Jacarta, 18 mai 2019 (Lusa) -- O
timorense que foi embaixador Indonésio, Lopes da Cruz, está entre os derrotados
do referendo de 1999 em Timor-Leste - em que uma ampla maioria escolheu a
independência - mas, 20 anos depois, continua a defender a sua posição.
"Eu acho que, defendi algo
para o bem de Timor. Não só dos que estão a favor da independência, mas dos que
estão a favor da integração. Acho que em 1999, se a autonomia ganhasse, também
seria uma solução boa", conta Lopes da Cruz, numa conversa alargada com a
Lusa na sua casa em Jacarta.
"Seria uma autonomia
especial, como Macau sobre China. Foi pelo que lutámos nas nações unidades, foi
o que defendi nas Nações Unidas", argumenta, recordando o seu papel, ao
longo de décadas, de defesa da ocupação indonésia de Timor-Leste que terminou,
faz este ano duas décadas.
Uma postura em que mantém a
defesa da ação da Indonésia, em que continua a justificar a invasão e a
atribuir a culpa da violência aos timorenses, mesmo perante os factos que
mostram o envolvimento claro da política, militares e resto do Estado
indonésio.
"Quando Portugal nos deixou
bem sequer tínhamos 10 pessoas formadas. Depois da presença da indonésia eram
2.000 pessoas formadas. E a própria língua: acho que nem sequer 30% dos
timorenses falam português, mas mais de 80% falam indonésio", afirmou.
"Os militares [indonésios]
não têm culpa. Acho que o Governo tem muita responsabilidade nisso e devia ter
controlado mais os militares. Mas se formos a ver, há mais mortandade entre
timorenses do que entre os timorenses e a tropa indonésia", insiste.
Para saltar depois para a guerra
civil em Timor-Leste em que, diz "só em Aileu morreram 800 pessoas".
"Eu pessoalmente perdi dois
irmãos. Perdi dois irmãos não na Indonésia, mas às mãos dos nossos irmãos da
Fretilin que os mandaram matar. Acho que a Indonésia não conhecia a situação em
Timor. Como há conflitos entre os timorenses, os timorenses aproveitaram-se da
situação para tirar vinganças", afirmou.
"Morreu bastante gente. Mais
entre os timorenses do que mortos pela tropa indonésia. E acredito nisso.
Quando a indonésia entrou em Timor-Leste não sabia quem era Fretilin ou da UDT.
Os timorenses é que começaram a dizer, este é da Fretilin, este é da UDT: nós é
que apontamos o dedo a esta gente", afirmou.
Mesmo hoje, quase 20 anos depois
do referendo em que os timorenses escolheram a independência, e 17 anos depois
da restauração da independência, Lopes da Cruz mantém a linha que defende desde
1975.
Uma defesa da presença indonésia
em Timor-Leste, ou pelo menos da autonomia sob controlo indonésio, posição que
o tornou, ao lado do já falecido ministro dos Negócios Estrangeiros Ali Alatas,
uma das principais vozes de Jacarta sobre questões timorenses.
Como muitos outros timorenses que
mantiveram fidelidade a Jacarta, Lopes da Cruz é funcionário público (agora na
reforma), visita Portugal de vez em quando, mas não sabe ao certo quando
regressará a Timor-Leste, onde não vai "há uns anos".
Da Cruz - como diz que o
ex-Presidente indonésio Suharto o chamava -, diz que se tem que "começar
do principio", quando ainda era líder da União Democrática Timorense
(UDT), o partido que, explica, "queria uma independência, mas por etapas,
sempre com uma ajuda especial de Portugal mas também da Indonésia e da
Austrália".
Argumenta que as tendências
"comunistas" de alguns no seio da Fretilin -- partido que viria a
declarar a independência em 1975 -, "não caiam muito bem aos grandes"
países, e que por isso a "UDT queria mostrar ao mundo que os timorenses
não eram comunistas".
Lopes da Cruz diz que defendeu a
"integração" como uma "tábua de salvação" perante a
"atitude agressiva de invasão de Timor-Leste" que era, na altura,
"um navio prestes a fundar".
Sobre se a Indonésia deve pedir
desculpa, Lopes da Cruz é claro: "se for para pedir desculpa Portugal tem
que pedir desculpa primeiro, porque foi Portugal que abandonou Timor em
1975".
ASP // PJA
2 comentários:
O Sr. Lopes é lixo dos Indonésios.
O povo de Timor já não é como era. Estamos numa liberdade que todas as pessoas alegrem, gritem e podem fazer àquilo que quer. Já não há
Intimidações cruéis e entre outras. Obrigado
A alva estrela de 20 de Maio refulgia nos picos nevoados da majestosa corrilheira de Tatamailau..
Uma estrela que indicava a luz da verdade,que tracava o caminho da liberdade e apontava para o destino do Direito....
O DIREITO INALIENAVEL de um povo..
A integracao era apenas um sonho de um grupo de frustrados
A independencia era uma causa justa conquistada pelos Revolucionarios.
DOS FRACOS NAO REZAM NA HISTORIA
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