quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Prisão preventiva para polícias que mataram três jovens em Díli


Díli, 21 nov (Lusa) - O Tribunal Distrital de Díli (TDD) decretou a prisão preventiva para dois polícias que no domingo dispararam as suas armas de serviço, quando estavam de folga, causando três mortos e cinco feridos numa festa de desluto, na capital timorense.

A juíza Francisca Cabral decretou ainda termo de identidade e residência para dois outros agentes, também detidos, que estiveram armados na mesma festa, também fora de serviço, mas que não usaram as armas.

O procurador Jacinto Babo pediu a medida máxima de coação para os dois polícias que dispararam as armas, sendo que a investigação inicial indica que um deles disparou para o ar e o outro foi responsável pelas mortes e ferimentos.

A decisão foi tomada depois de um primeiro interrogatório aos agentes detidos, que compareceram no TDD vestidos com macacões cor de laranja onde se pode ler a palavra "detido", a preto.

Enquanto isso, noutra zona da cidade, decorria a primeira missa em nome das vítimas, dois jovens, cujos corpos foram acompanhados na noite de terça-feira desde a morgue do Hospital Nacional Guido Valadares até ao bairro de Kuluhun.

Milhares de pessoas, muitos com velas ou telefones móveis acesos, acompanharam os corpos nessa viagem, num momento carregado de emoção.

Duas das vítimas mortais, Leo, de 18 anos, e Eric, de 24, deixaram mulheres e filhos pequenos. Kevin, 18 anos, solteiro, foi a terceira vítima. Todos vizinhos, todos de um mesmo bairro, onde hoje a tensão e a contestação eram visíveis.

O incidente na madrugada de domingo envolveu pelo menos dois agentes da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), fora de serviço, que efetuaram disparos numa festa no bairro, dos quais resultaram três mortos e três feridos graves.

"Alguns jovens começaram a discutir e outros jovens tentaram acalmar as coisas. A situação fica tensa e um polícia que estava lá, à civil, disparou para o ar. Veio outro polícia e disparou para as pessoas", disse à Lusa João Noronha, residente do bairro.

Outra testemunha, que pediu o anonimato, descreveu o que disse ter sido o comportamento "à cowboy" de um dos polícias.

"Um disparou para o ar, mas o outro subiu para uma cadeira, continuou com calma a fumar e disparou diretamente para as pessoas. À cowboy", contou a testemunha, que se encontrava na festa.

O caso está a suscitar uma onda de consternação e fortes críticas, com um quase movimento "Me Too" sobre atuações abusivas ou ilegais de polícias, com pessoas a publicarem vídeos, fotos ou relatos de incidentes envolvendo agentes em serviço ou fora de serviço.

Filomeno Paixão, ministro interino do Interior e Segurança e ministro da Defesa, disse na segunda-feira à Lusa que os comandantes dos agentes envolvidos no caso também terão que responder pelo inadequado controlo dar armas.

"A lei e os regulamentos são muito claros. O último foi um despacho emitido em 2016 em que expressamente se exige que ninguém que não esteja em serviço saia com as armas", disse.

"Neste caso os quatro estavam fora de serviço e levavam armas. Eu, pessoalmente, digo que os comandantes têm que responder", afirmou.

A organização timorense Fundasaun Mahein, que acompanha em detalhe o setor da defesa e segurança, defendeu esta semana que a polícia nacional tem que agir para responder a um "problema sistémico de agressão física desnecessária e do uso ilegal de armas de fogo", especialmente por agentes fora de serviço.

"O incidente de Kuluhun realça a necessidade de uma revisão da PNTL. Não é suficiente simplesmente argumentar que esses problemas são o resultado de algumas maçãs podres na força policial", referiu a organização.

"A PNTL exige uma reforma estrutural no que diz respeito à formação, disciplina, regras e filosofia, de modo a alinhar a instituição com a abordagem de policiamento comunitário de Timor-Leste. A estratégia e a filosofia do policiamento comunitário não são apenas um slogan: devem ser ativamente implementadas pela PNTL a nível institucional", refere a nota.

ASP // FST | Imagem: Dois dos policias detidos e agora condenados a prisão preventiva pelo TDD. - Facebook

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