Díli, 25 abr (Lusa) - Líderes dos
órgãos eleitorais timorenses consideraram hoje "irresponsáveis" e
"falsas" acusações feitas pela coligação dos partidos da oposição, a
AMP, de que o Governo estaria a intervir no processo eleitoral para condicionar
o resultado eleitoral.
Em causa está uma publicação na
página oficial da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) no Facebook que
levanta suspeitas sobre a ação dos órgãos eleitorais e do Governo na fase de
preparação para as eleições antecipadas de 12 de maio.
Com o título "alerta ao
público", a AMP diz ter "indicações" que levam a
"desconfiar" da suposta intervenção de José Ramos-Horta, ministro de
Estado, e do ex-ministro Rogério Lobato, na aquisição de urnas para o voto, que
chegaram esta semana a Díli.
"As mil urnas oferecidas
pelo Governo da China" são "possivelmente urnas falsas ou duplicadas
com o objetivo de manipular o resultado da contagem dos votos da eleição
antecipada", refere a publicação.
A coligação diz ainda ter
"indicação de que o Governo de gestão deu orientações secretas à CNE/STAE
de que façam todo o esforço porque a Fretilin tem que vencer".
Dois dirigentes da AMP ouvidos
pela Lusa, Fidelis Magalhães e Arão Noé - deputados respetivamente do Partido
Libertação Popular (PLP) e do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense
(CNRT) - disseram à Lusa não ter informação sobre o assunto.
Magalhães remeteu comentários
para Arão Noé, responsável de assuntos jurídicos da AMP que, por seu lado
remeteu clarificação para a equipa do "media centre".
"Não vou comentar ainda
sobre este assunto. Só depois de falar com o media centre. Só depois é que
posso. O 'media center' tem esse conhecimento, mas não nos deram essa
informação. Ainda não tenho acesso a esta informação", frisou.
Apesar de várias tentativas não
foi possível à Lusa falar com a responsável do 'media center'.
Rejeitando as acusações e
insistindo na natureza técnica do processo, Acilino Manuel Branco,
diretor-geral do Secretariado Técnico da Administração Eleitoral (STAE)
explicou à Lusa que o apoio da China foi essencial porque permitiu que as urnas
chegassem a tempo a Díli.
As urnas para as eleições do ano
passado, por exemplo, foram pedidas em novembro de 2016 e só chegaram a Díli em
março de 2017 pelo que o apoio da China foi "essencial".
"Não há lógica que digam que
isto é para favorecer uma parte ou outra. Somos um órgão técnico e não
interessa quem ganha ou perde", insistiu, recordando que todas as equipas
do STAE, a nível nacional e municipal são as mesmas desde os Governos anteriores.
Alcino Baris, presidente da
Comissão Nacional de Eleições (CNE), considerou as acusações "falsas e
irresponsáveis" afirmando que a vinda das urnas foi uma necessidade dada o
impedimento de usar as anteriores, que continuam seladas.
"As urnas são de boa qualidade
e foram entregues publicamente. Os partidos viram e avaliaram a qualidade das
urnas. No processo de votação as urnas estão sempre acompanhadas e
identificadas. Cada urna tem atas e números, está identificada e tudo é
fiscalizado e supervisionado, não apenas pelo CNE e STAE. Isto é feito
publicamente, em frente aos fiscais, à media e observadores", afirmou.
Trata-se, disse, de um conjunto
de processos de "garantem a transparência" da votação pelo que
acusações como estas "têm que ser demonstradas ou provadas".
"Somos um órgão independente
e não recebemos indicações de ninguém, com as decisões tomadas em
plenário", afirmou.
José Reis, ministro adjunto do
primeiro-ministro e vice-secretário-geral adjunto da Fretilin, considerou as
acusações "um absurdo, incorreto e irresponsável", explicando que nas
urnas, como no restante material, se respeita a lei.
"Não podemos usar as urnas
anteriores, porque segundo a lei os boletins têm que ficar selados nas urnas
durante um ano. E por causa disso que tivemos que arranjar outra forma de obter
as urnas", afirmou.
"Sabendo muito bem que
estamos com duodécimos, pedimos apoio à China para apoiar com este material.
Mas não intervimos politicamente neste sentido. Isto é uma questão legal e
competência do STAE", frisou.
O governante recordou que todas
as equipas do STAE foram instaladas por Governos do CNRT e que as acusações não
fazem sentido.
José Ramos-Horta, ministro de
Estado, considerou as acusações "de uma irresponsabilidade incompreensível
por parte da AMP", envolvendo até um parceiro como a China, e garantiu que
nada teve a ver com o processo das urnas.
"Revela o desespero. Devem
estar a ver que a campanha está a decorrer muito mal para a AMP. Isto só desacredita
completamente a AMP perante o eleitorado timorense e a comunidade internacional
que está em Díli, tem observadores no processo", disse.
"Quando um partido ou
partidos fazem acusações, têm de provar o que dizem. Não podem levantar
calúnias, difamações. Revela um nível que não abona nada a pessoas que querem
governar o país", disse.
Horta insistiu que todos têm que
"agir com sentido de responsabilidade e maturidade" e que
"acusações desta natureza levantam dúvidas sobre o calibre político de
pessoas que querem governar".
ASP // JPS | Foto: Página AMP Facebook
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