O
ex-Presidente timorense José Ramos-Horta considerou hoje que não há qualquer
"justificação ou cenário" que possa excluir a Fretilin, partido
vencedor das legislativas, de liderar o próximo Governo.
"Não
há qualquer justificação ou cenário que possa excluir a Fretilin de liderar o
Governo. Até pelo menos dar provas da sua capacidade", disse José
Ramos-Horta em Díli.
"Devemos
dar o benefício da dúvida para quem ganhou as eleições, para quem durante 10
anos não fez o mínimo ato, gesto, de querer destabilizar a governação quando
estava mas mãos de outros. Qualquer timorense que quer o melhor deste país deve
dar chance à Fretilin de governar e todos nós devemos apoiar", disse.
Ramos-Horta
falava à Lusa horas antes de do Tribunal de Recurso ler o acórdão que confirma
os resultados finais das eleições de 22 de julho, em que a Fretilin foi o
partido mais votado.
Até
agora e apesar da declaração de vitória da Frente Revolucionária do Timor-Leste
Independente (Fretilin), o segundo partido mais votado, o Congresso Nacional da
Reconstrução Timorense (CNRT) ainda não se pronunciou sobre o que vai fazer.
Xanana
Gusmão, presidente do CNRT, tem estado "desaparecido" da vida pública
em Timor-Leste desde o dia da votação e o partido chegou a ter prevista uma
reunião da Comissão Política Nacional e uma Conferência Nacional, ambas
adiadas.
Fonte
do CNRT disse à Lusa que a conferência poderia realizar-se apenas a 09 de
agosto, tendo Dionísio Babo, um dos homens fortes do CNRT, defendido em
declarações à Lusa que estatutariamente a Conferência Nacional é o melhor
espaço para o partido decidir o que vai fazer, mas que todos estão interessados
em manter um Governo "estável" para os próximos anos.
Ainda
é cedo para se saber qual vai ser a opção do segundo partido mais votado.
Questionado sobre se o CNRT aceitará governar com a Fretilin, Babo recordou que
os dois partidos trabalharam bem no passado.
"Mas
temos que conversar internamente para tomar a decisão, tendo em conta a
expressão da vontade popular no voto, e a vontade do senhor Presidente da
República, que quer um Governo estável", disse.
Institucionalmente,
confirmou, a Fretilin e o CNRT ainda não falaram e fontes dos dois partidos
confirmaram à Lusa que os dois líderes, Mari Alkatiri e Xanana Gumsão, também
ainda não falaram.
Ramos-Horta
admitiu que é "correto que o CNRT queira esperar até ao pronunciamento
feito pelo Tribunal de Recurso", apesar de "todos os outros partidos,
toda a sociedade civil, comunidade internacional ter felicitado os timorenses,
a CNE e o STAE e o partido vencedor".
O
ex-chefe de Estado disse que "ninguém está em expectativa" e que os
líderes de todos os partidos "estão todos serenos aguardando que o
Presidente da República faça o que tem que fazer que é convidar, num primeiro
passo, o partido mais votado, Fretilin para formar Governo, e para ouvir os
outros partidos".
"Caberá
ao partido mais votado fazer abordagens para a formação de um governo liderado
pela Fretilin", disse Ramos-Horta.
O
Presidente timorense deverá começar a convocar os partidos para a formação de
Governo nas próximas 48 horas.
Questionado
sobre a ausência de Xanana Gusmão, Ramos-Horta admitiu que "algumas
pessoas se interrogam sobre o porquê desta falta de tomada de posição clara e
imediata por parte do CNRT, de reconhecer o resultado".
"Essa
preocupação é também legítima. Mas para mim não há razão para preocupação.
Xanana tem estado muito ocupado, não só com a reflexão que tem que fazer após
estas eleições, mas também tem estado preocupado com processo de negociações
das fronteiras", disse, referindo-se à última ronda de contactos sobre o
tema entre Timor-Leste e a Austrália.
"Devo
dizer que independentemente do Governo, seja qual seja, com ou sem o CNRT, com
ou sem Xanana, a posição de todos nós é de que Xanana Gusmão e toda a sua
equipa timorense e internacional deve continuar com toda a nossa confiança, o
nosso apoio, a liderar esse processo de negociação sobre a fronteira
marítima", disse.
"Isto
é claríssimo", enfatizou.
SAPO
TL com Lusa
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