Lisboa,
22 jul (Lusa) - Muitos vieram do Porto ou de Aveiro para participar na escolha
dos responsáveis políticos de Timor-Leste, que hoje se realiza, apesar de
estarem a milhares de quilómetros do seu país, que alguns não visitam há muitos
anos.
Muitos
são jovens, a maior parte a estudar em Portugal, alguns, idosos, fazem parte da
lista de eleitores inscritos em Portugal e todos chegam com calma e orgulho à
Embaixada da República Democrática de Timor-Leste, em Lisboa, para votar nas
eleições legislativas do país que consideram seu, mesmo quando têm dupla
nacionalidade.
Esperam
numa fila, que, entre as 12:00 e 13:00, não era extensa, conversam em voz
baixa, seguindo o conselho de alguns cartazes.
Na
entrada de uma sala, dois jovens, com a camisola amarela ou azul do processo
eleitoral, verificam os cartões de eleitor.
Na
última parte da espera, os eleitores podem sentar-se. O passo seguinte é o
espaço amplo onde estão dez funcionários eleitorais e é apresentado o cartão,
recebido o boletim de voto, de dimensão equivalente a uma folha A3, e feita a
escolha entre as 21 hipóteses.
Para
encerrar o processo, os timorenses molham o dedo indicador em tinta roxa, um
procedimento igual àquele seguido em Timor-Leste, e que aí fará mais sentido
que em Portugal, para evitar votação repetida.
O
presidente do centro de votação, o diplomata Joaquim Fernandes, disse à agência
Lusa que, em Portugal, estão registados 584 eleitores e, cerca das 12:30, já
tinham votado mais de 200, "a maior parte vinda de fora - são estudantes
no Porto, Aveiro, Évora ou Coimbra, o resto é de Lisboa".
Para
acompanhar o processo, na capital portuguesa, está uma equipa a que se juntam
elementos vindos de Timor.
"A
embaixada e o Governo português têm uma boa coordenação e facilitam todo o
processo de recenseamento", disse o responsável, acrescentando que, desde
as 07:00 e até ao final da manhã, "tudo esteve calmo e correu muito
bem".
Joaquim
Fernandes referiu a expectativa de conseguir uma "adesão maior [que nas
eleições presidenciais], pelo menos 80%", até ao encerramento da votação,
que foi às 15:00, o mesmo horário seguido em Timor-Leste, mas com a diferença
de oito horas.
Lino
Borges, 32 anos, vive em Santarém há dois meses e meio, estuda língua e cultura
portuguesas, e depois irá para Castelo Branco para fazer um mestrado em
horticultura.
Descreveu
para a Lusa as eleições como um momento em que, como cidadão, pode exercer o
seu direito de escolher o que quer para o seu país. Neste caso, o objetivo é
que o governo legislativo "possa levar Timor a um futuro melhor".
Questionado
sobre as prioridades para Timor-Leste, Lino Borges salientou que o país tem
petróleo, mas "um dia vai acabar", por isso, espera que o governo dê
importância à agricultura, o segundo maior setor, para dar aos agricultores
"uma vida melhor".
Como
nos países desenvolvidos, em Timor-Leste também "há problemas de corrupção
e, como 'geração anticorrupção', espero que o próximo governo resolva" o
problema, apontou o estudante.
Dirce
Mouzinho, de 55 anos, saiu com 13 de Timor, esteve na Austrália e em Lisboa
antes de, há 27 anos, ir para Madrid. Veio a Portugal "com muito orgulho,
para votar" pelo seu país, pela primeira vez.
"O
meu pai foi morto na guerra e é um sinal de respeito, uma homenagem", este
voto, referiu Dirce Mouzinho à Lusa, acrescentando que pretende contribuir para
mudanças, principalmente na educação e na saúde pública, pois "o que se
passa agora é que as pessoas que têm dinheiro podem sair para se tratar, e o
povo não tem essa possibilidade".
A
educação e a saúde também são as prioridades apontadas para o futuro de Timor,
por Tiago Cardoso, o presidente da Associação Uma Timor Salurik, a viver em
Portugal desde 1975.
"Nós
timorenses que estamos no exterior não nos sentimos excluídos e somos ativos na
participação da vida política timorense", um país recente que "está a
aprender a viver com a democracia, com a construção de lideranças, e todos os
problemas decorrem desta situação", segundo Tiago Cardoso.
A
comunidade timorense em Portugal já foi "muito mais forte", descreve,
mas uma parte foi para Austrália, com a independência alguns regressaram a
Timor, outros foram para a Irlanda, por exemplo.
Para
Vanessa Sereno, de 27 anos, que trabalha em Lisboa e tem dupla nacionalidade, é
importante, através do voto, dar a sua voz e contribuir para escolher quem vai
dirigir o seu país, mas também como mulher, quer "ser um exemplo",
pois as mulhres "têm de ter uma voz e uma posição na política".
Esta
votação, de onde sairão os 65 membros do Parlamento Nacional, que terá depois o
poder para formar o VII Governo constitucional, é o segundo ato eleitoral,
depois das presidenciais de 20 de março passado, organizado pelas autoridades
timorenses, sem assistência das Nações Unidas.
Em
jogo estão os 65 lugares no Parlamento que atualmente é composto por 30
deputados do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), que, em 2012,
obteve 36,68% dos votos, 25 da Frente Revolucionária do Timor-Leste
Independente (Fretilin), que obteve 29,89%, oito do Partido Democrático, que
obteve 10,30%, e dois da Frente Mudança, que obteve 3,11%.
EA
(ASP) // MAG
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