Díli, 01 set 2020 (Lusa) -
Representantes das três bancadas do Governo no parlamento timorense
consideraram hoje "subversivos" os elementos de um movimento de
contestação ao Presidente da República, apesar de defenderem que a questão deve
ser resolvida pela polícia.
"Consideramos que a ação do
movimento é uma ação subversiva. Pretendem criar um ambiente de
desestabilização do país e provocar uma situação descontrolada", disse à
Lusa Francisco Branco, da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente
(Fretilin), maior partido no parlamento.
Francisco Branco e representantes
das bancadas do Partido Libertação Popular (PLP) e do Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO) contestaram hoje as ações do movimento Resistência
Nacional de Defesa da Justiça e Constituição de Timor-Leste, liderado por
Ângela Freitas e Antonio Aitan-Matak.
Em particular, Branco referiu-se
a um documento produzido pelo movimento e circulado publicamente, em que
ameaçam recorrer a grupos de artes marciais e até "forças dissidentes das
forças de defesa e da polícia armados".
"É um documento e uma ação
que pretende criar a desestabilização do Estado e do país", afirmou.
As três bancadas consideram que a
linguagem do documento é de "espírito subversivo" procurando
"obrigar o Presidente da República a resignar do cargo, sob ameaça".
Apesar da contestação à ação do
movimento, Francisco Branco disse discordar da decisão de envio hoje para as
imediações da sede do movimento de um grupo de militares, depois do comandante
das forças armadas ameaçar os dirigentes do grupo de prisão.
"Penso que o destacamento
dos militares não deveria ter sido feito. Esta é uma questão que deve ser controlada
pela polícia, que deu autorização para a manifestação [prevista para
sexta-feira], e não pelos militares", referiu.
O comando das forças armadas
timorenses destacou hoje um pequeno contingente de militares para a rua da sede
do movimento.
Os militares armados foram
destacados em três pontos da rua Água da Fonte, nas imediações do palácio do
Governo, onde fica a sede do Partido Trabalhista (PT), liderado por Ângela
Freitas, e que é sede do movimento.
"Se nesta ação pacífica do
grupo surgir algum crime, eu próprio vou levar as forças para prender toda a
liderança máxima que organizou esta ação. Eu vou mandar prender a Ângela e o
Aitahan Matak. Se eles querem destituir os 'katuas' [mais velhos] através de
uma manifestação, eu mando as forças atuarem e responsabilizo-me por responder em
tribunal e pelos direitos humanos", ameaçou Lere Anan Timur, comandante
das Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
Em declarações à Lusa, Ângela
Freitas disse que não iria para já à sede do partido, por estar em diálogo com
a polícia nacional e o Ministério Público pelo que considera ser "uma ação
de intimidação" do comandante militar.
"Ouvimos as declarações do
comandante Lere. Estas ameaças a um civil são um crime. Estamos num país
democrático e tenho todo o direito de expressar a minha insatisfação pelo que
considero serem violações à Constituição", disse à Lusa.
Ângela Freitas considerou que o
destacamento de militares em torno da sede do seu partido configura "um
comportamento de ditadura com forças militares, que é muito perigoso num país
democrático".
Francisco Branco admitiu que é
preciso "mais cuidado dos líderes militares nas declarações
políticas", admitindo que neste caso "pode ter havido algum
excesso" nos comentários de Lere Anan Timur.
"Temos que ver o outro lado
positivo dos comentários que é tentar evitar o mal maior, de
desestabilização", considerou.
ASP // VM
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