sexta-feira, 26 de junho de 2015

Secretário-executivo da CPLP afirma "não ter feito nada" fora da função de embaixador


Lisboa, 25 jun (Lusa) - O secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) afirmou hoje que "não fez nada fora" daquilo que era exigido como embaixador de Moçambique no Brasil, cargo que ocupou entre 2006 e 2012.
Murade Isaac Murargy reagia à notícia publicada pela revista brasileira Veja, de acordo com a qual o nome do embaixador moçambicano aparece citado numa investigação sobre desvios na petrolífera do Brasil, Petrobras.

"Não se está a dizer nada de novo (...) a diplomacia moçambicana é económica e como embaixador de Moçambique desenvolvi todo um trabalho com vista a atrair investimentos e desenvolver relações comerciais entre os dois países", declarou à Lusa.

"Contactei com o Presidente Lula e com outros dirigentes brasileiros, com partidos da oposição, com as empresas citadas [pela Veja] e tive muitos encontros com eles precisamente para promover os investimentos em Moçambique", explicou.

"É o meu trabalho, estava dentro das minhas funções. Não fiz nada fora daquilo que me era atribuído", sublinhou.

O responsável da CPLP disse que "depois de 2012", ano em que veio para Portugal, "nunca mais" contactou com Lula da Silva.

"Não estou a entender a polémica à volta disso, naturalmente se citam o meu nome é porque tive contactos com o Presidente Lula (...) Nunca falámos com a Petrobras que nunca esteve envolvida em nenhum investimento em Moçambique. Com as outras, sim, têm projetos em Moçambique", como a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a OAS, disse.

"Que esteja envolvido nisso, é outra história. Eu promovi os investimentos, atraí os financiamentos, desenvolvi relações comerciais (de Moçambique) com o Brasil, tudo isso dentro das minhas funções", repetiu.

O secretário-executivo da CPLP garantiu que vai continuar o seu trabalho.

"Vou continuar a fazer isso, a levar as empresas brasileiras, portuguesas e moçambicanas... agora num espaço maior que é o espaço CPLP", declarou, dando como exemplo a assinatura de um contrato que promoveu, na quarta-feira, no âmbito da primeira conferência "Energia para o Desenvolvimento da CPLP", entre uma empresa brasileira e a petrolífera estatal de Timor-Leste, "Timor GAP", para estudos de viabilidade de uma refinaria no país asiático.

"Eu promovi isso, é o meu trabalho, nada é escondido", afirmou, sublinhando "essas notícias não vão limitar" o seu trabalho. "Vou continuar a fazer esse trabalho".

Chamadas telefónicas intercetadas pela Polícia Federal brasileira e atribuídas e executivos da construtora OAS trataram de alegados acordos para negócios em países latino-americanos e africanos.

Numa das conversas, os executivos mencionavam uma aproximação com o então embaixador Murargy, por intermédio de contactos de uma pessoa denominada "Brahma", que seria o ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo um documento da investigação citado pela revista.

A 14.º fase da 'Operação Lava Jato', feita na última sexta-feira, resultou na prisão de executivos e presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez. A conversa divulgada pela Veja teria ocorrido em 2013 e as autoridades estão a investigar se há ilegalidade no encontro agendado entre os executivos e o então embaixador.

Ainda na mesma conversa, os executivos falam sobre uma viagem de Lula da Silva ao Chile, para uma conferência, financiada pela construtora.

Questionada pela Lusa, a Polícia Federal brasileira não se pronunciou até ao momento sobre o caso.

EJ (FYB) // VM

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