Díli, 19 mai (Lusa) - O
secretário-geral da Fretilin, segundo partido mais votado nas eleições de
sábado em Timor-Leste, disse hoje que o partido encontrou provas de
"crimes eleitorais" que fazem parte da documentação que apresentou ao
Tribunal de Recurso.
Em declarações à Lusa, Mari
Alkatiri escusou-se a avançar detalhes concretos sobre o recurso que a Frente
Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) apresentou hoje contra o
apuramento dos resultados das legislativas.
Referindo-se aos prazos curtos do
processo eleitoral, explicou que, além do recurso hoje apresentado, a Fretilin
continua a realizar investigações.
"Vamos deixar o Tribunal
deliberar e considerar. Este é um processo eleitoral e os prazos são muito
curtos. O que apresentamos já é substancial, mas a investigação continua em
termos de crimes eleitorais. Temos seis meses para o fazer", disse à Lusa
na sede do Comité Central da Fretilin em Díli.
Questionado sobre se as queixas
levadas ao Tribunal de Recurso incidem particularmente na região de Oecusse, em
que a Fretilin perdeu significativamente face a 2017, Alkatiri disse que foram
recolhidas "provas", sem as detalhar.
"Temos muitas provas em
Oecusse. As pessoas continuam traumatizadas. Há carros estranhos com pessoas
estranhas que continuam a intimidar. Teremos que gerir isto com certo cuidado.
A última coisa que gostaria de provocar seria um conflito entre comunidades, em
Oecusse ou no resto de Timor", afirmou.
Independentemente das
investigações, Alkatiri disse que o partido respeitará qualquer decisão do
Tribunal de Recurso ao qual cabe a validação final dos resultados eleitorais.
"O Tribunal é tribunal, e
num Estado de direito democrático a decisão final é do tribunal e qualquer
pessoa que tenha sentido de Estado vai ter que aceitar", disse.
Considerando que o facto da
Fretilin ter crescido significativamente no seu apoio eleitoral implica que
"não houve derrota mas sim uma vitória adiada", Alkatiri admitiu que
pode afastar-se da liderança do partido.
"A idade conta e pesa. Estar
e continuar na Fretilin sim, estarei. Liderar vamos ver", disse numa
conversa à margem de um concerto na CCF que assinala hoje o 44º aniversário da
Associação Social Democrática de Timor-Leste (ASDT), segundo partido criado em
Timor-Leste e que em setembro de 1974 se transformou na Fretilin.
Os comentários de Alkatiri foram
feitos horas depois do partido ter apresentado no Tribunal de Recurso, em Díli,
um recurso contra a ata de apuramento nacional dos resultados.
"O recurso foi entregue aqui
hoje. Ainda está a ser considerado. O Tribunal tem 48 horas para se pronunciar,
segundo a lei", confirmou à Lusa uma fonte do Tribunal de Recurso.
O assunto foi uma das questões
abordadas hoje numa reunião do Comité Central da Fretilin (CCF) na sede do
partido em Díli.
Recorde-se que na quinta-feira o
líder da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) e ainda
primeiro-ministro, Mari Alkatiri confirmou que o partido estava a realizar
investigações a supostas irregularidades durante a votação, particularmente
centradas no enclave de Oecusse.
Um dos resultados mais
surpreendentes da votação de sábado ocorreu na Região Administrativa Especial
de Oecusse-Ambeno (RAEOA), em que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP)
bateu a Fretilin de Mari Alkatiri - que geriu a região durante vários anos -
por uma diferença de mais de 11.600 votos.
Apesar de líderes da Fretilin
continuarem a gerir a região, o partido obteve apenas 10.800 votos contra os
mais de 22.400 da AMP. Em 2017 a diferença foi de apenas 45 votos.
A derrota levou Arsénio Bano -
que ficou a assumir o cargo de presidente interino da RAEOA em substituição de
Mari Alkatiri, quando este assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2017 - a
fazer um pedido de desculpa público no Facebook.
O escrutínio municipal e apuramento
nacional confirmaram que a Aliança de Mudança para o Progresso (AMP) venceu as
eleições legislativas com mais de 305 mil votos, ou 49,6% do total, o que lhe
dá 34 dos 65 mandatos do Parlamento Nacional e a possibilidade de formar o VIII
Governo constitucional sem necessitar de qualquer apoio adicional.
Em segundo lugar ficou a
Fretilin, que liderou a coligação minoritária do anterior Governo, e que obteve
mais de 213 mil votos, ou 34,2% do total, mantendo o mesmo número de deputados,
23.
No Parlamento estará também o PD,
parceiro da Fretilin no VII Governo, e que perdeu dois deputados para cinco,
tendo obtido mais de 50 mil votos ou 8,1% do total, e a Frente de
Desenvolvimento Democrático (FDD) que obteve 34 mil votos (5,5%) do total e 3
deputados.
ASP// ATR
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