Díli,
15 jul (Lusa) - Taur Matan Ruak, ex-Presidente da República timorense e líder e
uma nova força no palco político de Timor-Leste, disse hoje que os cidadãos
timorenses cresceram mais do que os líderes, sobretudo os históricos, a quem
deram uma "grande lição".
"Muito
mais. Os cidadãos cresceram muito mais do que os líderes, o que me admira. Eu
estou muito feliz com isso. Deram uma grande lição aos líderes, sobretudo aos
líderes históricos", disse em entrevista à Lusa na sede do Partido de
Libertação Popular (PLP) em Díli.
A
conversa decorre quando, no exterior da sede, no bairro de Vila Verde no centro
de Díli, se amontoam veículos carregados de apoiantes que se deslocam para o
comício que o partido tem em Tasi Tolo, nos arredores da capital.
Depois
de cinco anos como chefe de Estado, em que percorreu todos os sucos do país
(equivalente a freguesias) Taur Matan Ruak diz sentir "orgulho em liderar
um partido novo, pequeno, mas que tem toda a força para competir no plano
político" em Timor-Leste.
O
mote do partido para as eleições legislativas de sábado é "vota pela
mudança, vota por uma vida melhor", uma aposta num "novo
futuro", mas que mantém os vínculos ao passado.
A
imagem de Taur Matan Ruak guerrilheiro, de boina vermelha, cabelo e barba grande
- foi o último comandante das Falintil, o braço armado da resistência
timorenses - está nas t-shirts de muitos, enquanto a sua foto mais
institucional, de fato e gravata e cabelo curto domina o símbolo que surge em
12º lugar no boletim de voto.
O
símbolo do partido em si - em que predominam o verde da esperança e o azul
"do sonho" - é dominado por um 'lorico', uma catatua, que na mística
política timorense está associado à luta contra o poder dominante.
Abílio
Araújo - fundador da Fretilin, hoje empresário e que tem acompanhado vários
atos de campanha do PLP -, explica à Lusa que a ideia do lorico é, em parte,
inspirada num livro seu sobre os "loricos que voltaram a cantar".
A
ideia, disse, é que os loricos que se esconderam depois do falhanço das lutas contra
a administração portuguesa, ressurgiram depois em 1974 com a Fretilin e o seus
ideais.
"O
PLP considera que esses ideais, esses programas, esses valores, não foram
concluídos. E que por isso devemos retomar os valores de 1974/75. Esta é uma
nova vaga de loricos", disse.
Com
o ex-guerrilheiro e ex-Presidente estão alguns outros ex-combatentes, incluindo
o mítico L-7, Cornélio Gama ou "Jibóia Grande", um homem que garante
que a 25 de julho de 1989, algures na montanha da ponta leste de Timor-Leste,
lhe apareceu S. José.
A
visão levou-o a fundar a Sagrada Família, organização que se tornou mítica no
país, ainda que nem sempre por bons motivos.
Hoje
diz que está com Matan Ruak. "Sempre estivemos ao lado um do outro.
Durante 24 anos unidos" a lutar contra a ocupação indonésia. O PLP,
explica à Lusa, é o "partido do futuro" que "quer libertar o
povo".
Taur
Matan Ruak insiste que os Governos até aqui têm falhado "em muitos
aspetos", pecando porque "concentram demasiado o poder, os recursos e
os privilégios".
O
povo, disse, quer "ver resolvidos os seus problemas imediatos, básicos,
que afetam a vida no dia-a-dia e depois querem ser parte do processo da
construção do país, do desenvolvimento económico do país".
"Essas
são as exigências mais básicas que a população tem insistido junto de mim
durante o meu mandato nos últimos cinco anos", insiste.
Sem
querer tecer grandes comentários sobre potenciais resultados eleitorais ou
cenários, Matan Ruak diz que "vitória é o povo participar nas eleições e
determinar o seu futuro", ainda que deixe no ar o cenário que considera
adequado.
"Já
deram o privilégio à Fretilin de governar cinco anos, o CNRT governar e os dois
partilharem os últimos 10 anos. Eu acho que é a vez do PLP governar nos
próximos cinco anos", disse.
Aceitar
ou não participar num Governo de inclusão é que "apesar de não ser
impossível" parece "mais difícil", especialmente por considerar
haver "grande diferença nos programas do seu partido e das forças mais
fortes, CNRT e Fretilin.
"O
PLP opta por resolver, atender, responder às necessidades básicas, enquanto
CNRT e Fretilin concentram-se em dois grandes polos de desenvolvimento, Oecusse
e costa sul", disse.
ASP
// FPA
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