domingo, 14 de maio de 2017

PR timorense recorda "coragem e gratidão" de católicos martirizados na luta do país

Díli, 12 mai (Lusa) - O Presidente da República timorense, Taur Matan Ruak, homenageou hoje a "coragem e gratidão" dos "católicos martirizados" que se sacrificaram no período de luta pela independência de Timor-Leste.

Uma homenagem deixada durante uma cerimónia no Palácio Presidencial, em Díli, em que condecorou, postumamente, o ex-administrador da diocese de Díli Martinho da Costa Lopes e nove membros do clero mortos durante a onda de violência depois do referendo da independência em 1999.

"As condecorações que entreguei são um símbolo da gratidão do país aos católicos martirizados, às comunidades religiosas a que eles pertenciam e à Igreja de Timor-Leste", disse Matan Ruak.

"A coragem de tantos sacerdotes e tantas religiosas na nossa terra - continuação do exemplo que D. Martinho da Costa Lopes deu - escreveram um capítulo de ouro da história de Timor-Leste e na história da Igreja timorense. A Igreja Católica deu um contributo do mais valor para a vitória final da paz e foi Dom Martinho quem primeiro iniciou esse caminho", recordou.

A cerimónia decorreu perante algumas das principais individualidades timorenses, membros do Governo liderados pelo primeiro-ministro, Rui Maria de Araújo, e na presença dos bispos timorenses e de representantes do corpo diplomático, entre outros.

Durante o ato, um dos últimos da Presidência de Taur Matan Ruak, que termina às 24:00 de 19 de maio, o chefe de Estado manifestou, "em nome do país, o reconhecimento profundo da figura e ação extraordinárias" de Martinho da Costa Lopes e, ao mesmo tempo, da Igreja Católica.

"A elevada estatura moral de D. Martinho e a sua liderança corajosa da Igreja timorense durante a ocupação tiveram um impacto profundo na nossa sociedade e na nossa luta", disse.

"Depois da invasão, o conhecimento que foi acumulando sobre a brutalidade e a violência da ocupação chocou profundamente Dom Martinho. O seu sentido de justiça levou-o a agir", recordou.

Em 1981, já administrador apostólico de Díli - cargo para que foi nomeado em 1977 - Martinho da Costa Lopes apresentou-se "pessoalmente perante o então Presidente indonésio, Suharto, tendo feito um conjunto de exigências para que fosse feita uma investigação séria e profunda sobre o caso de Timor-Leste", momento a partir do qual começou a ser perseguido.

A 13 de outubro do mesmo ano, na procissão em honra de N. Senhora de Fátima, "exigiu das autoridades indonésias o respeito dos direitos humanos de todos os timorenses" denunciando "vigorosamente o assassínio de cerca de 500 timorenses pelas forças ocupantes".

Em 1982, Martinho da Costa Lopes reuniu-se com o líder da Resistência, Xanana Gusmão, em Mehara. Vindo do "líder da Igreja Timorense, a decisão de falar com a guerrilha foi um ato extraordinário de coragem, nas condições em que o país vivia", considerou.

Estas e outras intervenções levaram ao seu afastamento do cargo, tendo acabado por se retirar para Portugal, onde continuou, até à sua morte, em 1991, a criticar publicamente a brutalidade da ocupação indonésia.

Taur Matan Ruak sublinhou que a ação de Martinho Lopes motivou "sacerdotes e outros religiosos e religiosas católicos em todo o país, que partilharam com a população o sofrimento e os perigos".

O Presidente concedeu a Medalha da Ordem de Timor-Leste "à coletividade dos membros do clero que foi assassinada durante o período de 'setembro negro' de 1999", com referência concreta para os padres Karl Albrecht Karim, Hilário Madeira, Francisco Soares e Tarcisius Dewanto, as madres Erminia Cazzaniga e Celeste de Carvalho, o diácono Jacinto Xavier e os religiosos Valério da Conceição e Fernando dos Santos.

"Os nove mártires cuja memória hoje homenageamos estiveram entre as últimas vítimas das barbaridades cometidas durante a ocupação, à qual o referendo pôs fim, em benefício da humanidade, da dignidade dos timorenses e também da dignidade do próprio povo indonésio", considerou.

ASP // VM

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