Afonso Dhlakama, que morreu na
quinta-feira, aos 65 anos, vítima de doença, autointitulava-se "pai da
democracia", passando quase toda a sua vida a fazer resistência armada
contra a rival Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder.
Afonso Macacho Marceta Dhlakama,
líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), nasceu a 01 de janeiro de
1953, em Mangunde, distrito de Chibabava, em Sofala. É filho de um líder
tradicional, o régulo Mangunde.
Afonso Dhlakama assumiu a
liderança da Renamo aos 26 anos, sucedendo a André Matsangaíssa na condução de
uma guerrilha que se assumiu como frente de resistência contra o sistema comunista
instaurado em Moçambique pela Frelimo, após a independência, em 1975.
Escapou várias vezes, algumas de
moto, seu veículo preferido, ao cerco das forças governamentais durante a
guerra civil de 16 anos, até se impor como interlocutor do partido no poder nas
negociações que levaram à assinatura do Acordo Geral de Paz em Roma, em 1992.
Após o fim da guerra civil,
Afonso Dhlakama candidatou-se pela Renamo a cinco eleições presidenciais, que
decorreram em simultâneo com as legislativas, tendo ele e o seu partido perdido
em todas: 1994, 1999, 2004, 2009 e 2014.
Não reconheceu a derrota em
nenhuma delas e ameaçou voltar à luta armada.
Acentuando muitas vezes o seu
discurso com ameaças de retorno à guerra, regressou em 2012 às matas da
Gorongosa, distrito que acolheu as principais bases da Renamo, dirigindo os
confrontos entre o braço armado do partido e as Forças de Defesa e Segurança
moçambicanas.
Na sequência dos confrontos,
Afonso Dhlakama assinou o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares com
Armando Guebuza, na altura Presidente da República, que deu lugar às quintas
eleições gerais de 2014.
Depois de perder as presidenciais
de 2015, frente a Filipe Nyusi, da Frelimo, organizou comícios em que ameaçava
governar nas províncias do centro e norte do país onde obteve a maioria de
votos.
Nesse ano, a sua comitiva sofreu
dois ataques armados nunca assumidos, tendo saído ileso e desaparecido nas
matas do centro do país, de onde reapareceu na cidade da Beira, capital da
província de Sofala.
Após uma invasão da sua
residência na Beira, Afonso Dhlakama desapareceu para se refugiar novamente na
Serra de Gorongosa, seguindo-se mais um ciclo de violência militar com as
Forças de Defesa e Segurança, até à declaração de tréguas em dezembro de 2017,
que perduram até hoje.
O líder da Renamo chegou a
entendimento com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, para a submissão à
Assembleia da República de uma proposta de revisão pontual da Constituição da
República visando o aprofundamento da descentralização.
Afonso Dhlakama apresentava a
descentralização como fundamental para uma paz duradoura em Moçambique.
No final das conferências de
imprensa, Afonso Dhlakama cumprimentava, sorridente, cada jornalista, tratando
por "amigo", mesmo que nunca o tenha visto antes, deixando uma imagem
meiga para um político que, várias vezes se revelou provocatório nas suas
declarações e posições públicas.
Lusa | em SAPO TL
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