Díli,
10 abr (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Rui Maria Araújo, 'convenceu'
hoje um grupo de jornalistas a limpar uma valeta na montanha nos arredores de
Díli, um gesto 'simbólico' para mostrar a necessidade do envolvimento
comunitário na limpeza da cidade.
"Vamos
dar o exemplo. Ajudem aqui", disse, antes de ele próprio, com os efetivos
do corpo de segurança pessoal que o acompanham, saltar para a valeta para
retirar pedras caídas da montanha.
A
paragem, a caminho de Hera, na montanha que, a oriente, rodeia a grande baia de
Díli, marcou parte de uma manhã dedicada a avaliar a situação das estradas e
valetas da cidade, onde o lixo se acumula e, cada vez que chove, as inundações
se alastram.
Primeira
paragem nas traseiras do Palácio Presidencial Nicolau Lobato em Díli, na zona
do antigo heliporto, onde hoje de manhã dezenas de pessoas, máscaras brancas,
tentavam limpar o lixo da zona.
"A
nível da limpeza da cidade, o problema não está na vontade política ou na falta
de capacidade mas sim na falta de organização. Com a centralização do poder de
decisão sobre a limpeza das zonas urbanas dificultam ainda mais o processo de
mobilização da comunidade", explicou à Lusa durante a visita.
Num
edifício administrativo local próximo, Rui Araújo falava para vários
responsáveis locais e municipais, clarificando logo a abrir que hoje "não
é dia de diálogo mas de orientações".
E
as orientações são claras: a limpeza das ruas das cidades e vilas tem de ser
descentralizada, as comunidades têm que se envolver, a limpeza é uma questão de
saúde pública e cada um pode ajudar "ainda que seja a limpar à frente de
sua casa".
"Hoje
dei orientações claras para que a limpeza das áreas urbanas, das vilas, seja da
responsabilidade dos municípios. Os administradores dos municípios devem
mobilizar os administradores dos postos, estes mobilizar os chefes de suco e
finalmente os chefes de suco mobilizar a comunidade para a limpeza no espaço
residencial de cada um. E não ficar à espera que seja o estado a fazer isso
tudo", afirmou.
"É
uma questão de saúde pública. Devemos responsabilizar a comunidade",
afirmou.
Rui
Maria Araújo admite que, em Timor-Leste, há que fazer mais trabalho a montante,
tanto para explicar a dimensão cidadã do Estado como para informar melhor as
pessoas sobre o tratamento do lixo.
"Nesta
fase de construção do Estado as pessoas ainda veem o Estado como uma entidade
distante, a que as pessoas não pertencem. Como se o Estado fosse o Governo, os
ministros ou os funcionários públicos", disse à Lusa.
"Esse
conceito de o Estado 'somos todos' ainda está muito vago. Há esse problema de
participação", disse.
O
chefe do Governo insistiu que o Estado, através das obras públicas e dos
departamentos técnicos de água e saneamento, tem a responsabilidade de velar
pela manutenção dos esgotos principais, "para evitar que fiquem entupidos
e nas chuvadas provoquem inundações".
Mas
o trabalho tem que diário, de manutenção, porque, considera, "em 50% das
estradas principais do país poderia prevenir-se a destruição das estradas se as
valetas fossem mantidas regularmente".
"Estamos
a gastar muito dinheiro para a reparação contínua das estradas mas não há
atenção para a manutenção. E cada um poder ajudar e limpar à frente da sua
casa. Isso passa pela vontade de participar", afirmou.
"Os
chefes de suco devem mobilizar a comunidade e limpar as valetas à frente da sua
casa e não ficar à espera do Estado", sublinhou.
ASP
// JPS
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