículos elétricos.
Ao mesmo tempo, sondagens mostram
que são cada vez mais os australianos descontentes com a forma como a
democracia está a funcionar no país, especialmente depois de sucessivos
'golpes' internos pela liderança dos dois partidos.
Desde o fim do Governo de John
Howard, que esteve quase 4.300 dias como primeiro-ministro, que nenhum outro
terminou o mandato.
O trabalhista Kevin Rudd, que
venceu as eleições de 2007, foi substituído num golpe interno liderado por
Julia Gillard, em junho de 2010 -- que venceu as eleições de agosto de 2010,
mas que foi, ela própria, alvo de um desafio à liderança por Rudd em 2013.
A coligação venceu as
legislativas de setembro de 2013, mas Tony Abbott só durou dois anos como
primeiro-ministro, sendo substituído por Malcolm Turnbull que vence, com margem
mínima, as eleições de 2016, acabando por ser alvo de um 'golpe' interno em que
acaba substituído por Scott Morrison.
Estabilidade política é, por
isso, um assunto essencial no voto de sábado.
O clima é outros dos 'palcos' de
debate, com a coligação a insistir na agenda de combustíveis fósseis e minas, e
os trabalhistas a defenderem mais apostas em energias renováveis e uma redução
das emissões.
Os dados mostram que as
temperaturas na Austrália têm aumentado, especialmente nas últimas duas
décadas, com danos das alterações climáticas a sentirem-se em terra, mas também
no mar, provocando, por exemplo, graves danos à Grande Barreira do Coral.
Os níveis de imigração continuam
também a suscitar debate, com seis vezes mais imigrantes a entrarem no país
hoje do que sucedia 30 anos, apesar da redução no último ano, sendo que mais de
metade das pessoas inquiridas em sondagens considerem que os valores estão
demasiado altos.
(CORRIGE A DATA DAS ELEIÇÕES, QUE
DECORREM NO SÁBADO E NÃO NO DOMINGO)
ASP // JMC
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