Macau, China, 14 jul 2019 (Lusa)
-- A porta-voz da organização que tem liderado as manifestações em Hong Kong
afirmou em entrevista à Lusa que a mediatização dos protestos tem também
permitido ao território representar Macau e Taiwan perante a ameaça de Pequim.
"Acredito que muitos
cidadãos de Macau e de Taiwan apoiam os mesmos valores. Ao alertar o mundo
sobre o problema de Hong Kong, como que representamos também esses cidadãos de
Macau e de Taiwan porque estamos a enfrentar o mesmo Governo chinês, estamos a
enfrentar o mesmo tipo de perigos impostos por Pequim", sublinhou Bonnie
Leung, vice-coordenadora da Frente Civil de Direitos Humanos, que integra 15
organizações não-governamentais e movimentos políticos.
A ativista admitiu desconhecer
contactos diretos estabelecidos por grupos, mas confirmou a presença de
manifestantes desses dois territórios nos protestos em Hong Kong.
Bonnie Leung diferencia o caso de
Taiwan do de Macau, dizendo que na Ilha Formosa se vive em democracia, mas que
está a viver uma situação idêntica à de Hong Kong, "com muito dinheiro
[chinês] a ser injetado na economia, a tentar comprar mais influência,
sobretudo nos 'media'".
À semelhança de Hong Kong, Macau
é uma região administrativa especial administrada pela China. Já Taiwan reclama
a sua independência da China desde a guerra civil de 1949, mas é vista por
Pequim como uma província separatista.
Num momento em que passou mais de
um mês após os primeiros protestos por causa da lei da extradição, os
manifestantes adotaram novas estratégias, na rua, junto da opinião pública e da
comunidade internacional.
"Tivemos de mudar as nossas
táticas porque o lado pró-Pequim já começou a com uma campanha de falsa
informação", disse Bonnie Leung, admitindo que esta é também "uma
batalha pela opinião pública".
"Acreditamos que liberdade,
Estado de Direito e democracia são valores universais e podem fazer a sociedade
e o mundo melhor. O que estamos a tentar fazer é transportar estes conceitos
para a população da China", explicou.
Nas últimas semanas, grupos de
voluntários têm-se deslocado para zonas de Hong Kong nas quais se regista um
elevado fluxo de turistas chineses, com panfletos e cartazes.
"Queremos partilhar as
nossas ideias e explicar a estes turistas o que realmente está a acontecer em
Hong Kong, em vez de receberem a informação através dos canais oficiais
chineses", e apesar de toda a censura de Pequim sobre esta matéria, lembrou
a porta-voz da organização.
Há mais de um mês que Hong Kong é
palco de protestos maciços. O mais concorrido, segundo a organização, aconteceu
a 16 de junho, quando cerca de dois milhões de pessoas (mais de um terço da
população) saíram à rua para protestar contra a lei que permitiria a extradição
de suspeitos de crimes para jurisdições com as quais não existem acordos
prévios, como é o caso da China.
Dois dos protestos, a 12 de junho
e a 01 de julho, foram marcados por violentos confrontos entre manifestantes e
a polícia, que chegou a usar balsas de borracha, gás pimenta e gás
lacrimogéneo. A 01 de julho, os manifestantes invadiram mesmo o parlamento de
Hong Kong.
A chefe do Governo chegou a
suspender a discussão da lei e posteriormente a dar a legislação como "morta",
mas as declarações de Carrie Lam não convenceram os manifestantes.
JMC // FPA
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