quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Medidas de austeridade em Macau apesar dos cofres cheios



Macau, China, 16 dez (Lusa) -- O ano de 2015 em Macau ficou marcado pela queda das receitas do jogo para valores de há cinco anos que levaram à adoção de "medidas de austeridade", embora os cofres da região continuem cheios.

As receitas brutas dos casinos de Macau -- o único local na China onde o jogo é autorizado -- iniciaram uma curva descendente em junho de 2014 e entre janeiro e novembro deste ano somaram 212,5 mil milhões de patacas (25,163 mil milhões de euros), valor que, apesar de elevado, é 35,3% inferior ao do mesmo período de 2014. Com uma economia assente no jogo, de que dependem também as receitas públicas, o PIB de Macau caiu 25% nos primeiros nove meses do ano.

Para o economista Albano Martins, "a surpresa de 2015" foi a continuação da quebra das receitas no segundo semestre.

"Era expectável que houvesse um crescimento zero, talvez a um dígito relativamente baixo, mas não a dois dígitos tão elevados", disse à agência Lusa.

Na origem da queda das receitas do jogo em Macau está a campanha anticorrupção lançada pela China (de onde vem a maior parte dos clientes dos casinos) e o controlo mais apertado da saída de capitais do país. Fatores "a que provavelmente se associa o facto de haver alguma neblina relativamente ao jogo em Macau, devido à política assumida pelo governo de crescimento de apenas 3%" do número de mesas nos casinos, diz Albano Martins.

"O ambiente económico de Macau não foi assim tão bom, comparando com o passado", disse à Lusa, por sua vez, Sonny Lo, professor e diretor do Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Educação de Hong Kong, para quem 2015 foi "um ano difícil" para os casinos, com os operadores a fazerem "ajustamentos", apostando no "desenvolvimento dos setores extrajogo".

Em agosto, as receitas dos casinos caíram para 18,621 mil milhões de patacas (2 mil milhões de euros), abaixo da fasquia mínima de 20 mil milhões de patacas que o Governo da região havia definido para fazer entrar em vigor "medidas de austeridade".

Apesar do nome, as medidas pouco têm a ver com a austeridade aplicada na Europa. Em concreto, todos os serviços públicos e organismos especiais passaram a congelar 5% das despesas orçamentadas para a aquisição de "artigos para o funcionamento diário dos serviços ou de bens consumíveis" e 10% do orçamento para investimento (sem incluir o Plano de Investimento e Despesas de Desenvolvimento da Administração, o PIDDA).

Os impostos aplicados sobre as receitas do jogo são a grande fonte de receita pública de Macau, a qual caiu 32,2% nos primeiros nove meses do ano, em comparação com o mesmo período de 2014. Ainda assim, entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulou um saldo positivo de 30,964 mil milhões de patacas (3.411 milhões de euros), excedendo o previsto para todo o ano (18,8 mil milhões de patacas ou 2 mil milhões de euros).

Para 2016, o Governo de Macau prevê nova queda das receitas públicas e do jogo, mas continua a esperar fechar o ano com um superavit de 18,213 mil milhões de patacas (2,12 mil milhões de euros).

"Crise no sentido das economias europeias, que têm dívida pública e défice público, não temos, claro que não (...), mas temos uma recessão", observou Albano Martins, que "esperava uma recessão, mas não nesta fase".

O economista estimava que isso não acontecesse antes de 2017, quando se espera que todos os novos empreendimentos de jogo fiquem concluídos no COTAI -- a 'strip' de Macau.
"Porque nessa altura, a formação de capital bruto ia desaparecer, ou seja, o investimento brutal ia desaparecer (...) e haveria uma pequena recessão técnica de três, quatro ou cinco por cento", justificou.

O economista alertou para outros problemas: "Embora as pessoas pensem que [a recessão] só está na área do jogo, não é verdade, porque o consumo intermédio do jogo está acima de 30%", ou seja, este setor "vai buscar a outras atividades os seus próprios 'inputs' para poder gerar as receitas e algumas delas são em Macau".

FV (ISG/MP/ DM) // PJA

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