Díli,
05 out (Lusa) - Os recursos petrolíferos pertencentes a Timor-Leste no Mar de
Timor foram "motor dominante" das "sucessivas traições" da
Austrália aos timorenses desde que atribuiu unilateralmente as primeiras
licenças de exploração na zona em 1963, revela um novo livro.
"A
reação australiana à invasão indonésia de Timor Português foi influenciada pelo
seu interesse nos campos petrolíferos de Timor Gap. A Austrália tinha um
interesse multibilionário em que a Indonésia ocupasse Timor Português",
refere o texto.
O
livro, "Atravessar a linha - A História secreta da Austrália no Mar de
Timor", da académica australiana Kim McGrath indica que "os fortes
interesses nos recursos de petróleo e gás do Mar de Timor foram mantidos
secretos do público australiano" e dos principais aliados.
"A
maioria dos australianos não faz a mínima ideia do que ocorreu. Timor-Leste é
um dos nossos vizinhos mais próximos e a conduta do Governo relativamente a
Timor tem sido absolutamente vergonhosa", disse McGrath, em entrevista à Lusa.
"Se
os australianos soubessem as motivações que levaram à cumplicidade do nosso
Governo com a história terrível dos 24 anos de ocupação de Timor-Leste ficariam
horrorizados. Por isso, o Governo fez este esforço para tapar a narrativa da
questão do petróleo", sustentou.
Segundo
a investigadora, nas últimas décadas o Governo australiano "tem estado com
mestria a criar uma história alternativa que excluiu ou pelo menos diluiu os
interesses australianos nas águas ricas em petróleo do Mar de Timor".
O
livro, que se baseia em milhares de documentos oficiais do Governo australiano
e de outras fontes, sugere que os australianos têm dados há 50 anos que
comprovavam as riquezas petrolíferas e de gás natural na zona entre Timor-Leste
e a Austrália, inclusive em zonas que estão do lado que os timorenses - e
Portugal e a Indonésia antes deles - reivindicam ser seu.
Só
desde 2005, segundo o livro, a Austrália recolheu 1,4 mil milhões de dólares de
campos petrolíferos na zona administrada conjuntamente com Timor-Leste,
"mais 100% dos benefícios de outras zonas que Timor-Leste reivindica ser
suas" e ainda "benefícios de 'downstream' no valor de 25 mil milhões
de dólares através da unidade de LNG da ConocoPhillips em Darwin".
Reivindica
ainda direitos sobre o campo do Greater Sunrise, cujo futuro - quer no que toca
a partilha de recursos, quer na modalidade de exploração (um gasoduto para
Darwin ou um para Timor-Leste) - é um dos aspetos que está agora a ser
negociado entre Timor-Leste e a Austrália no âmbito de uma comissão de
conciliação da ONU.
O
livro, editado na Austrália, sugere que em 1963 a administração norte-americana
de John F. Kennedy tentou pressionar a Austrália para que, em conjunto,
pressionassem o então regime português de Salazar a melhorar as condições de
vida dos timorenses e, depois, a permitir que tivesse, 10 anos depois uma
oportunidade de autodeterminação.
"Se
a Austrália tivesse apoiado a proposta de Kennedy e conseguisse convencer o
regime de Salazar que era do interesse de Portugal permitir um voto de
autodeterminação, os timorenses teriam votado sob supervisão da ONU em
1973", escreveu McGrath.
"Mas
este cenário ameaçava o crescente interesse da Austrália nas potenciais
riquezas petrolíferas do Mar de Timor. Politicamente seria mais fácil para a Austrália
exercer os seus direitos a 30 milhas da costa de um poder colonial fascista e
impopular do que negar esses recursos a um vizinho potencialmente independente,
recentemente libertado e desesperadamente pobre", acrescentou.
Daí
que, progressivamente, a Austrália tenha vindo a assentar as suas
reivindicações na definição das fronteiras ao longo do que considera ser a sua
bacia continental, que vai muito mais além da linha mediana entre os dois
países defendida por Timor-Leste.
Um
esforço que levou Camberra a recusar negociar com Portugal sobre fronteiras
marítimas para Timor-Leste - Lisboa já defendia a linha mediana - mesmo quando
Portugal quis o diálogo antes de, em janeiro de 1974, conceder uma primeira
licença de exploração à norte-americana Oceanic Exploration.
McGrath
disse ainda que quando em junho de 1974 a empresa Woodside confirmou a riqueza
do campo Greater Sunrise, o Governo deu instruções "para encobrir a
descoberta".
Kim
McGrath insiste que os documentos mostram que Camberra acreditava que se
Timor-Leste fosse integrado na Indonésia, a "Indonésia aceitaria fechar as
fronteiras marítimas" dando a Camberra lucros
"multibilionários".
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// VM
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