quarta-feira, 8 de abril de 2015

MISSÃO HUMANITÁRIA LEVA RASTREIO RENAL A TIMOR-LESTE



A realização de um programa de rastreios sobre os fatores de risco e prevenção primária de Doença Renal Crónica conta ainda com a doação do material clínico necessário.

Catarina Carvalho, nefrologista, realizou uma missão humanitária na área da saúde renal, em Timor-Leste, que lhe permitiu ficar com um excelente conhecimento acerca da situação no terreno e realizar várias ações em prol da saúde pública timorense.Com o apoio total e muito determinado da Diaverum desde o primeiro momento, Catarina participou na organização do primeiro curso de formação nesta área, assim como empreendeu rastreios sobre a Doença Renal Crónica em seis instituições e localidades do país, que chegaram a um total de cerca de 500 pessoas.

A missão humanitária teve uma duração de 3 meses – de Dezembro de 2014 a Fevereiro de 2015 – e teve início com uma apreciação acerca das condições existentes na Unidade de Diálise Hospital Nacional Guido Valadares, em Díli, a única no país. Esta Unidade dispõe de 7 postos de hemodiálise e de uma equipa clínica internacional constituída por indonésios e cubanos, apoiada por 10 enfermeiros timorenses. Catarina Carvalho encontrou “a unidade de hemodiálise com lotação esgotada e com dificuldade de resposta aos doentes renais crónicos em estadio terminal, o que exigia a reformulação do funcionamento da mesma”, de forma a dar uma resposta às necessidades dos doentes renais do país.

Acrescidamente, dada a importância da aposta na formação teórico-prática dos profissionais timorenses (médicos e enfermeiros em funções nesta Unidade), a nefrologista abraçou com entusiasmo a participação no primeiro Curso de Formação em Nefrologia e Métodos de Diálise lecionado em Timor-Leste, envolvendo-se ativamente na organização e implementação do mesmo e ficando responsável por um dos módulos a lecionar.

No seguimento desta formação, Catarina Carvalho liderou o projeto de reestruturação do funcionamento da Unidade de Diálise do Hospital Nacional Guido Valadares, criando condições para a abertura efetiva do turno noturno (18-22h), possibilitando assim o acesso ao tratamento de um maior número de doentes. Às iniciativas no principal hospital nacional timorense, seguiu-se a necessidade de ir ao encontro da população para sentir as suas necessidades reais. Catarina organizou rastreios em várias unidades de saúde com doação posterior de material clínico, para seguimento dos doentes identificados e incentivo ao diagnóstico precoce de novos doentes.

A realização de um programa de rastreios sobre os fatores de risco e prevenção primária de Doença Renal Crónica em vários pontos do país, teve o alto patrocínio da Diaverum, com a doação do material clínico necessário. Mais concretamente, Catarina Carvalho recebeu para desenvolver o seu projeto, medidores de tensão arterial e glicémia, coletores de urina, lancetas, tiras Combur e tiras glicemia, entre outro material essencial à realização dos vários rastreios.

A partir do dia 10 de fevereiro e durante vários dias os timorenses puderam ter um atendimento personalizado sobre a sua saúde renal em locais distintos como Tibar (distrito de Liquiçá, a cerca de 25km de Dili); o Hospital Nacional Guido Valadares (Consulta Externa); o Hospital de Baucau (2ª cidade de Timor-Leste, localizada a cerca de 120km de Díli e conhecida pela elevada incidência de litíase renal e DRC); o Centro de Saúde de Comoro, (Díli); o Centro de Saúde de Becora, (Díli) e o Centro de Saúde de Ataúro (ilha localizada ao largo de Díli). Todos os Todos os casos positivos foram orientados de acordo com os achados: Médico Geral/Centro de Saúde, Consulta de Medicina Interna ou Consulta de Nefrologia do Hospital Nacional Guido Valadares.

Uma Doença subdiagnosticada

A doença renal crónica (DRC) é um problema muito significativo em Timor-Leste, apresentando prevalência elevada, apesar de subdiagnosticada. As principais causas a apontar são a hipertensão arterial (prevalência também elevada e frequentemente não tratada ou mal controlada) e a uropatia obstrutiva por litíase renal cálcica (muito frequente na população timorense).

Estas são as principais conclusões da nefrologista, que teve uma preocupação acrescida com o legado da sua missão humanitária. Durante o seu programa de rastreios “verifiquei que não haveria forma posterior de seguir essas pessoas nos cuidados gerais, pois seria impraticável encaminhar todas as pessoas em risco para o Hospital Nacional, dada a falta de recursos por nós considerados básicos, como medidores de glicemia capilar ou tiras-teste para análise de urina”.

Dadas as circunstâncias, a médica arregaçou mais uma vez as mangas e pediu uma doação de material clínico, que foi prontamente validada pela Diaverum.

De forma a dotar os centros clínicos de uma maior capacidade de resposta às necessidades dos doentes renais crónicos, a Diaverum decidiu doar material às seguintes unidades de saúde: Hospital de Maliana, Centro de Saúde de Comoro, (Díli), Centro de Saúde de Ataúro e Hospital Nacional Guido Valadares. Durante os rastreios realizados nessas unidades, Catarina Carvalho teve a preocupação de envolver sempre um ou dois elementos clínicos timorenses (médico ou enfermeiro) para que houvesse continuidade na avaliação de factores de risco da população. Foi evidente a vontade e entusiasmo que os profissionais timorenses manifestaram no seguimento futuro dos doentes, propondo-se inclusivamente à realização futura de mini-campanhas de rastreio.

“Penso que isto foi um sinal de que a estratégia resultou e que deixaremos um legado que ultrapassará a nossa presença neste curto período. Com formação e alguma ajuda logística, podemos mudar o Mundo em pequenos grandes passos” afirma Catarina Carvalho.

Entre as dificuldades iniciais à chegada em Timor até à homenagem no Hospital nacional na hora da despedida, Catarina Carvalho leva na bagagem uma experiencia “fantástica” tanto a nível pessoal como profissional.

“Aprendi e cresci imenso como pessoa: com as dificuldades iniciais e a adaptação a uma realidade tão diferente da nossa, nomeadamente com um sistema de saúde tão frágil e deficitário. Fui recebida com imenso carinho, quer no hospital quer nas unidades periféricas, assim como entre a comunidade. As pessoas aderiram de uma forma entusiástica aos rastreios, coisa que eu não esperava. Em dois dos hospitais, os funcionários fizeram questão de ser também rastreados. E no final, mostravam-se surpreendidos com a quantidade de problemas diagnosticados de novo, o que os motiva para continuarem esta missão mesmo depois da nossa saída”, conta Catarina Carvalho.

STRAZZERA  / SAPO LIFESTYLE

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