quinta-feira, 23 de abril de 2015

Francês condenado à morte na Indonésia vítima de "disfunções da justiça" - MNE


Paris, 23 abr (Lusa) -- O francês Serge Atlaoui, condenado à morte na Indonésia, "não teve o benefício do pleno exercício dos seus direitos" devido "a graves disfunções da justiça indonésia", acusou o ministro dos Negócios Estrangeiros de França numa carta à sua homóloga indonésia.

Laurent Fabius afirmou que Serge Atlaoui, condenado à morte por Jacarta por tráfico de drogas, é vítima de um "tratamento acelerado" e foi "condenado à morte por uma decisão que contém informações erróneas", numa carta dirigida hoje a Retno Lestari Priansari Marsudi, à qual a agência francesa de notícias AFP teve acesso.

A França "apelou à Indonésia que respeite neste caso as suas próprias leis e obrigações internacionais que impõem as convenções da qual fazem parte", acrescentou Fabius, pedindo novamente "um gesto de clemência" para o condenado.

Paris continua a elevar o tom desde o início da semana para tentar salvar Serge Atlaoui, preso há dez anos e que clama inocência, afirmando que apenas instalou máquinas industriais naquilo que pensava ser uma empresa de acrílico, e que na verdade era uma fábrica de 'ecstasy'.

Esta execução "será prejudicial para a Indonésia, prejudicial para as relações que nós queremos ter com o país", declarou na quarta-feira o Presidente francês, François Hollande, lembrando a sua oposição por princípio em relação à pena de morte, abolida no seu país em 1981.

Por seu lado, Fabius convocou, na quarta-feira, pela terceira vez, o embaixador da Indonésia para tratar deste caso.

Na carta à ministra indonésia, Fabius referiu que as autoridades daquele país anunciaram que o recurso apresentado pelo condenado será rejeitado, assim como o que já está em curso.

Acrescentou que "a decisão do tribunal supremo foi tomada em algumas semanas e sem a audição de testemunhas", que constitui um "tratamento acelerado".

Fabius observou igualmente "afirmações erróneas" na decisão de condenar o francês à morte, nomeadamente apresentar o condenado como um "químico", ainda que testemunhas e provas indiquem que era apenas soldador na empresa em que eram produzidos os narcóticos.

A legislação antidroga na Indonésia é considerada como uma das mais severas a nível mundial.

Em 2014, o Presidente indonésio, Joko Widodo, que termina as funções em outubro, rejeitou todos os pedidos de clemência apresentados pelos condenados à pena capital por tráfico de droga.

Entre os condenados à morte está o brasileiro Rodrigo Gularte, que foi preso em 2004 com seis quilos de cocaína escondidos em pranchas de surf, tendo sido condenado em 2005.

Em janeiro, a Indonésia executou seis traficantes de droga, incluindo o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, o que causou uma crise diplomática entre a Indonésia e o Brasil.

A Indonésia, que retomou as execuções em 2013 depois de cinco anos de moratória, tem 133 prisioneiros no corredor da morte, dos quais 57 condenados por tráfico de droga, dois por terrorismo e 74 por outros crimes.

CSR // VM

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