Díli, 25 abr (Lusa) - O líder da
Fretilin, maior partido timorense, disse hoje que não passará "um cheque
em branco" para viabilizar um eventual Governo da AMP, se a coligação da
oposição vencer as eleições de maio sem maioria absoluta.
"A Fretilin quer que este
país vá para a frente, mas não vamos apoiar um Governo do CNRT que falhou
durante 10 anos, com um cheque em branco. Para viabilizar tem que ser claro
quais são os limites", disse Mari Alkatiri, secretário-geral da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e atual
primeiro-ministro, em entrevista à Lusa.
Questionado sobre se isso leva a
supor que a Fretilin considera ter dado esse cheque em branco nos últimos anos
ao Governo liderado pelo CNRT, Alkatiri admite que "de certa forma sim,
foi um cheque em branco" considerando que a governação "durante 10
anos foi negativa".
Alkatiri falava à Lusa numa pausa
da campanha para as legislativas antecipadas de 12 de maio, marcadas por uma
reviravolta nas alianças do passado, com Xanana Gusmão e o seu anterior rival,
Taur Matan Ruak, juntos na Aliança de Mudança para o Progresso (AMP).
Num cenário de derrota da
Fretilin, Alkatiri considera ainda "muito pouco provável" que
continue com as suas funções de presidente da Zona Especial de Economia Social
de Mercado (ZEESM) no enclave de Oecusse-Ambeno.
"Com este clima que se esta
a gerar durante a campanha, não haverá mais ambiente para o entendimento. Só
que é uma pena. Não quero dizer que sou o melhor dos melhores, mas fundamental
na ZEESM é o modelo de gestão que eu ainda não deixei", afirmou.
Os comentários de Mari Alkatiri
confirmam a degradação do relacionamento entre si e Xanana Gusmão e entre os
dois partidos, o CNRT que liderou os últimos três Governos e a Fretilin que
ajudou a viabilizar o executivo entre 2015 e 2017.
Os dois partidos estiveram juntos
na candidatura do presidente da Fretilin Francisco Guterres Lu-Olo a Presidente
da República em 2017 mas a relação começou a degradar-se depois da formação do
VII Governo, liderado por Mari Alkatiri.
Na campanha de 2017, em que
Xanana Gusmão se mostrava convicto de uma vitória por maioria absoluta do seu
partido, o líder timorense disse à Lusa, sobre o futuro e a relação do CNRT com
a Fretilin, que os dois partidos continuam com "excelentes relações, de
respeito" e que "não terão êxito" tentativas de outros partidos
"provocar distúrbios ou problemas entre os dois".
Para Mari Alkatiri a aliança
acabou por falta do "respeito mutuo" que é necessário "para que
ambos sejam iguais mas que, neste caso, não existiu verdadeiramente".
"Éramos aliados,
entendíamo-nos num projeto nacional e entre nós parecia que havia uma aliança
entre iguais, mas a tendência do Xanana é que se pode aliar com todos, mas ele
tem que estar sempre acima dos outros", defendeu.
"Não aceita resultados
democráticos. Baseia-se na legitimidade dita histórica para dizer que está
sempre acima dos outros, a comandar", referiu.
Questionado sobre o facto de
muitos fazerem a mesma avaliação quanto à atuação de Mari Alkatiri, o ainda
primeiro-ministro é enfático: "mas eu ganhei as eleições e se era para
consolidar esta mesma aliança ele devia aceitar isso".
"Era isso mesmo que o povo
queria, que passasse a Fretilin a liderar mas com a consolidação da
aliança", afirmou, mostrando-se convicto de que a situação atual não
aconteceria num cenário inverso, da vitória, ainda que por margem curta, do
CNRT.
"Não, porque a Fretilin
teria respeitado, para manter a estabilidade no país", afirmou.
Questionado sobre o falhanço das
negociações para conseguir um Governo maioritário - e em particular as críticas
de que esse falhanço se deve ao facto de ter tentado negociar modelos
diferentes com todos - Alkatiri diz que lidou com a realidade e o caráter de
cada partido, tendo havido demasiadas exigências do Kmanek Haburas Unidade
Nacional Timor Oan (KHUNTO).
"As pessoas entendem que a
aliança não deve ter como base o respeito pelos resultados eleitorais. E então
pedem demais. Como pode um partido com 5 deputados querer 7 lugares no Governo
e querer lugares chave, segurança e defesa", disse.
"Como pode um que diz que
vai fazer incidência parlamentar, o CNRT, porque não quer participar no
governo, mas quer manter elementos da sua confiança nas áreas fundamentais da
governação: infraestruturas, finanças, petróleo, solidariedade e de certa forma
mantendo a influência sobre educação? Seria eu o primeiro-ministro mesmo num
cenário destes?", questiona.
Sobre o seu próprio futuro na
Fretilin e se se demitiria em caso de derrota, Alkatiri disse que "Xanana
perdeu e não se afastou" da liderança do CNRT, afirmando que os querem a
sua saída pretendem enfraquecer o partido.
"Mas já tenho uma nova
geração com coragem para enfrentar Xanana Gusmão, Taur Matan Ruak. Mas isso foi
formado. Levou tempo", disse.
ASP // JPS
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