sábado, 5 de novembro de 2016

Violentos confrontos entre polícia e manifestantes islamitas em Jacarta


Jacarta, 04 nov (Lusa) -- Uma manifestação com dezenas de milhares de islamitas hoje, em Jacarta, contra o governador da capital, acusado de blasfémia, terminou em violentos confrontos entre a polícia antimotim e participantes que se recusavam a abandonar o local.

A polícia lançou granadas de gás lacrimogéneo e usou canhões de água para dispersar alguns milhares de irredutíveis, incluindo aqueles que incendiaram dois veículos da polícia ao fim da tarde, noticiou a agência de notícias francesa, AFP, no local.

Registaram-se cenários de caos junto ao palácio presidencial, no final do protesto convocado pela Frente dos Defensores do Islão (FPI) e anunciado como pacífico.

A FPI acusa o governador de Jacarta, Basuki Tjahaja Purnama, um cristão de origem chinesa, de ter recentemente insultado o Islão.

Cerca de 50.000 pessoas, segundo a polícia, desfilaram pela capital após a oração de sexta-feira, e a maioria dispersou antes do fim da manifestação autorizada até às 18:00 locais (11:00 em Lisboa).

Mas quando anoiteceu, alguns milhares de radicais começaram a atacar a polícia.

Cerca de 18.000 polícias e militares foram mobilizados para conter qualquer risco de descontrolo, ao mesmo tempo que foram emitidos apelos para a vigilância por várias embaixadas instaladas na capital indonésia.

O governador, conhecido pelo seu modo franco de falar, é acusado de blasfémia contra o Islão, numa declaração feita no final de setembro, em que classificou como errada a interpretação de alguns ulemas (teólogos muçulmanos) de um versículo do Alcorão, segundo a qual um muçulmano só deve eleger um dirigente muçulmano.

Perante a dimensão tomada pela polémica, alimentada por fundamentalistas islâmicos, o governador, alcunhado como Ahok, apresentou publicamente um pedido de desculpas.

Mas a ira de alguns grupos radicais, como o FPI -- grupo islâmico radical que tem muitos adeptos na Indonésia -- não diminuiu. Uma anterior manifestação tinha já concentrado cerca de 10.000 participantes, a 14 de outubro, em Jacarta, contra o governador candidato à reeleição em fevereiro próximo.

Ahok, que sucedeu no final de 2014 ao atual Presidente indonésio, Joko Widodo, na governação da cidade, é uma figura que goza de grande popularidade junto da opinião pública.

É apreciado pela sua eficácia na gestão da capital de 10 milhões de habitantes, com trânsito congestionado, onde as obras eram muitas vezes atrasadas devido a uma burocracia pesada e à corrupção.

Mas o seu temperamento intempestivo, pouco habitual em políticos na Indonésia, atraiu inimizades. Grupos islâmicos radicais tentaram impedir a sua nomeação em 2014.

ANC // VM

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