quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Ramos-Horta: Não há cenário que exclua Fretilin de liderar Governo

O ex-Presidente timorense José Ramos-Horta considerou hoje que não há qualquer "justificação ou cenário" que possa excluir a Fretilin, partido vencedor das legislativas, de liderar o próximo Governo.

"Não há qualquer justificação ou cenário que possa excluir a Fretilin de liderar o Governo. Até pelo menos dar provas da sua capacidade", disse José Ramos-Horta em Díli.

"Devemos dar o benefício da dúvida para quem ganhou as eleições, para quem durante 10 anos não fez o mínimo ato, gesto, de querer destabilizar a governação quando estava mas mãos de outros. Qualquer timorense que quer o melhor deste país deve dar chance à Fretilin de governar e todos nós devemos apoiar", disse.

Ramos-Horta falava à Lusa horas antes de do Tribunal de Recurso ler o acórdão que confirma os resultados finais das eleições de 22 de julho, em que a Fretilin foi o partido mais votado.


Até agora e apesar da declaração de vitória da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), o segundo partido mais votado, o Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) ainda não se pronunciou sobre o que vai fazer.

Xanana Gusmão, presidente do CNRT, tem estado "desaparecido" da vida pública em Timor-Leste desde o dia da votação e o partido chegou a ter prevista uma reunião da Comissão Política Nacional e uma Conferência Nacional, ambas adiadas.

Fonte do CNRT disse à Lusa que a conferência poderia realizar-se apenas a 09 de agosto, tendo Dionísio Babo, um dos homens fortes do CNRT, defendido em declarações à Lusa que estatutariamente a Conferência Nacional é o melhor espaço para o partido decidir o que vai fazer, mas que todos estão interessados em manter um Governo "estável" para os próximos anos.

Ainda é cedo para se saber qual vai ser a opção do segundo partido mais votado. Questionado sobre se o CNRT aceitará governar com a Fretilin, Babo recordou que os dois partidos trabalharam bem no passado.

"Mas temos que conversar internamente para tomar a decisão, tendo em conta a expressão da vontade popular no voto, e a vontade do senhor Presidente da República, que quer um Governo estável", disse.

Institucionalmente, confirmou, a Fretilin e o CNRT ainda não falaram e fontes dos dois partidos confirmaram à Lusa que os dois líderes, Mari Alkatiri e Xanana Gumsão, também ainda não falaram.

Ramos-Horta admitiu que é "correto que o CNRT queira esperar até ao pronunciamento feito pelo Tribunal de Recurso", apesar de "todos os outros partidos, toda a sociedade civil, comunidade internacional ter felicitado os timorenses, a CNE e o STAE e o partido vencedor".

O ex-chefe de Estado disse que "ninguém está em expectativa" e que os líderes de todos os partidos "estão todos serenos aguardando que o Presidente da República faça o que tem que fazer que é convidar, num primeiro passo, o partido mais votado, Fretilin para formar Governo, e para ouvir os outros partidos".

"Caberá ao partido mais votado fazer abordagens para a formação de um governo liderado pela Fretilin", disse Ramos-Horta.

O Presidente timorense deverá começar a convocar os partidos para a formação de Governo nas próximas 48 horas.

Questionado sobre a ausência de Xanana Gusmão, Ramos-Horta admitiu que "algumas pessoas se interrogam sobre o porquê desta falta de tomada de posição clara e imediata por parte do CNRT, de reconhecer o resultado".

"Essa preocupação é também legítima. Mas para mim não há razão para preocupação. Xanana tem estado muito ocupado, não só com a reflexão que tem que fazer após estas eleições, mas também tem estado preocupado com processo de negociações das fronteiras", disse, referindo-se à última ronda de contactos sobre o tema entre Timor-Leste e a Austrália.

"Devo dizer que independentemente do Governo, seja qual seja, com ou sem o CNRT, com ou sem Xanana, a posição de todos nós é de que Xanana Gusmão e toda a sua equipa timorense e internacional deve continuar com toda a nossa confiança, o nosso apoio, a liderar esse processo de negociação sobre a fronteira marítima", disse.

"Isto é claríssimo", enfatizou.

SAPO TL com Lusa

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