Díli,
03 dez (Lusa) - Os políticos timorenses em 1974/75 deveriam ter criado uma
frente unida e não uma frente revolucionária, capaz de procurar uma
independência consentida pelas potências da região, defende o ex-dirigente da
Fretilin, Abílio Araújo.
"Faltou
uma política clarividente de conseguir pôr na mesma mesa os vários agentes
políticos decisivos e importantes", disse em entrevista á Lusa.
Abílio
Araújo, considerado um dos fundadores do movimento de libertação nacional
timorense, referia-se aos três partidos timorenses mais ativos no período final
da presença portuguesa em Timor-Leste e antes da invasão indonésia do
território.
São
a União Democrática Timorense (UDT), primeiro partido timorense que defendia
uma transição sob administração portuguesa até à independência, a Fretilin
Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) que acabou por proclamar
unilateralmente a independência a 28 de novembro de 1975 e a Associação Popular
Democrática Timorense (Apodeti), que defendia a integração na Indonésia.
Para
Araújo, um dos criadores do programa e manual político da Fretilin e ministro
de Estado para os Assuntos Económicos e Sociais do I Governo, "deveria ter
havido "mais tolerância, mais clarividência" o que levou a
"bastante radicalismo de todas partes".
Ainda
assim, considera, os timorenses "estavam preparados para ser livres",
o país não podia continuar na indefinição criada pelo 25 de abril em Portugal e
a integração na Indonésia de Suharto, o então chefe de Estado do país vizinho,
era impensável.
"O
futuro de Timor estava incerto, a tese do federalismo não durou muito tempo e
nós tínhamos perante nós a integração na Indonésia. Mesmo que a integração na
Indonésia pudesse ser uma opção, a verdade é que o regime de Suharto era um
regime que não podia ser favorável, ou positivo para Timor, porque era uma
ditadura militar. Portanto, a opção tinha de ser mesmo a independência",
afirma.
Quatro
décadas depois ainda se debate até que ponto é que Abílio Araújo contribuiu
para essa radicalização política, especialmente a partir de setembro de 1974
quando regressa a Timor-Leste com um grupo de estudantes timorenses que tinham
estado em Portugal.
Antonio
Carvarinho Maulear, Vicente Manuel Reis, Abílio e Guilhermina Araújo, Roque
Rodrigues, Rosa Bonaparte e Venâncio Gomes da Silva são considerados
instrumentais na transformação da Associação Social Democrática de Timor (ASDT)
em Fretilin e, paralelamente da sua radicalização política.
"Não,
pelo contrário. Essa é uma das razões porque me fui embora. Eu estive em 74, eu
e a minha companheira estivemos de setembro até finais de dezembro, mas em 75
nós saímos. Do grupo que cá veio fomos os únicos que decidimos regressar para
Portugal e, mesmo na altura, eu estava contra a vinda em massa dos
estudantes", afirmou.
A
radicalização, defende, deveu-se mais ao erro das "elites" que
dominavam a Fretilin e que "praticamente importaram na totalidade teorias
do exterior", sem ter "em conta a realidade interna".
Considerando
que o maior erro foi transformar a Apodeti no "inimigo principal",
Araújo argumentou que alguns dos seus fundadores eram pessoas "com origens
anticolonialistas bastante fortes" e que até "tinham sido vítimas
também da administração colonial".
Araújo
vai mais longe e diz que foi dos círculos da Apodeti que "surgiu a nova
geração que depois continuou a luta na frente clandestina e na frente
urbana", jovens que ouviam os pais "lamentarem e criticarem a
presença indonésia, a violência e o não respeito pela identidade e cultura do
povo Timor".
Destaca
ainda o papel de Abílio Osório, também da Apodeti (e que foi Governador entre
1992 e 1999), que "salvou muita gente da Fretilin" no seu cargo
anterior, enquanto chefe dos Serviços das Obras Públicas, altura em que
"combateu o radicalismo e o sectarismo existente".
Recorda
ainda o papel de Mário Carrascalão, um dos fundadores da UDT e governador antes
de Abílio Osório Soares, que "começa a abrir Timor e que permite a chegada
de estrangeiros", apoiando a formação dos timorenses e a criação da
primeira universidade do país.
ASP
// PJA
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