Díli,
16 dez (Lusa) -- O líder do partido timorense Fretilin, Mari Alkatiri,
considera que a Igreja Católica em Timor-Leste deve distanciar-se do dia-a-dia
da vida do Estado e, enquanto reserva moral, religiosa e até cultural, deve
liderar um debate alargado sobre o seu papel no futuro do país.
"Eu
penso que esse debate tem sido adiado e deve ser iniciado pela própria
igreja", disse, em entrevista à Lusa, o secretário-geral da Fretilin
(Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente) e ex-primeiro-ministro.
"A
Igreja Católica também se radicalizou com a luta. Tornou-se uma igreja
nacionalista e muitos dos sacerdotes católicos que existem em Timor-Leste
agora, são sacerdotes do tempo da resistência", recordou.
Hoje,
a instituição "acha-se, com certa legitimidade, no direito de ser
ouvida" e "nunca deixou de ser" mas, "para o bem da própria
Igreja Católica como reserva moral, religiosa e até cultural, deve agora
distanciar-se um pouco do dia-a-dia da vida do Estado".
Alkatiri
referia-se a questões como educação e saúde, onde o papel da igreja em
Timor-Leste continua a ser significativo, condicionando algumas das políticas
nestas matérias.
Afirmando
que foi o seu Governo que deu os primeiros passos para a assinatura da
Concordata com a Santa Sé, assinada este ano, Alkatiri recorda que em 2012 o
bispo de Baucau e atualmente administrador apostólico de Díli sugeriu o seu
nome como eventual candidato a Presidente da República.
"Na
altura achei interessante a declaração vir do bispo católico mais influente em
Timor-Leste, mas eu respondi que não tinha sido formatado para ser Presidente
da República neste sistema", disse.
"Estou
convencido que o Presidente da República precisa de ter um perfil diferente.
Não de pessoas que vieram da luta, mas de pessoas que sabem ter uma cultura
institucional de Estado forte", afirmou.
Admitindo
que identificar esse nome é difícil "porque qualquer pessoa da geração nova
que tenta aparecer, é a própria nova geração que a procura queimar",
Alkatiri diz que os jovens "não querem ser eles próprios a produzir o seu
líder do país".
Paralelamente,
porém, considera que os líderes que vieram da luta e "fizeram uma luta tão
difícil e vitoriosa (...) cada vez vão assumindo mais o espirito
messiânico" de pensar "que só eles podem salvar o país".
Questionado
sobre se faz parte desse grupo o atual chefe de Estado -- que não rejeita
candidatar-se em 2017 a primeiro-ministro -- Alkatiri considera que Taur Matan
Ruak está a desviar-se do que poderia dar de melhor ao país.
"Eu
sou muito frontal. Tinha uma ideia do Presidente, que ele era uma pessoa do
povo, modesta, que quer o melhor para o seu país. Mas está de certa forma a
desviar-se daquilo que ele poderia fazer melhor por este país, que é continuar
a sua modéstia, continuar o seu papel de referência histórica, referência
politica, referência moral", afirmou.
O
facto do chefe de Estado contestar a gestão do país, explica, não é diferente
do que ocorreu quando Xanana Gusmão chefiou o Estado.
"Xanana
também dizia isso quando era Presidente da República, que havia má gestão e que
tinha de ser ele a mudar. Só espero que o Presidente Matan Ruak não cometa o
mesmo erro", afirmou.
ASP
// PJA
Sem comentários:
Enviar um comentário