terça-feira, 16 de outubro de 2018

Sócios de seguradora timorense, sob investigação, trocam acusações


Díli, 15 out (Lusa) - Acionistas da seguradora timorense NITL trocaram hoje acusações sobre a responsabilidade pela situação da empresa que levou à intervenção do Banco Central de Timor-Leste (BCTL) e à apresentação de suspeitas de vários crimes financeiros ao Ministério Público.

Em causa, está uma queixa entregue pelo BCTL por suspeitas de fraude e lavagem de dinheiro, em particular "um número de sérias irregularidades procedimentais e financeiras em violação da Lei dos Seguros, incluindo desvio de fundos, cometidas por altos responsáveis" da National Insurance Timor-Leste (NITL).

Eugene Ong, sócio minoritário da NITL, acusou, em declarações à Lusa em Díli, o sócio maioritário, Collin Yap, de ter desviado fundos para despesas pessoais e dinheiro para projetos noutras empresas.

Collin Yap vive atualmente em Singapura e nega qualquer irregularidade, acusando o BCTL de "motivações políticas".

"O que o BCTL fez foi contra a lei. Nenhum dos diretores foi chamado para entrevistas ou questionado. Nunca me chamaram. E eu ofereci-me, diretamente a responsáveis do BCTL, para ir lá e ser entrevistado. E eles nunca quiseram", afirmou Yap.

Ong possui 30 por cento da empresa mas nunca fez parte do Conselho de Administração, que é nomeado por Collin Yap (40%) e da empresa que este detém, a First Capital (30%).

Num dos seus comunicados sobre o caso, em novembro de 2017, o BCTL contradiz essa informação, explicando que na sua investigação notificou "os infratores envolvidos para que se pronunciassem sobre os factos imputados, tendo a referida entidade e os seus membros, apresentado defesas para o efeito".

O BCTL analisou "exaustivamente" as "defesas apresentadas" - que nunca identifica diretamente - tendo decidido condenar a NITL, um ex-membro e membros do seu Conselho de Administração "pela prática de diversas infrações simples, graves e muito graves".

Eugene Ong explica que a sua motivação se deveu ao facto da empresa, segundo os seus responsáveis, não estar a fazer dinheiro - apesar do aumento em clientes e valores assegurados e de negócio no valor de 5 milhões de dólares por ano.

"Dei conta de que havia valores elevadíssimos de despesas pessoais do Colllin cobrados à empresa. Brincos de diamantes, viagens de ski ao Japão. Coisas que normalmente não poderiam fazer parte dos gastos de uma empresa", afirmou.

Segundo documentos a que a Lusa teve acesso, existem detalhes de compras de brincos de diamantes e outros gastos (de outubro de 2014), em folhas de despesa da NITL em que a assinatura de quem realizou as despesas e as autorizou era a mesma: Collin Yap.

O maior impacto nas contas da empresa, porém, foi o desvio de 2,5 milhões de dólares da NITL para a empresa Timor Capital Partners Asia (TCPA) - de que Collin Yap é sócio - para financiar um projeto de construção de um hotel no enclave de Oecusse Ambeno, explica Ong.

Essa autorização de "avanço de dinheiro" está num documento, a que a Lusa teve acesso, datado de 30 de junho de 2014 e assinado pelos quatro membros do Conselho de Administração: Collin Yap, Francisco Pereira, Thokur Shetty e Fong Ngang Seng.

Em parte, devido a esse desvio de fundos, diz Ong, a NITL não pagou à sua resseguradora cerca de 1,2 milhões de dólares, valor correspondente ao seguro das centrais elétricas timorenses em 2015, disse Ong.

"Esse documento é legitimo, foi um empréstimo legitimo entre empresas. Dos 2,5 milhões, apenas foram transferidos 1,9 milhões", garante Yap que diz estar desligado de Timor-Leste "desde 2015", embora se mostre disponível para ser ouvido pelo BCTL e para responder perante o Ministério Público.

Ong explica que depois de confirmar a situação em que se encontrava a empresa foi ele próprio, em 2016, denunciar a situação junto do Banco Central de Timor-Leste (BCTL), a entidade que tem a tutela de supervisão do setor dos seguros no país.

Ong explica que a NITL tinha uma "excelente reputação" no mercado, com mais de 500 clientes - incluindo entidades internacionais como embaixadas e o Governo - e que essa credibilidade se reforçou com o pagamento do maior desembolso de seguro: 1,3 milhões de dólares por um incêndio num armazém em Díli.

"É muito triste porque fomos os primeiros e éramos líderes de mercado. E agora vemos outras empresas a comer o mercado que nós fizemos e que credibilizámos", afirmou.

ASP // PJA

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