Há
muitas visitas à Terra Santa mas a economia palestiniana pouco beneficia disso
A
presidente da Câmara de Belém, Vera Babun, é daquelas pessoas que, apesar das
dificuldades, continuam a irradiar energia e otimismo. É senhora de si mesma.
Viúva e mãe de cinco filhos, tornou-se a primeira palestiniana a governar esta
autarquia simbólica, depois de ter vencido as eleições locais do final de 2012.
E continua à frente do município, dado que a nova ida às urnas, convocada para
o passado dia 8 de outubro, foi adiada indefinidamente por decisão do Supremo
Tribunal da Autoridade Palestiniana.
Este
detetou várias irregularidades de forma na apresentação das candidaturas, mas a
resolução deve-se mais ao medo do potencial avanço do movimento islamita
radical Hamas noutras cidades da Cisjordânia, como Hebron e Nablus.
TURISMO
SÓ NO NATAL E PÁSCOA
No
seu quinto Natal consecutivo em funções, a autarca de Belém, Babun, gaba-se de
ter conseguido um alto número de reservas nos hotéis para esta quadra. “O que é
realmente preciso, contudo, é conseguir que a ocupação hoteleira tenha uma
frequência regular e não se limite unicamente às celebrações do Natal e da
Semana Santa”.
Ato
contínuo, lastima que o maior problema que o turismo enfrenta na Palestina seja
o seu carácter precário. Ou seja, que “a maioria dos turistas e peregrinos se
alojem em hotéis israelitas, vindo a Belém de autocarro e passando na cidade
apenas três ou quatro horas. Acabam por fazer gastos mínimos e o proveito
económico fica do lado israelita”.
Quanto
aos grupos nacionais que mais visitam a terra onde terá nascido Jesus,
“destacam-se os russos, que são quem faz mais reservas hoteleiras, seguidos dos
polacos e, ultimamente, também por gente de países orientais como a China e a
Índia”.
Entretanto,
os peregrinos da Europa Ocidental tendem a pernoitar em Jerusalém ou Telavive e
entram “apenas para visitar a Basílica da Natividade e a Gruta do Leite, dar um
breve passeio pela Praça do Presépio e, quando muito, ir até ao Campo dos
Pastores”, prossegue a autarca.
É
um turismo efémero que praticamente não gera lucros. Os guias oferecem-se com
insistência aos turistas, baixando os preços até montantes irrisórios. Os
vendedores ambulantes de recordações quase suplicam para que alguém lhes compre
um qualquer objeto feito da típica madeira de oliveira. Uns e outros têm de
alimentar as respetivas famílias e a verdade é que a economia local é incapaz
de lhes propiciar um emprego melhor.
A
presidente da Câmara assegura que a construção do impressionante muro de
separação — que reduziu o perímetro municipal de 33 para apenas 7,2 quilómetros
quadrados — asfixiou a economia da cidade. “Somos a zona com a maior taxa de
desemprego de toda a Cisjordânia, que supera os 20%”, explica, com pesar.
Noutros tempos as pessoas podiam ir trabalhar ou fazer comércio em Jerusalém ou
Ramallah mas, agora, a presença do muro e dos controlos militares
impossibilita-o. “A falta de emprego e de expectativas leva as pessoas a
emigrar para o estrangeiro, sobretudo os nossos jovens”.
Este
fenómeno ganha expressão especialmente entre os cristãos, outrora maioritários
na região administrativa formada por Belém, Beit Yala e Beit Sahur. Hoje são
menos de 38% e, se nada for feito a nível económico ou político, a taxa
continuará a baixar inexoravelmente.
VISITE
A PALESTINA
A
Rua da Estrela, no bairro histórico da cidade, converteu-se num dos pontos
escolhidos pela Câmara Municipal para tentar revitalizar o turismo. A sua
reabilitação foi financiada pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional
(AECID) no âmbito do programa “Belém 2000” (o papa João Paulo II visitou Belém,
no final de 1999, por ocasião da passagem do milénio e do ano jubilar), mas
agora mal se pode transitar por esta via emblemática. Aparece franqueada por
portas azuis que ocultam lojas e outros estabelecimentos vazios, em cuja
penumbra se adivinha a história dos seus residentes, criando um ambiente entre
o místico e o fantasmagórico.
Descendo
pela Rua da Estrela encontra-se o centro Visite a Palestina, uma iniciativa
lançada por empresários locais para atrair os turistas em épocas de vacas
magras. “Aqui pode planear toda a sua viagem, fazer as reservas de hotel e
saber quais são as principais atrações da zona”, explica Sami Khoury, fundador do
projeto.
Um
recinto acolhedor, onde também vendem artesanato palestiniano, “que se fabrica
desde Jenin até Gaza”, afirma, orgulhoso. Também organizam aulas de cozinha,
visitas guiadas e projeções de cinema. Estas iniciativas visam seduzir um
turismo sempre volátil, por causa das intermitências de um conflito que afeta,
com maior ou menor virulência, esta região do Médio Oriente.
Belém voltará, pois, a ser o epicentro do mundo cristão ao longo destas festividades. Milhões de pessoas estarão ligadas à cidade, via satélite, para assistir em direto à Missa do Galo. Para os seus residentes, todavia, parece menos importante aparecer na televisão durante estes dias notáveis do que poder viver em liberdade e com dignidade durante o resto do ano.
Júlio
de La Guardia – Expresso
Foto:
Soldado palestiniano vigia a Igreja da Natividade por ocasião da cerimónia do
acender das velas - ABED AL HASHLAMOUN / EPA
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