O líder da oposição timorense,
Xanana Gusmão, defendeu hoje os comentários críticos que tem feito na campanha
sobre outros líderes políticos e o partido no Governo, a Fretilin, insistindo
que pretende "aclarar algumas coisas".
Em entrevista à Lusa, o líder da
Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) disse que nas campanhas desde 2007
nunca atacou ou respondeu a ataques, mas que, na campanha para as legislativas
de 12 de maio, foi "forçado a aclarar algumas coisas".
"Não dava para não falar.
Inclusive o meu próprio partido dizia: estás a esconder alguma coisa? Será que
estão a dizer a verdade? Tens que falar. No início não queria mas temos equipas
que estão a acompanhar e eu ia vendo os comentários. Quando eles pararem eu
paro", afirmou na entrevista, em Pante Macassar, no enclave de
Oecusse-Ambeno.
Responsáveis da Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) rejeitam ter feito
provocações e insistem que nem sequer estão a responder às repetidas críticas
ao partido e aos seus líderes, que têm dominado a campanha da AMP.
As críticas têm-se dividido, no
essencial, em dois aspetos: referências ao tema das fronteiras marítimas e do
Mar de Timor e ao passado da luta, nomeadamente o que ocorreu em torno à
Fretilin no país na primeira década de ocupação indonésia.
Em relação às negociações sobre o
Mar de Timor, Xanana Gusmão disse que começou a usar a campanha para explicar aspetos
relacionados com o tema porque "a outra parte provocou", referindo-se
ao ex-Presidente e atual ministro de Estado José Ramos-Horta.
O líder partidário disse que era
necessário esclarecer qual tinha sido a sua ação no processo que levou ao
tratamento de delimitação de fronteiras, assinado a 06 de março com a
Austrália, e o acordo anteriormente em vigor, negociado por Mari Alkatiri e
José Ramos-Horta, conhecido como CMATS.
Era preciso "compreender que
o CMSTAS tinha uma cláusula que dizia que durante 50 anos não se discutia [as
fronteiras] e depois dos 50 se as empresas dissessem que ainda havia muito gás
para retirar, também não", afirmou.
Xanana Gusmão recordou que quando
o CMATS estava a ser negociado - era então Presidente da República - pediu a Mari
Alkatiri e a Ramos-Horta para incluir nas negociações a questão da fronteira e
do gasoduto para Timor-Leste.
Prometeu depois do resultado
"chamar a imprensa e dar o seu apoio oficial" mas depois, com um
telefonema inesperado "num jogo de futebol", com José Ramos-Horta,
confirmou que não tinham falado da fronteira e que o acordo estava assinado.
Insiste que no regresso o assunto
foi referido numa primeira reunião semanal com o então primeiro-ministro, Mari
Alkatiri, que duas semanas depois lhe recordou a promessa da declaração
pública.
"É verdade, disse-lhe. Mas o
senhor primeiro-ministro se se lembra, eu pedi que quando regressassem me
informassem se falaram sobre a fronteira e sobre o gasoduto para Timor. O
primeiro-ministro Alkatiri não disse nada, despediu-se e eu não fiz nenhuma
declaração", contou.
Questionado pelo facto de ter
assinado o acordo, Xanana Gusmão disse que tinha poderes limitados, já que
qualquer lei vetada seria devolvida com o apoio de dois terços do parlamento.
Por isso, disse, esperou e
iniciou o longo processo para "anular o CMATS" - o que ocorreu em
2017 - e avançar com a conciliação compulsória que permitiu levar ao tratado de
fronteiras marítimas assinado no passado dia 06 de março.
Xanana Gusmão rejeitou ainda os
argumentos de que sem a negociação de Mari Alkatiri no Tratado do Mar de Timor
de 2002 e no CMATS de 2006, Timor-Leste não teria dinheiro.
Considerou que isso representa
uma "falta de memória de muitos" que o deixa "extremamente
preocupado", afirma que também participou no processo do primeiro tratado
e que Mari Alkatiri foi ajudado por altos funcionários da ONU.
"Não me venham dizer que foi
ele que conseguiu. Se tivesse sido ele a conseguir não teríamos começado a
receber dinheiro logo em 2005. Antes já estava tudo pronto. Não foi em dois
anos que começaram a construir", disse.
"Se ele conseguiu o 90-10 [a
partilha de receitas entre Timor-Leste e a Austrália] é diferente. Mas não pode
dizer que ele é que conseguiu aquilo tudo. Não foi ele. Eu estava lá direta ou
indiretamente envolvido", insistiu.
Admitindo que em 2002 pensar na
questão da fronteira “era impossível", Xanana Gusmão diz que o problema
não é com o Tratado do Mar de Timor, mas sim com o subsequente acordo.
"O CMTAS não quebrou toda
aquela insistência nossa sobre a fronteira. O CMATS parou tudo e decidiu, não
falem mais de forneiras. O CMATS era inaceitável. Tão inaceitável, que comecei a
preparar o processo levou à conciliação", afirmou.
Lusa | em SAPO TL
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