sexta-feira, 25 de maio de 2018

Eleições: Fretilin considera resultado eleitoral “ilegítimo”, mas acatará tribunal


A Fretilin, segundo partido mais votado nas legislativas de 12 de maio em Timor-Leste, considerou hoje ilegítimo o resultado eleitoral e afirmou ter ocorrido um conjunto de irregularidades e de crimes eleitorais, disse hoje o secretário-geral Mari Alkatiri. 

"Se o apuramento e o resultado não tem legitimidade, significa que as eleições não foram transparentes, nem livres", afirmou Alkatiri em conferência de imprensa em Díli.

Apesar disso, acrescentou, o partido acatará a decisão do Tribunal de Recurso que considerou improcedentes um recurso apresentado pela Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e que deverá nos próximos dias validar o resultado eleitoral.

"Vamos esperar até à decisão do tribunal em termos de homologação dos resultados, mas se o tribunal homologar nós só temos que acatar. Mas vamos manter a nossa posição de que estas eleições decorreram numa situação de ilegalidades, de ilegitimidades, de violação de todos os princípios da democracia", afirmou ainda.

Em conferência de imprensa na sede do Comité Central da Fretilin em Díli, Alkatiri considerou que o processo eleitoral ficou marcado por ilegalidades, ilegitimidades e a "violação de todos os princípios da democracia".

Entre vários "crimes eleitorais e outros" que a Fretilin diz ainda estar a investigar contam-se, salientou Alkatiri, uma "campanha de discriminação religiosa e racial", o "uso de dinheiro", "ameaças de terror" e vandalismo.

Mari Alkatiri disse que, além da Fretilin, também o Partido Democrático (PD) - atual parceiro no Governo - e a estreante Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD), também foram alvo desta campanha.

"A FDD foi vítima e o PD também. A Fretilin também foi mas como tem uma estrutura muito forte conseguiu resistir. Mas a FDD e o PD foram vitimas maiores. O presidente da FDD pela primeira vez perdeu no seu suco e a explicação é clara: por causa das ilegalidades", disse.

Apesar de respeitar a decisão do Tribunal, a Fretilin insiste que "jamais concordará com o teor da mesma" e, como tal, não "reconhecerá legitimidade ao resultado proveniente do apuramento nacional provisório" das eleições, que tem agora de ser formalmente validado pelo Tribunal de Recurso.

Mari Alkatiri falava aos jornalistas depois de o Tribunal de Recurso ter considerado "totalmente improcedente" o recurso interposto pela Fretilin, segundo partido mais votado nas eleições de 12 de maio, por suspeita de várias alegadas irregularidades do processo eleitoral.
"Deliberam os juízes que constituem este coletivo do Tribunal de Recurso em julgar totalmente improcedente o recurso interposto pelo partido Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin)", refere o acórdão, a que a Lusa teve acesso.

Afirmando que a Fretilin nunca disse ter havido "manipulação" dos resultados, Alkatiri insiste que há inúmeros casos de "irregularidades", dando como exemplo uma ata de um centro de votação em Ainaro - cuja cópia entregou à Lusa - onde estão detalhados 396 votantes, mas no total de votos válidos ficaram registados 476.

"Por isso é que a Fretilin pediu ao Tribunal de Recurso para ser feita uma recontagem e verificar estas irregularidades. Não acusámos ninguém de manipulação, mas sim de irregularidades", considerou.

"Este é um Estado de direito democrático, temos um sistema eleitoral e se o Tribunal decidir não há mais espaço para recurso. Mas isso não significa que a Fretilin concorde com o argumento do Tribunal", afirmou.

Alkatiri disse que o partido tem ainda "cinco meses" para concluir as suas investigações sobre crimes eleitorais, insistindo que continua a haver casos de "intimidação e ameaças" e que é urgente que a polícia e as autoridades investiguem as denuncias que existem.

O acórdão de nove páginas - assinado pelos juízes Deolindo dos Santos, Guilhermino da Silva e Natércia Gusmão - analisa um conjunto de queixas apresentadas num recurso entregue no sábado pela Fretilin ao Tribunal de Recurso e à Comissão Nacional de Eleições (CNE).

A decisão inclui um voto de vencida de Natércia Gusmão que aponta para "a existência de discrepâncias nas atas de apuramento dos resultados", especialmente em Bobonaro, o que "coloca sérias dúvidas sobre o que realmente se encontrar no interior de cada urna e coloca em causa a fiabilidade, transparência e credibilidade dos procedimentos de obtenção de resultados".

Assim, defende, "por uma questão de credibilidade do ato eleitoral, para transmitir confiança ao povo eleitor no processo eleitoral", a juíza defende que se devia dar provimento ao recurso da Fretilin e ordenar a reabertura das urnas e recontagem dos votos.

Se os resultados forem agora certificados pelo Tribunal de Recurso no novo parlamentar vão estar a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP), com 34 lugares (maioria absoluta), a Fretilin, com 23, o Partido Democrático (PD), com cinco, e a Frente de Desenvolvimento Democrático (FDD), com três.

Lusa | em SAPO TL

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