segunda-feira, 27 de abril de 2015

Benfica e Porto deitam-se no divã. Jackson e Luisão são os ases psicológicos - Liga Portugal


A Renascença foi à procura do xadrez mental do clássico. Qual é a equipa mais forte psicologicamente? Que jogadores aguentam melhor a pressão? E pior? As tácticas e as análises de dois especialistas em Psicologia do Desporto. O campeonato nacional também se ganhará com a cabeça.

João Carlos Malta

Provavelmente serão os golos de Jackson Martinez ou de Jonas a decidir o clássico do título. Será o génio de Gaitán ou de Quaresma a fazer a diferença. Mas o jogo não se resume à técnica. A parte mental pode ser decisiva quando duas equipas de valor semelhante estão frente-a-frente ou pelo menos fazer “aquela” pequena diferença.
 
Fomos à procura dos pontos fracos e fortes de dragões e águias, e procurar pistas sobre qual será o gigante que estará mais próximo de tombar no próximo domingo.

Ser melhor psicologicamente não vence jogos por si, mas que ajuda, ajuda. Vamos então deitar Benfica e Porto no divã e deixar que Tomaz Morais, especialista em aconselhamento desportivo e ex-selecionador de râguebi, e Jorge Silvério, mestre em Psicologia do Desporto, fazer o seu trabalho: a análise. 

Quem é mais forte psicologicamente?

A resposta é de tripla para Jorge Silvério. Ainda assim uma pequena vantagem para quem privilegiou a estabilidade. “No Benfica há um treinador que está há muitas épocas no clube, temos jogadores muito experientes que já tiveram vantagem no campeonato e perderam, mas que também já ganharam. Olhando para o factor estrutural haverá mais vantagem do Benfica”, sublinha o mestre em Psicologia do Desporto.

A força psicológica do FC Porto foi testada este ano na Madeira, no jogo com o Nacional, depois de o Benfica ter sido derrotado em Vila do Conde pelo Rio Ave. O resultado surpreendeu todos: “Outro Porto com jogadores da formação, como era normal antes, não deixaria escapar aquela oportunidade”. Silvério diz que há muitos jogadores novos que ainda não perceberam inteiramente “o que é o FC Porto”. Portanto, ligeira vantagem para os encarnados.

Tomaz Morais pega na caneta e põe um “x”. Empate no braço-de-ferro psicológico. “O Benfica jogando em casa com menos sobrecarga nos últimos tempos, e só com este jogo, parece-me que do ponto de vista mental pode estar a preparar-se melhor”, diz primeiro. Mas? “O Porto sabe que o jogo é de tudo ou nada e vem de uma derrota difícil. O regresso do Alex Sandro e do Danilo pode ajudar”, acrescenta.

Efeito de Munique

Não há panos quentes aqui. Uma derrota de 6-1 é sempre uma derrota de 6-1. Terá influência. Ainda assim, é Silvério que lhe dá mais relevo.

Para o professor universitário não há botões de “on” e “off”. Os primeiros minutos poderão ser jogados sobre brasas pelos azuis. “Se começa a correr mal e se sofrem um golo cedo, pode vir o fantasma e a recordação do jogo de Munique”, lembra. Para Silvério cabe ao Benfica “potenciar e aproveitar esta fragilidade que foi criada por este resultado”.

Tomaz desvaloriza. Diz que uma derrota pesada deixa marcas, mas “na segunda parte [na Alemanha] já houve reacção”.

Para os da Luz, os seis de Munique terão efeito zero. “Os jogadores do Benfica têm demasiados quilómetros nas pernas e na cabeça para se preocuparem com essas coisas. Estão preocupados é como o Porto se poderá posicionar em campo”, defende o perito em aconselhamento desportivo.

Como é que se eleva a moral? A prática

Quais são os truques usados para fazer com que o jogador puxe tudo o que tem dentro de si e canalize as forças no jogo? Ou melhor, aquilo que o adepto percebe melhor, como é que se faz com que “ele vá a todas”?

Tomaz Morais dá o exemplo do trabalho com imagens. “Play” no vídeo e vamos à motivação. Táctica simples: valorizar o que temos de melhor e encontrar os pontos fracos dos adversários para atacar.

“Faz-se uma auto-análise a cada jogador e podemos fazê-lo sentir que ele está muito bem, está forte. Podemos ainda fazer ver onde estarão as fragilidades do adversário”, resume. O resultado deste jogo psicológico é o de aumentar a autoconfiança.

Morais aconselha ainda a não “mudar a rotina”. Porquê? “Aumenta a ansiedade e a ansiedade leva a cometer erros. O melhor é não alterar nada”, sublinha.

O desempenho psicológico ganha um jogo?

Silvério joga ao ataque. Admite ser suspeito. É o seu “métier”. Mas avança: “A equipa que controlar melhor as suas emoções, que for capaz de ser tenaz e jogar melhor com aquilo que o jogo lhe for dando [está mais próxima de ganhar]”.

E balanceia a resposta com o lado empírico. Tripartindo os factores em jogo: físico, técnico e psicológico. Os atletas e os treinadores enfatizam a importância da cabeça estar a 100%.

Morais aposta numa resposta em contenção. “Não ganha, mas repare, o corpo só está forte quando a cabeça está forte. Tudo o que se faz do ponto de vista técnico e táctico tem a parte mental incluída”, sublinha.

Os jogadores mais fortes e mais fracos?

As dificuldades de escolha foi nos “menos”. Os “mais” estavam na ponta da língua.

As escolhas de Tomaz Morais: Jackson do Porto e Jonas do Benfica são os ases de trunfo. O colombiano “não treme”, qualquer que seja o ambiente ou o jogo. Desempenho sempre em níveis altíssimos. Jonas, diz, vai pelo mesmo caminho. Mas este jogo será um teste. “A minha expectativa é ver se no jogo com o Porto consegue manter o nível de facturação e se consegue evidenciar o controlo emocional como até aqui”, define.

Este especialista vacila um pouco em apontar dois nomes para “duques”. Ainda assim, e frisando que são jogadores fortes mentalmente, nomeia Quaresma e Maxi Pereira. O primeiro, porque o virtuosismo o faz ir do oito ao 80. “Pode fazer um jogo fantástico ou não existir”, sintetiza.

O encarnado ferve em pouca água. Baseia o jogo em duelos individuais e muitas vezes a emoção fá-lo perder o controlo. Pode por aí gerar desiquilibrios.

Silvério diz que não vai falar das debilidades. Centra-se nos pontos fortes. Luisão na berlinda. Tomaz também já o tinha referido. “É o capitão e um referencial de estabilidade”, refere. Do outro lado do tabuleiro, a escolha recai em Helton. “Pelas mesmíssimas razões”.

"Mind Games". Quem é melhor? Jesus ou Lopetegui?

Não há Mourinho, a análise do “bate boca pré-jogo” fica mais cinzenta. Logo dá empate. Não será um zero a zero, porque ambos os treinadores arriscam sempre nas conferências de imprensa.

Ainda assim, Silvério e Morais são unânimes. Tanto Jesus como Lopetegui trabalham bem a área. Apenas um reparo. Às vezes, os tiros de "JJ" saem-lhe pelo sítio menos favorável, a colatra.

E depois do clássico? 1x2

1-Se o Benfica ganhar não há quase espaço para dúvidas, conquistará o 34º título nacional.

“É uma vantagem de seis pontos e do outro lado haverá uma reacção de desânimo. Serão duas derrotas seguidas e passa a ser muito difícil atingir os objectivos da época”, atira Jorge Silvério.

“O Benfica fica com uma margem boa. Não estou a ver como poderá deixar fugir este campeonato. Ainda há um ou outro jogo com alguma intensidade”, chuta Tomaz Morais. “Duas derrotas desanimará em muito o Porto”, recarga.

 X- Tudo em aberto. Mas a vantagem permanece do lado do Benfica. No entanto, o passado mostra que três pontos de vantagem para o Benfica e quatro jornadas para jogar não são sinónimo de título. A história, segundo diz o povo, não se repete. Mas deixa avisos.

“Há mais vantagem para o Benfica apesar de tudo. Mantém a vantagem pontual e ganhou no Estádio do Dragão”, lembra Silvério.

 2- Se o FC Porto ganhar, então o passado cairá nos ombros do Benfica com o peso brutal de um fantasma.


Assombração? “Se o Porto ganhar será o ressuscitar do fantasma de algumas épocas em que tinham uma vantagem grande, mas perderam o campeonato”, finaliza Jorge Silvério.

Sem comentários: