quinta-feira, 9 de abril de 2015

Português como língua oficial é fundamental para afirmar identidade de Timor-Leste



Lisboa, 08 abr (Lusa) - A manutenção do português como língua oficial em Timor-Leste é fundamental para a identidade do território e "como forma de afirmação contra o 'lobby' do inglês e do indonésio", disse à Lusa o investigador timorense Luís Costa.

"Para o bem de Timor-Leste, para a afirmação da sua identidade nacional e da sua situação geoestratégica, ter o português como língua oficial afasta-o da Austrália e da Indonésia e liga-o à CPLP, logo à América, à África e à Europa", declarou à agência Lusa o autor de "Língua Tétum - Contributos para uma Gramática", livro que é apresentado hoje, pelas 18:00, na Embaixada da República Democrática de Timor-Leste, em Lisboa, por Margarita Correia, que trabalha com Luís Costa nas suas pesquisas na área da linguística.

Luís Costa acredita que "há uma vontade firme do Governo de Timor-Leste e dos próprios timorenses em que o português e o tétum se afirmem como línguas oficiais, ainda que isso leve o seu tempo e que deva ficar claro que o português de Timor-Leste não será como o de Portugal ou o do Brasil ou o de Angola, pois cada país tem o seu português".

"O tétum e o português vão caminhar lado a lado, vão-se reforçando, e o português vai-se afirmando cada vez mais em Timor-Leste conforme os seus termos técnicos integrarem o tétum", língua que, por seu lado, progredirá "à medida que o português se enraizar na sociedade timorense", explicou o docente de língua e cultura timorenses, a residir em Portugal há 30 anos.

O investigador reagiu ainda ao facto de o Parlamento Nacional timorense ter voltado a adiar, a 23 de março, desta vez por falta de quórum, o debate sobre os decretos dos currículos do pré-escolar e ensino básico, em que se privilegia o uso das línguas maternas como componente curricular, num modelo que introduz o tétum e o português, as duas línguas oficiais, de forma progressiva.

No caso do português, só começará a ser língua de instrução a partir da 4.ª classe, e o seu ensino terá apenas 25 minutos por semana no 1.º ano.

"Penso que o desenvolvimento de uma língua materna é importante, nomeadamente para as crianças poderem falar, mas, nesta fase da realidade de Timor, é mais relevante dar atenção às línguas oficiais, o português e o tétum, pois serão elas a afirmar a identidade do povo timorense. Se nos formos limitar às línguas maternas, vamos estar a dividir a nossa sociedade", considerou Luís Costa.

"Além disso, se as línguas timorenses são apenas de índole oral, como vamos fazer quando quisermos trabalhar o abstrato? Que termos vamos, então, usar? Teremos sempre de recorrer ao português", explicou à Lusa, sustentando que "o tétum e o português devem ser ensinados desde a instrução primária ou até pré-primária, para que as crianças as vão assimilando e conhecendo os termos, de modo a poderem exprimir-se mais cedo e a possuírem um bom domínio do português quando chegam a um nível de ensino mais avançado".

Foi esta preocupação com o domínio dos idiomas que levou Luís Costa a escrever "Língua Tétum - Contributos para uma Gramática", que resulta "de uma reflexão e uma recolha iniciadas há vários anos", mas que apenas agora, mediante apoios, sai do prelo, com a chancela das Edições Colibri.

"O objetivo da obra é facultar o meu próprio conhecimento da língua tétum para que ela, no futuro, possa ser uma língua de ensino. Até agora, a tradição do tétum é apenas oral, sem estruturas e, embora haja já um projeto ortográfico apresentado pelo Instituto Nacional de Linguística de Timor e aprovado pelo Parlamento, não há propostas sobre como desenvolver a língua", esclareceu, adiantando que o tétum tem de ser desenvolvido de modo a permitir "a abordagem de conceitos de âmbito científico, filosófico e antropológico".

Luís Costa é também autor do "Dicionário de Tétum-Português" (2000) e do "Guia de Conversação Português-Tétum" (2001), bem como organizador do volume "Borja da Costa - Selecção de poemas" (2010, em português e em tétum), de homenagem ao irmão, morto a 07 de dezembro de 1975, dia da invasão indonésia, tendo outras obras na gaveta, "à espera de tempo e de apoios" para serem publicadas.

HSF // EL

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