Em
7 de dezembro de 1975, quando o exército da Indonésia invadiu Timor-Leste «sob
o temor e o pretexto de que não queria uma nova Cuba no Oriente»
Aproximadamente
160 profissionais da saúde cubanos continuam trabalhando em Timor-Leste.
Em 7 de dezembro de 1975, quando o exército da Indonésia invadiu Timor-Leste «sob
o temor e o pretexto de que não queria uma nova Cuba no Oriente», poucos
imaginariam que já começava a forjar-se uma amizade entre os dois povos,
distanciados talvez no mapa-múndi, porém com mais de uma seme-lhança, relembra
ao semanário Granma Internacional o embaixador da República Democrática de
Timor-Leste em Cuba, Maubere Lorosae da Silva Horta.
Um
dia antes, diz, o então presidente dos Estados Unidos, Gerald Ford e (seu
secretário de Estado) Henry Kissinger avaliavam em Jacarta (a capital da
Indonésia) a invasão que provocaria uma violenta ocupação de 24 anos,
destruiria 98% da infraestrutura do país, e daria cabo da vida de quase 100 mil
pessoas, em uma nação que tinha sofrido por quase quatro séculos a colonização
de Portugal.
«Em
20 de maio de 2002, depois de um longo e difícil caminho de luta, Timor-Leste
declarava sua independência e Cuba seria, depois da China, o segundo país do
mundo em reconhecê-la», indica Lorosae da Silva Horta, ao falar justamente do
15º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre nossas
nações.
Para
o diplomata, trata-se de 15 anos de contatos oficiais, «porque os vínculos
entre Cuba e Timor-Leste já existiam no começo da década dos anos 70, com
vários dirigentes timorenses que, inclusive, visitaram a Ilha maior das
Antilhas, a qual sempre apoiou nossa causa de libertação».
Menos
de 30 médicos ficaram em Timor-leste quando finalmente se emancipou, contando
inclusive com aqueles que eram estrangeiros; e um quadro de saúde caracterizado
por inúmeras doenças como a malária, a dengue e a tuberculose. «E aí esteve
Cuba, que ofereceu a Timor-Leste a maior e mais valiosa contribuição, vital
para qualquer país, no setor da saúde», explicou.
Foi
em Kuala Lumpur, Malásia, em 2003, durante a 13ª Cúpula do Movimento dos Países
Não Alinhados, que «com aquela promessa» viria a se consolidar uma relação de
amizade e respeito mútuo. O comandante-em-chefe Fidel Castro se reuniu com o
comandante Xanana Gusmao, pai fundador da nação, e com o doutor Ramos Horta,
então ministro das Relações Exteriores, prometendo ao jovem Estado que Cuba
formaria mil médicos timorenses.
Igualmente,
avisou acerca do desdobramento de uma brigada médica cubana conformada por 300
cubanos em Timor-Leste, que chegaria a esta nação do sudeste asiático em 2004,
com a missão de ajudar ao sistema de saúde do país, ao tempo que os médicos
timorenses eram treinados em Cuba.
«Um
povo sem saúde jamais desenvolveria sua economia, disse-nos Fidel».
De
acordo com o embaixador, até o mês de janeiro de 2017, 911 jovens timorenses se
formaram em Cuba como médicos, e quase 160 profissionais da saúde cubanos
continuavam trabalhando em Timor-Leste. Para este ano, prevê-se que se graduem
mais de 55 novos médicos timorenses.
«A
promessa de Fidel cumpriu-se» asseverou Lorosae da Silva Horta que concede,
também, especial relevância à Faculdade de Medicina da Universidade Nacional,
criada em 2005, em Timor-Leste, por iniciativa da brigada médica cubana nesta
terra, e que estaria sob regência dos professores da Ilha maior das Antilhas; e
à qual voltam para ministrar aulas aos jovens já formados como médicos em Cuba
e que agora cursam, também na Ilha, a especialidade.
«O
resultado foi bastante claro, uma diminuição evidente de doenças como a
malária, uma menor incidência de tuberculose, diminuiu a mortalidade
infantil... Somos neste momento, um dos países da Ásia que conta com uma melhor
taxa de médicos por habitante», referiu.
Para
o diplomata timorense, nenhum outro país, mas Cuba, teria podido oferecer essa
ajuda, e é devido às características da medicina cubana, à visão de Fidel.
«Formar mil médicos em outros países seria extremamente custoso, e nenhuma
outra nação contribuiria com esses recursos como Cuba».
«Fidel,
disse, tinha uma ideia ainda mais concebida; e é que em Timor-Leste, chegado o
momento, nasça um projeto como a Escola Latino-americana de Medicina, na região
da Ásia, Pacífico, que facilite a formação de profissionais da saúde nesta
latitude do mundo».
«No
ano passado, falou-se muito da possibilidade futura de enviar uma brigada mista
de médicos cubanos e timorenses para Guiné-Bissau, ou para outro país que
precisar. Seria a primeira vez que isso acontecer, o que mostra o nível de
amizade que há entre nosso dois povos e seria maravilhoso, pois a maior parte
de nossos médicos se formou em Cuba», expressou.
«Cuba
nos ajudou a erradicar as doenças, e acho que pode também ajudar-nos a
conseguir a liberdade da dependência do petróleo e gás natural; porque neste
momento a prioridade do governo de Timor-Leste é diversificar nossa economia,
que depende em mais de 90% do petróleo», sublinhou o embaixador, para quem é
significativo que nos últimos anos a cooperação entre ambos os países
abrangesse outras áreas, além da formação profissional.
«Cuba,
expressou, contribuiu enormemente, também, para a alfabetização de idosos com
uma brigada de professores, além da presença de especialistas em agronomia,
arquitetos, engenheiros e outros professores que trabalham em Timor-leste».
«A
indústria, a produção de fármacos, a cooperação nos âmbitos da defesa, a
segurança, a segurança, a proteção do meio ambiente e a luta contra incêndios,
são setores nos quais as relações bilaterais de colaboração têm um grande
potencial para ampliar-se», comentou o entrevistado.
Para
o embaixador, «as relações entre os dirigentes e os governos dos dois países
são muito estreitas e cálidas; e isso se percebe na forma em que nossos
dirigentes são tratados quando viajam a Cuba. Porém, também as relações entre
pessoas são muito próximas. Somos povos que partilhamos com amor, o pouco que
temos», assinalou.
A
partir de sua independência, Timor-Leste denunciou constantemente a injustiça
do bloqueio norte-americano à Ilha e votou contra essa medida extrater-ritorial
na sede Nações Unidas. Igualmente, defendeu a posição de devolver a Cuba o
território que ocupa a ilegal base naval estadunidense em Guantánamo, e
acompanhou ativamente a campanha pela liberdade dos Cinco heróis presos
injustamente nos cárceres dos Estados Unidos.
Seu
ex-presidente e vencedor do Prêmio Nobel da Paz, José Ramos Horta propôs, em
várias ocasiões, que as brigadas médicas cubanas fossem agraciadas com esse
galardão.
«A
relação fraternal entre Timor-Leste e Cuba deu provas, durante estes 15 anos,
de vínculos estreitos e um enorme potencial de cooperação, de benefício mútuo»,
arguiu Lorosae da Silva Horta.
«Em
meio do Caribe se pode ver o mapa de Cuba, que semelha a forma de um crocodilo.
Do outro lado do mundo, Timor-Leste tem, caprichosamente, a forma de um jacaré,
Porém esta é mais uma das razões que une os dois povos que lutaram anos e forte
por sua independência e continuam lutando hoje, contra as tendências
neocoloniais», disse.
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