Beatriz Gamboa, opinião
As eleições em Timor-Leste das
legislativas antecipadas tiveram ontem o seu dia maior com o país no habitual frenesim
eleitoral e centenas de milhares de eleitores a caminharem rumo às suas secções
de voto, algumas longe de onde habitam. Em alguns casos o governo ainda vigente
disponibilizou transportes. Impossível de beneficiar todos os que precisaram, é
o costume dos governos do país, deixam a maior parte daquilo que pode
beneficiar as populações a meio dos objetivos, registando-se frequentemente que
nem a meio chegam porque nem lhes dão início. Que fique esclarecido que tal política
tem acontecido com todos os governos e nem se pode afirmar que assim aconteça
por falta de verbas orçamentais. Quais os destinos que levam tais verbas é que muitas vezes
não ficamos sabendo.
É notícia pelo mundo que os
resultados eleitorais em Timor-Leste já foram apurados provisoriamente e que a nova
AMP – Aliança de Mudança e Progresso – atingiu a maioria absoluta, indo ocupar
pelo menos 33 lugares dos total de 65 no Parlamento Nacional. Os resultados são
provisórios mas os vencedores absolutos esperam ainda conseguir mais um lugar,
somando 34. O segundo partido político mais votado foi a FRETILIN, partido histórico
que após o golpe de estado de 2006 nunca mais atingiu maioria absoluta. Sendo
sempre a partir daí Xanana Gusmão o grande vencedor eleitoral, assim como
vencedor noutras vertentes.
Para muitos instalou-se a
surpresa com esta vitória de Xanana Gusmão – não duvidem os que a ele se
aliaram que sem Xanana não conseguiriam fazer parte de uma expressiva maioria –
mas tal surpresa não é justificável. Quem não sabia que os resultados
eleitorais iriam bafejar Xanana Gusmão com esta maioria? Ou será que os ingénuos
ou menos a par da influência preponderante do líder histórico e sistemático
dirigente dos governos de Timor-Leste desconhecem que no país acontece o que
Xanana Gusmão quer porque as suas capacidades e visionismo político lhe permitem
antecipar a obtenção das condições para vencer e impor-se? Só distraídos
ignoram o facto.
Temos então novamente Xanana na
chefia do governo eleito e no Parlamento Nacional a maioria que representa a
AMP que ele chefia. Taur Matan Ruak, ex-presidente da república, será o número
dois do governo. Taur estará sempre predestinado a secundarizar Xanana. Foi
eleito presidente da república anteriormente porque Xanana o apoiou, caso contrário
não o seria. Os que “o pai” da nação maubere apoia são e serão sempre eleitos. Tal
é o seu poder sobre o consciente e o inconsciente da maioria dos timorenses.
Xanana Gusmão atreveu-se
inclusive a aliar-se também a um partido político de representação ínfima que
possui por direção adeptos da anulação do país através da agregação à Indonésia,
com uma autonomia para o território do leste, Timor. São os chamados
autonomistas. Esses dirigentes fazem também parte do grupo de artes marciais
que o professam como uma religião doentia e que em 1999 foram parte integrante dos
assassínios e destruição do país no período que conduziu ao referendo de
libertação da ocupação indonésia. É esse o Khunto, o partido que juntamente com
o CNRT de Xanana e o PLP de Taur Matan Ruak, forma a AMP, a aliança vencedora
destas eleições. Para Xanana vale quase tudo para vencer, de acordo com os seus
critérios. Taur Matan Ruak vai aprendendo, tem em Xanana o professor de há décadas,
o comandante, “o pai da nação”. E não é? Pelo visto e mais uma vez expresso em
votos nestas eleições Xanana é mesmo isso. Quando falecer teme-se que a
orfandade de Timor-Leste e dos timorenses seus aduladores e seguidores os deixem
perdidos, desorientados, e que o futuro do país perca pelo menos a paz podre em
que vai vivendo.
Apesar de tudo podemos dizer hoje
que Timor-Leste é um país de sucesso na região em que está inserido e que é o
país mais democrático e de maior liberdade no sudeste asiático. Se há quem veja
Xanana como um mal será melhor verificar os índices positivos que são
destinados ao país por organizações de direitos humanos, da imprensa livre e
democrática, etc. Mas que há fome, há. Que a corrupção galga os índices de
admissibilidade também. Que o fosso entre muito ricos e pobres continua ser de
dimensões escandalosas é facto. Que os classificados de carenciados abrangem
mais de metade da população é indesmentível. E então Xanana Gusmão é um mal
necessário? Quem diria.
Cumpriu-se a democracia em
Timor-Leste em mais estas eleições. É indubitável. Cumpra-se a entrega do poder
governativo e legislativo aos maioritariamente eleitos e que se lhes deseje o
maior sucesso para bafejarem com medidas adequadas os tantos governados (por
Xanana) que há tantos anos sobrevivem na miséria. Que Taur Matan Ruak, também
eleito, não se esqueça do que declarava em prol desses miseráveis quando era
presidente da república, nem que todos os eleitos se esqueçam das promessas
fartas que fizeram ao longo da campanha eleitoral. O melhor dos mundos de
justiça social, transparência e democracia para o país é o mínimo a desejar do
desempenho destes novos (velhos) eleitos. Porque não? Todos têm direito a
sonhar.
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