O líder timorense Xanana Gusmão
garantiu hoje que se a coligação que lidera vencer as legislativas de 12 de
maio em Timor-Leste, assumirá "numa primeira fase" o cargo de
primeiro-ministro, do qual se demitiu em 2015.
"Pelo menos numa primeira
fase. Somos uma coligação de três partidos diferentes, vamos ver como gerimos
isso. Tenho que aceitar isso", afirmou o líder da Aliança de Mudança para
o Progresso (AMP) em entrevista à Lusa.
"Se colocasse o interesse
individual sobre o da nação poderia dizer não. Mas jogando entre o interesse
individual e do partido e o do país, tenho que saber gerir em termos de tempo e
de outros fatores, para tomar uma decisão mais cedo ou mais tarde",
afirmou o antigo Presidente timorense.
Xanana Gusmão recusou fazer
cenários sobre eventuais acordos depois das eleições antecipadas, se ninguém
tiver maioria absoluta, e declarou-se "aberto a tudo e a nada",
sublinhando que progressivamente quer abandonar a liderança do Governo.
"Queria progressivamente
ir-me afastando da vida política. Disse isso agora ao Taur. O Taur disse: tem
calma ainda", contou à Lusa.
"Eu não digo que estou
farto, mas é tempo de começar a encorajar mais as pessoas. Vou prestar mais
atenção à descentralização. Depois da descentralização temos o ordenamento do
território. Para começarmos a empurrar a economia é preciso muita assistência
lá em baixo", disse.
Xanana Gusmão lidera a AMP, uma
coligação de três partidos da oposição, que são maioria no parlamento nacional:
o seu Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), o Partido Libertação
Popular (PLP) de Taur Matan Ruak e o Kmanek Haburas Unidade Nacional Timor Oan
(KHUNTO) de José Naimori.
Um dos debates tem sido se, no
caso de vitória da AMP, Xanana assumiria o cargo de primeiro-ministro ou se o
cederia a Taur Matan Ruak.
A própria coligação é inesperada
e seria quase impensável há meio ano, com os partidos a apresentarem
"programas muito diferentes" às eleições de julho de 2017, tendo-se
unido "para aprenderem juntos" e ultrapassar as diferenças.
"O que uniu as três bancadas
foi tentar ajudar-se uns aos outros a compreender, a ver. Isto é que uniu. O
que nos podia unir é uma visão sobre o desenvolvimento de Timor, aquilo que
podemos dar ao povo e isso uniu", afirmou.
A plataforma política dos três
nasceu de uma visão para o país e porque "cada um não se restringiu no
individualismo de visões e opiniões, sacrificou e assumiu o coletivo",
postura que "fez recordar 2007".
Da aproximação, disse, nasceu um
detalhado e vasto programa, que no caso de vitória da AMP vai ser transformado
num programa de Governo, com ações calendarizadas, e onde é preciso ainda
introduzir "um bocado de realismo".
Xanana Gusmão admitiu que é
preciso trabalhar mais nos quadros do partido, onde há "grande
potencial", especialmente dos jovens que, "talvez pelo sistema",
têm mais instrução, mas centrada apenas no que aprenderam "e não sabem olhar
para os lados, ou para a frente".
Ao reconhecer a perceção de que
"sem Xanana o CNRT pode acabar", o líder timorense disse que tem no
partido "um potencial enorme, muito boa vontade" e que "é
preciso é educar essa vontade, reorientar esse potencial" para o futuro.
"Então é melhor ser enquanto
estou vivo, enquanto posso pensar, os posso ajudar da melhor forma",
afirmou.
Após a derrota frente à Fretilin
em 2017 ter deixado "dirigentes e militantes constrangidos", Xanana
Gusmão explicou que depois se começou a pensar no que podia ser feito
"para trabalhar como oposição, internamente".
Xanana Gusmão disse que foi com
"grande surpresa" que percebeu, quando já estava fora do país a
negociar as fronteiras com a Austrália, que a formação da coligação inicial de
Governo tinha falhado.
Um falhanço que atribui aos
líderes da Fretilin que, disse, mostraram "falta de respeito pelas pessoas,
pela diferença de opiniões", um fator que "em vez de unir,
dividiu", levando a que uma coligação que começou a ser de 43 lugares -
Fretilin, PLP, PD e KHUNTO - tenha acabado por ser apenas da Fretilin e PD
(minoritária, com 30 dos 64 lugares no parlamento).
A possibilidade do CNRT voltar
atrás, para ajudar a Fretilin, seria uma mensagem contraditória, especialmente
depois das críticas da campanha.
"Durante um mês inteiro de
campanha ouvimos da parte da Fretilin: o CNRT não sabe governar. Porque não sabe
governar é que chamou outros partidos, incluindo a Fretilin", disse.
"Se não sabíamos governar,
demos os parabéns à Fretilin, dissemos: 'Por favor governem, governem bem para
nós também aprendermos. Agora vamos aprender como oposição, mas depois vamos ver
como vocês governam para aprendermos a governar", disse.
Questionado sobre se não era
contraditório o facto de haver uma nova AMP depois de ele próprio dizer que não
haveria, Xanana Gusmão explicou que apesar de saber "que haveria
aproximações de outros partidos" como em 2007, não iria atuar de imediato.
"Queria que a Fretilin
tivesse toda a liberdade para contactar os partidos. Isso para ser homem de
palavra, um partido com uma justeza de ideias", disse.
Lusa | EM SAPO TL
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