quarta-feira, 7 de junho de 2017

Pereira Gomes fugiu de Timor em 1999 e agora vai chefiar as “secretas” em Portugal

Deputado PS João Soares contesta escolha de Pereira Gomes para 'secretas' em Portugal

O deputado e ex-ministro socialista português João Soares defendeu hoje que o embaixador José Júlio Pereira Gomes deveria “renunciar já” à nomeação para secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP).

“O senhor embaixador Pereira Gomes deveria renunciar, já, à possibilidade de vir a ocupar tal cargo. Facilitando ao senhor primeiro-ministro a tarefa de escolha de alguém para exercer aquelas funções”, escreveu João Soares na sua conta na rede social Facebook.

Para João Soares, o diplomata, cuja nomeação é contestada pela ex-embaixadora de Portugal em Jacarta Ana Gomes, “não teve, infelizmente, um comportamento exemplar durante a crise timorense, bem pelo contrário”.

“Na minha opinião, o senhor embaixador Pereira Gomes não ‘quis protelar a decisão de partir [de Timor-Leste] até ao último momento’, bem pelo contrário”, acrescentou, citando, para o efeito, os testemunhos de dois jornalistas, Luciano Alvarez e José Vegar.


O deputado e ex-ministro da Cultura de Portugal justificou esta posição também pela experiência de ter desempenhado, durante três anos, as funções de membro do Conselho de Fiscalização do SIRP, afirmando que respeita e admira o trabalho dos oficiais de informações dos serviços.

Na quinta-feira, a ex-embaixadora de Portugal em Jacarta e atual eurodeputada do PS Ana Gomes afirmou ao DN que ficou "muito surpreendida e apreensiva" com a escolha de Pereira Gomes pelo abandono de Timor-Leste em 1999, onde era chefe de missão portuguesa de observação.

Ana Gomes referiu que, "não estando em causa o percurso profissional, falta a Pereira Gomes o perfil psicológico".

"Tenho dúvidas de que o embaixador Pereira Gomes tenha capacidade para aguentar situações de grande pressão. Não inspira confiança e autoridade junto dos seus subordinados nos serviços de informações", disse a eurodeputada, adiantando que já informou "quem de direito" do porquê da sua "apreensão".

Horas depois, o diplomata português reafirmou, numa carta ao DN, que deixou Díli por ordem do Governo.

No dia seguinte, o Público noticiou a apreensão do PSD, que tinha sido previamente consultado pelo primeiro-ministro português, António Costa, com a escolha de Pereira Gomes.

Ainda na sexta-feira, o primeiro-ministro português, António Costa, manifestou confiança no diplomata para o desempenho das funções de secretário-geral das ‘secretas’ de Portugal, explicando que foi isso que o levou a convidá-lo para o cargo.

No sábado, o líder do PSD de Portugal, Pedro Passos Coelho, disse que o partido está atento às objeções que tem merecido a escolha do novo chefe das 'secretas', mas sublinhou não querer acrescentar nada que possa "adensar a polémica".

Já hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros português defendeu que o novo secretário-geral do Serviço de Informações é uma “muito boa escolha” e mostrou-se confiante em que “todos os esclarecimentos serão dados” e “todas as questões serão esclarecidas”.

“Na minha opinião [José Júlio Pereira Gomes] é uma muito boa escolha [para secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa] e agora aguardamos tranquilamente a audição parlamentar”, disse Augusto Santos Silva à margem de um simpósio em que participou em Madrid.

O responsável governamental confirmou que o seu Ministério recebeu “no início desta semana” um pedido de informação da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias sobre o chefe indigitado das 'secretas' portuguesas, estando os serviços que tutela “a proceder à pesquisa sobre os documentos, para serem entregues à Assembleia da República portuguesa”.

SAPO TL com Lusa | Título PG

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