Díli,
16 dez (Lusa) -- O secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, diz que não
está à venda e rejeita que tenha sido "comprado" pelo ex-primeiro-ministro
Xanana Gusmão, que o convidou para gerir a região administrativa especial do
enclave timorense de Oecusse.
"Se
houvesse dinheiro para me comprar já os indonésios me teriam comprado há muitos
anos. Nem a intenção de Xanana era de me comprar, nem há, da minha parte,
qualquer dúvida de que não iria vender-me por dinheiro", afirmou em
entrevista à Lusa.
Mari
Alkatiri, que em 2006 se demitiu do cargo de primeiro-ministro, depois de
fortes pressões dentro e fora de Timor-Leste lideradas, em parte, pelo então
chefe de Estado Xanana Gusmão, foi nomeado este ano responsável da Região
Administrativa Especial e da Zona Especial de Economia Social de Mercado
(ZEESM) de Oecusse-Ambeno.
A
ZEESM é um dos projetos mais polémicos dos últimos anos em Timor-Leste com
contestação da parte de vários setores em Timor-Leste tanto pelo orçamento
destinado à região, que este ano foi de 116 milhões de dólares e em 2016 é de
218 milhões -- como pelo modelo de desenvolvimento previsto.
O
projeto marca uma aproximação crescente entre Mari Alkatiri e Xanana Gusmão e
arranca numa altura em que Timor-Leste tem um governo de unidade nacional, com
um primeiro-ministro da Fretilin, apesar de o maior partido parlamentar ser o
Congresso Nacional para a Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), de Xanana Gusmão.
Observadores
políticos sugerem mesmo que esta aproximação se poderá manter no processo
eleitoral de 2017 em que a maior incógnita é a eventual candidatura do atual
chefe de Estado, Taur Matan Ruak, que se tem mostrado crítico quer da gestão
nos últimos anos quer sobre o valor do orçamento para Oecusse.
Alkatiri
insiste que a "melhor solução para o país" é manter durante algum
tempo a atual solução de convivência partidária, com um Governo de unidade
nacional, rejeitando os que afirmam que este modelo representa falta de
pluralidade.
"Não
podemos esquecer que saímos de uma guerra difícil longa, de 24 anos, e estamos
a construir um Estado para consolidar a nação. Um estado desagregado não
constrói a nação", afirmou.
Daí
que a aposta tenha sido em cada um ter o seu partido mas procurar "um
consenso nacional" para construir alicerces sólidos de um Estado "com
base na constituição, com base na lei", onde "não se perca a
autoridade".
"Autoridade
não é ditadura, é autoridade moral para conversar e legitimidade para
atuar", disse.
Sobre
a reaproximação com Xanana Gusmão, Alkatiri recorda que foi uma evolução
possível apenas depois de o líder histórico, "que pensava ser imbatível e
que tudo o que dizia era lei", ter acabado por "perceber as nuances
da governação".
Quando
se demitiu em 2006, o partido fez uma "travessia do deserto" ainda
que condicionada, afirma, pela "vitória que os computadores digitais deram
ao CNRT em 2012".
Insistindo
que os resultados desse ano foram fraudulentos, Alkatiri diz que os fiscais de
cada partido não tiveram acesso às cópias dos resultados nas urnas.
"Tenho
a certeza. Tanto nas presidenciais como nas legislativas. Mas isso é
passado", afirmou, explicando que, apesar de os resultados "terem
sido manipulados", se ofereceu desde logo para colaborar na governação.
"Vamos
continuar a fazer uma oposição, estando dentro do processo. Oposição para
reduzir as despesas, para reformular todo o processo da administração. E isso
resultou neste Governo de consenso", afirmou.
ASP
// PJA
Sem comentários:
Enviar um comentário