O
ensino do português em Timor-Leste está a avançar lentamente e enfrenta
dificuldades a vários níveis, como a falta de adequação dos programas para o
ensino e a preparação dos professores, disseram à Lusa dois especialistas na
matéria.
“Certamente
há um avanço, mesmo que lento. Há dificuldades dos mais variados níveis”,
declararam à Lusa, por correio eletrónico, Suzani Cassiani e Irlan Von
Linsingen, que desde 2009 coordenam o Programa de Qualificação de Docentes e
Ensino de Língua Portuguesa em Timor-Leste (Brasil).
Suzani
Cassiani - bolsista num estágio pós-doutoral na Universidade de Coimbra - e
Irlan Von Linsingen disseram que, de acordo com o dicionarista e escritor
timorense Luís Costa, a evolução do ensino do português em Timor-Leste entre
2003 e 2014 foi pequena.
“Concordamos
com ele quando diz que vários programas (de ensino do português) não estão
adequados", afirmaram os dois professores e investigadores da Universidade
Federal de Santa Catarina (Brasil).
De
acordo com dados do Plano Nacional de Educação (timorense) de 2014, citado
pelos coordenadores, “mais de 75% dos professores não estão qualificados de
acordo com os níveis exigidos por lei. Também o currículo é inadequado para
lidar com as necessidades de desenvolvimento" de Timor-Leste.
“Segundo
dados do último censo de 2010, cerca de 17% a 25% dos timorenses falam
português. Noventa por cento da população utiliza o tétum diariamente, além de
outras línguas e 35% da população fala bahasa indonésio (principalmente nas
cidades)”, referiram.
Devido
à sua proibição durante a ocupação indonésia (1975-1999), quando as crianças
aprendiam bahasa indonésio na escola, o português foi um dos símbolos da
resistência dos timorenses, criando raízes para que hoje existam laços com os
demais países lusófonos, de acordo com os coordenadores.
“Ainda
há resistências de parcelas da população que consideram que o inglês ou o
indonésio devam ser línguas oficiais, seja pela proximidade, seja pela
facilidade, seja por questões políticas e económicas, enfim, uma parte
crescente fala inglês, um requisito para obter os empregos mais bem
remunerados, rumo aos negócios que vêm crescendo a cada ano no país”,
sublinharam.
Os
dois professores universitários disseram ainda que “há também os desafios de um
novo país na questão da gestão dos recursos, administração, entre outras, que
muitas vezes é precária”.
Segundo
os investigadores, numa recente entrevista, o primeiro-ministro timorense, Rui
Araújo, pediu ajuda aos Estados parceiros da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) para "colocar mais professores que falem português nas
escolas" e também "apostar no ensino do português na função
pública".
Os
dois coordenadores referiram que “a incorporação do português é uma questão de
tempo e o convívio com as outras línguas é extremamente importante”,
assinalando que a língua portuguesa tem de estabelecer uma "parceria"
com o tétum.
“Os
timorenses são plurilíngues e muitos falam até mais do que quatro línguas,
mesmo que no momento pareça um pouco caótico. O ambiente plurilíngue é
complexo, mas essa convivência é possível”, acrescentaram.
“Concordamos
com o primeiro-ministro, quando fala que as escolas timorenses precisam ter
professores de português, que contribuam com a formação de professores
timorenses. Pensamos que é preciso trabalhar com esses professores, ensinando a
língua portuguesa e os conteúdos em português (para as disciplinas específicas
como as de ciências da natureza)”, referiram.
Para
os coordenadores, “alguns fatores precisam ser repensados no que se refere a
qualidade do ensino/aprendizagem da língua portuguesa pelas cooperações”.
“Entre
esses fatores estão o aumento do número de docentes e intensificar a formação
por meio de cursos que integram a língua portuguesa com outras áreas de
conhecimento; e investir no tempo de formação e em ambientes linguísticos
apropriados” acrescentaram.
“É
preciso investir em material de leitura, numa televisão educativa (...) e é
importante investir mais no campo da pesquisa científica e apostar na
capacidade dos timorenses em produzir conhecimento adequado ao seu contexto”,
assinalaram, entre outros fatores.
O
Programa de Qualificação de Docentes e Ensino de Língua Portuguesa em
Timor-Leste foi criado em 2005 e envia, anualmente, o envio de 50 professores
brasileiros de diversas áreas do conhecimento para Timor-Leste.
De
acordo com os académicos, cabe à coordenação do programa - iniciativa apoiada
por várias instituições públicas brasileiras - selecionar, preparar,
acompanhar, orientar e avaliar o trabalho dos cooperantes brasileiros durante
os meses ou anos que trabalham em Timor-Leste.
SAPO TL com
Lusa
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