quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Faltou frente unida em vez de revolucionária para a independência de Timor - Abílio Araújo


Díli, 03 dez (Lusa) - Os políticos timorenses em 1974/75 deveriam ter criado uma frente unida e não uma frente revolucionária, capaz de procurar uma independência consentida pelas potências da região, defende o ex-dirigente da Fretilin, Abílio Araújo.

"Faltou uma política clarividente de conseguir pôr na mesma mesa os vários agentes políticos decisivos e importantes", disse em entrevista á Lusa.

Abílio Araújo, considerado um dos fundadores do movimento de libertação nacional timorense, referia-se aos três partidos timorenses mais ativos no período final da presença portuguesa em Timor-Leste e antes da invasão indonésia do território.

São a União Democrática Timorense (UDT), primeiro partido timorense que defendia uma transição sob administração portuguesa até à independência, a Fretilin Revolucionária de Timor-Leste Independente (Fretilin) que acabou por proclamar unilateralmente a independência a 28 de novembro de 1975 e a Associação Popular Democrática Timorense (Apodeti), que defendia a integração na Indonésia.

Para Araújo, um dos criadores do programa e manual político da Fretilin e ministro de Estado para os Assuntos Económicos e Sociais do I Governo, "deveria ter havido "mais tolerância, mais clarividência" o que levou a "bastante radicalismo de todas partes".

Ainda assim, considera, os timorenses "estavam preparados para ser livres", o país não podia continuar na indefinição criada pelo 25 de abril em Portugal e a integração na Indonésia de Suharto, o então chefe de Estado do país vizinho, era impensável.

"O futuro de Timor estava incerto, a tese do federalismo não durou muito tempo e nós tínhamos perante nós a integração na Indonésia. Mesmo que a integração na Indonésia pudesse ser uma opção, a verdade é que o regime de Suharto era um regime que não podia ser favorável, ou positivo para Timor, porque era uma ditadura militar. Portanto, a opção tinha de ser mesmo a independência", afirma.

Quatro décadas depois ainda se debate até que ponto é que Abílio Araújo contribuiu para essa radicalização política, especialmente a partir de setembro de 1974 quando regressa a Timor-Leste com um grupo de estudantes timorenses que tinham estado em Portugal.

Antonio Carvarinho Maulear, Vicente Manuel Reis, Abílio e Guilhermina Araújo, Roque Rodrigues, Rosa Bonaparte e Venâncio Gomes da Silva são considerados instrumentais na transformação da Associação Social Democrática de Timor (ASDT) em Fretilin e, paralelamente da sua radicalização política.

"Não, pelo contrário. Essa é uma das razões porque me fui embora. Eu estive em 74, eu e a minha companheira estivemos de setembro até finais de dezembro, mas em 75 nós saímos. Do grupo que cá veio fomos os únicos que decidimos regressar para Portugal e, mesmo na altura, eu estava contra a vinda em massa dos estudantes", afirmou.

A radicalização, defende, deveu-se mais ao erro das "elites" que dominavam a Fretilin e que "praticamente importaram na totalidade teorias do exterior", sem ter "em conta a realidade interna".

Considerando que o maior erro foi transformar a Apodeti no "inimigo principal", Araújo argumentou que alguns dos seus fundadores eram pessoas "com origens anticolonialistas bastante fortes" e que até "tinham sido vítimas também da administração colonial".

Araújo vai mais longe e diz que foi dos círculos da Apodeti que "surgiu a nova geração que depois continuou a luta na frente clandestina e na frente urbana", jovens que ouviam os pais "lamentarem e criticarem a presença indonésia, a violência e o não respeito pela identidade e cultura do povo Timor".

Destaca ainda o papel de Abílio Osório, também da Apodeti (e que foi Governador entre 1992 e 1999), que "salvou muita gente da Fretilin" no seu cargo anterior, enquanto chefe dos Serviços das Obras Públicas, altura em que "combateu o radicalismo e o sectarismo existente".

Recorda ainda o papel de Mário Carrascalão, um dos fundadores da UDT e governador antes de Abílio Osório Soares, que "começa a abrir Timor e que permite a chegada de estrangeiros", apoiando a formação dos timorenses e a criação da primeira universidade do país.

ASP // PJA

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