Pequim,
26 dez (Lusa) -- A China estabeleceu hoje laços diplomáticos com São Tomé e
Príncipe, depois de o país ter cortado relações diplomáticas com Taiwan, segundo
avança a agência estatal Xinhua.
Representantes
dos dois países, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang
Yi, assinaram documentos numa cerimónia junto das duas bandeiras em Pequim,
hoje, descreve a Associated Press.
A
agência norte-americana descreve o acontecimento como uma vitória para a China,
que considera Taiwan parte do seu território. A ilha só é reconhecida
formalmente por 21 Estados, já que fazê-lo impede as relações com a China.
No
dia 20, o governo são-tomense anunciou o corte com Taiwan após reunião do
Conselho de Ministros, indicando que a decisão assenta no reconhecimento do
princípio da existência de uma só China.
"O
governo da República Democrática de São Tomé e Príncipe, após consulta com o
chefe do Estado (Evaristo de Carvalho), decidiu cortar formalmente as relações
diplomáticas estabelecidas com Taiwan", lia-se no documento.
"Neste
sentido, o Conselho de Ministros orientou o ministro dos Negócios Estrangeiros
e Comunidades para, pelos canais oficiais, tomar imediatamente todas as
disposições adequadas", acrescentou.
No
comunicado de oito parágrafos, o governo referiu a "conjuntura
internacional atual e da sua perspetiva de evolução e tendo em conta a agenda
de transformação do país e os objetivos de desenvolvimento do milénio"
como um dos motivos da rutura com Taiwan.
O
Executivo do primeiro-ministro Patrice Trovoada sublinhou, por outro lado, que
a evolução da conjuntura interna e a política económica do seu governo
"impõem a defesa dos interesses genuínos de São Tomé e Príncipe e do seu
povo", apesar de "não abdicar dos valores cardinais da sua política
externa e o reforço da sua adesão ao princípio da não-ingerência nos assuntos
internos de outros estados".
"As
tensões prevalecentes no plano internacional, a multipolarização dos centros de
decisão, bem como a defesa cada vez mais aguerrida dos interesses nacionalistas
por parte dos principais atores da cena internacional em detrimento do
multilateralismo, opção de longe mais favorável a expressão dos pequenos
estados", foi igualmente justificado pelo governo são-tomense para o corte
de relações com Taiwan.
No
dia 21, o Governo chinês considerou "natural" a decisão de São Tomé e
Príncipe de cortar relações diplomáticas com Taiwan e reconhecer a República
Popular da China, realçando que o país africano fez a "escolha
certa".
"É
natural. Quando reconheces e decides finalmente que é a altura de fazer a
escolha certa, esse é o momento", disse à agência Lusa a porta-voz do
ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying.
Apesar
de o país africano ter suspendido as relações com Pequim em 1997, reconhecendo
Taiwan, o presidente Manuel Pinto da Costa visitou a China em duas ocasiões
pelo menos.
"A
China agradece e dá as boas-vindas ao regresso de São Tomé e Príncipe ao lado
certo do princípio 'Uma só China'", disse Hua Chunying.
"O
princípio 'Uma só China' [visto por Pequim como garantia de que Taiwan é parte
do seu território] é o pré-requisito e base política para a China manter e
desenvolver relações amigáveis e de cooperação com outros países",
acrescentou.
Pequim
considera Taiwan uma província chinesa e defende a "reunificação
pacífica", mas ameaça "usar a força" caso a ilha declare
independência.
Já
Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido
Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República
da China.
Pequim
e Taipé afirmam que existe uma só China.
Quando
São Tomé decidiu reconhecer Taiwan, a ilha era um dos quatro "tigres
asiáticos", ao lado da Coreia do Sul, Hong Kong e Singapura.
Apoiada
numa pujante economia, Taiwan investia muito dinheiro na expansão do seu espaço
político internacional.
Entretanto,
a República Popular da China tornou-se a segunda maior economia mundial, com as
maiores reservas cambiais do planeta, no valor de 3,44 biliões de dólares.
ISG
(JOYP/MYB)// DM
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