domingo, 6 de dezembro de 2015

Voos de longo curso "bem-vindos" a Macau, mas difíceis de atrair


Macau, China, 06 dez (Lusa) -- Duas décadas após a inauguração do aeroporto de Macau, só a TAP realizou voos de longo curso de e para o território, mas apenas durante 30 meses, uma realidade que o diretor da infraestrutura disse ser difícil inverter.

"Quisemos atrair voos internacionais [de longo curso] mas é muito difícil, normalmente [as companhias] têm tendência para procurar 'placas giratórias' regionais capazes de gerar tráfico para rentabilizar as rotas. Não é o nosso caso, somos um aeroporto muito pequeno. Os voos de longo curso são bem-vindos, mas não temos tido grande sucesso", disse o diretor do Aeroporto Internacional de Macau, António Barros, em entrevista à Lusa.

"Já houve e tem havido contactos com vários destinos e agências, estudos de mercado, mas o transporte aéreo é um negócio e ninguém vai operar se não tiver lucros", acrescentou.

Ainda assim, o diretor do aeroporto, inaugurado a 08 de dezembro de 1995, disse acreditar que "com um bom estudo de mercado e uma boa política de marketing" seria possível a TAP regressar à região, onde operou até 1998, abandonando a rota por falta de rentabilidade.

Nos anos 1990, quando Portugal projetava a sua grande obra e o legado que deixaria antes da transferência de Macau para a China, eram muitas as expetativas, mas também as dúvidas.

Acreditava-se que o aeroporto seria indispensável para assegurar uma certa autonomia de Macau e, além desse valor estratégico, era apresentado como uma alternativa a Hong Kong, onde o aeroporto Kai Tak estava saturado -- o novo, o Chek Lap Kok, só foi inaugurado em 1998.

Mas também havia céticos e, em 1992, companhias aéreas regionais mostravam-se pessimistas quanto à viabilidade do aeroporto, tendo em conta, além de Hong Kong, a existência do aeroporto de Cantão e de outro projetado para Shenzhen, a que mais tarde se juntou o de Zhuhai.

Para António Barros, a realidade veio contradizer as duas leituras. Com o terminal do aeroporto prestes a atingir o seu limite de seis milhões de passageiros, o diretor não tem dúvidas de que foi "uma aposta acertada".

"Quando cheguei a Macau havia muita gente cética sobre o aeroporto. Penso que todos os que acharam que ia ser viável acertaram na previsão", defendeu.

No entanto, Hong Kong não é, nem nunca foi, visto como concorrência: "Algumas 'low cost' preferem operar em Macau, mas Hong Kong é uma plataforma giratória, um 'hub' internacional. Temos um posicionamento diferente no mercado", afirmou.

António Barros admitiu que o aeroporto de Macau tem hoje, sobretudo, um foco regional, mas rejeitou o entendimento do antigo diretor José Carlos Angeja de que acabaria por desaparecer com o avançar da integração regional, ideia que defendeu numa entrevista à Lusa em 2011.

"O tráfego e o crescimento que o aeroporto tem tido dizem precisamente o contrário, que este aeroporto é um bem público muito importante para a economia de Macau e é possível que chegue a operar 15 milhões de passageiros num futuro próximo, em cerca de 15 anos", afirmou.

"Como sabemos que vamos atingir os seis milhões [de passageiros] e o aeroporto vai ficar muito congestionado, começou-se o projeto de expansão do terminal e espera-se que as obras terminem em 2017. Vai permitir aumentar a capacidade para 7,4 a 7,8 milhões", explicou.

O diretor do aeroporto prevê que este ano a estrutura volte a atingir o valor recorde de passageiros que conseguiu em 2007: 5,5 milhões. Isto significa que Macau demorou oito anos a recuperar do início dos voos diretos entre a China e Taiwan, ferindo o grande mercado da cidade.

Segundo Barros, em 2008, ano em que essa ligação começou, o aeroporto sofreu uma quebra de 7,3% no volume de passageiros. Em 2009 a descida foi de 16,6%, em 2010 baixou para 4% e em 2011 foi 0,8%. Desde então, tem subido.

Para o diretor, foi a introdução das companhias de baixo custo, em 2004, que impediu que o golpe fosse mais duro.

Agora, o aeroporto, que conta com duas dezenas de ligações à China, três a Taiwan e 16 ao sudeste asiático, depois de já ter até tido ligações à Coreia do Norte, olha para os voos de médio curso, para destinos como a Indonésia ou a Índia.

ISG //

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