Díli, 30 nov (Lusa) - O
Presidente timorense desafiou hoje as gerações mais jovens a entrevistarem
aqueles que participaram na luta de 24 anos contra a ocupação indonésia de
Timor-Leste, para que o seu papel fique devidamente registado.
"Milhares de heróis
desconhecidos pereceram por nós. Ao longo da nossa luta de libertação fomos
perdendo homens e mulheres. Continuamos a perder vidas no nosso Timor-Leste
independente. Cada perda de vida é um pouco de história que perdemos",
disse hoje Francisco Guterres Lu-Olo.
"Estamos todos a envelhecer,
pelo que ouso lançar um desafio, especialmente aos jovens. Façamos entrevistas
a todos quantos lutaram tão abnegadamente pela libertação da nossa querida
pátria. Vamos construir questionários para recolher depoimentos de todas as
mulheres e homens que fizeram a nossa história com o seu sofrimento, com o seu
suor e com o seu sacrifício imensurável e, quantos deles, com o seu próprio
sangue", afirmou.
Lu-Olo falava no Palácio
Presidencial em Díli, no lançamento de um livro sobre o pensamento político do
primeiro líder da luta armada contra a ocupação indonésia de Timor-Leste,
Nicolau Lobato, da autoria do padre Martinho Gusmão.
No ano em que se cumprem 40 anos
da morte, em combate, de Nicolau Lobato, Lu-Olo quis deixar um "sentimento
pessoal" sobre quem disse ser "o filho maior da história recente do
país", Presidente da primeira república, proclamada a 28 de novembro de
1975.
O chefe de Estado renovou apelos,
vertidos num texto publicado no início da obra, para que as gerações mais
jovens estudem o legado político de Nicolau Lobato.
"Embora não tenha tido a
honra e o privilégio de conhecer pessoalmente o nosso querido líder Nicolau
Lobato, como integrante da frente armada, eu tive a oportunidade de conhecer os
efeitos da sua ação, a força da sua dinâmica", disse.
"Nicolau inspirou-nos, a
todos nós, naqueles períodos complicados de ataques devastadores às nossas
bases de apoio. Nicolau foi e será sempre uma fonte de inspiração. O maior
património que Nicolau nos deixa é a força do seu exemplo", afirmou.
Por isso, disse, é dever de todos
os timorenses "continuar a obra de Nicolau dos Reis Lobato, servindo cada
vez mais e melhor" Timor-Leste.
"É o compromisso com que
podemos e devemos honrar este grande herói e todos aqueles que deram as suas
vidas pela pátria e por todos nós", disse.
Considerado um líder nato,
determinado e corajoso, que procurava o consenso manifestando sempre grande
autoridade, Nicolau Lobato é um dos fundadores da nação timorense.
Filho de uma família de
Bazartete, a oeste de Díli, Nicolau Lobato nasceu a 24 de maio de 1946 em Soibada,
a zona do avô materno a cerca de 50 quilómetros sul de Manatuto (e sudeste de
Díli).
Lobato, filho de pai catequista,
cresceu numa família muito religiosa, sob a forte influência da missão jesuíta
de Soibada, criada em outubro de 1899 e onde estudaram outros líderes
timorenses, incluindo o Nobel da Paz de 1996, José Ramos-Horta.
Nicolau Lobato foi o primeiro
primeiro-ministro, entre 28 de novembro e 07 de dezembro de 1975, tendo sido o
segundo Presidente, como sucessor de Xavier do Amaral, entre 1977 e 1978.
Lobato foi morto em combate na
região de Turiscai a 31 de dezembro de 1978 e os seus restos mortais nunca
foram recuperados.
Em agosto de 2009, Francisco
Lopes da Cruz, que à data da morte de Nicolau Lobato era vice-governador de
Timor-Leste nomeado pelo ocupante indonésio, disse à Lusa que os restos mortais
"foram enterrados em Timor".
"Não sei onde foi enterrado.
Parece que no sítio onde ele foi atingido. Acho que na parte central de Timor.
Não sei exatamente onde", afirmou na altura.
ASP // JMC
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