quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Parlamento timorense volta a chumbar deslocação do Presidente ao estrangeiro


Díli, 23 out (Lusa) - O Parlamento Nacional de Timor-Leste chumbou hoje, sem qualquer debate e justificação, a deslocação do Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, à Indonésia, naquela que foi a terceira recusa a uma viagem ao estrangeiro do chefe de Estado.

Francisco Guterres Lu-Olo tinha solicitado uma deslocação entre 28 de outubro e 01 de novembro à Indonésia para participar no Bali Forum, a convite do seu homólogo indonésio, Joko Widodo.

O pedido de autorização foi enviado pelo chefe de Estado, como exige a lei, entre vários pedidos de deslocação ao estrangeiro que pretendia efetuar no último trimestre deste ano.

Neste caso o pedido de assentimento foi chumbado por 31 votos contra (das bancadas do Governo) e 19 a favor, com a votação a decorrer sem qualquer declaração ou intervenção dos deputados ou sem justificação para a não autorização.

Vários deputados da oposição criticaram o chumbo, com David Ximenes da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin) a considerar que o Presidente da República "não pode ser refém de determinados indivíduos".

"Sendo o chefe do Estado refém o povo é refém. Será que povo merece ser refém de política de má-fé? Onde reside o interesse nacional. O que é para nós sentido de Estado?", questionou.

"Qual é o grau do nosso sentido quando impedimos viagens do chefe de Estado, mas deixamos o presidente do Parlamento Nacional sair em viagens que se calhar nem fazem sentido", disse David Ximenes.

Também Adriano do Nascimento, do Partido Democrático (PD), criticou a decisão que trava viagens da primeira figura do Estado, com uma decisão política "que não é boa para a nação".

A 18 de setembro o Parlamento Nacional chumbou, com os votos das bancadas do Governo, o pedido de autorização do Presidente da República para visitar Nova Iorque e participar na Assembleia-Geral da ONU.

Ao justificar o chumbo nessa altura, as bancadas do Governo consideraram que a visita não é oportuna quando o Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, ainda não promulgou o Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2018.

As contas públicas já foram, entretanto, promulgadas pelo chefe de Estado.

Continua, porém, o impasse em torno da nomeação de alguns membros do Governo que o primeiro-ministro indigitou e a quem o chefe de Estado não deu posse.

Já em julho o parlamento tinha chumbado um pedido de autorização de visita do Presidente a Portugal, na altura por causa do impasse na nomeação de nove membros do Governo, alguns por terem processos na justiça e outros por possuírem "um perfil ético controverso".

A situação mantém-se, não havendo ainda solução para o impasse, com a Presidência e o Governo a declararem que o diálogo continua. O executivo cedeu já em três dos nove, apresentando alternativas já aceites por Lu-Olo, mas continua a não haver solução para os seis que incluem os ministros das Finanças, Saúde e Interior, entre outros.

Além dos chumbos foi cancelada uma viagem a Cabo Verde para participar na Cimeira da CPLP e adiada outra à Austrália.

Na agenda para este ano o Presidente tem ainda previsto entre 19 e 24 de novembro uma visita ao Vaticano, e entre 10 e 11 de dezembro uma visita de trabalho a Marrocos, a convite de António Guterres, para participar num encontro de alto nível do Global Compact.

ASP // SB

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