Díli,
14 dez (Lusa) - Combater "mitos" sobre a dependência de Timor-Leste
na geração mais velha de líderes e ocupar o espaço dos jovens, nascidos no
final ou depois do fim da ocupação indonésia, são alguns dos objetivos de um
novo partido timorense.
Registado
na semana passada no Tribunal de Recurso, o Partido de Libertação do Povo (PLP)
é liderado interinamente por Adérito Soares, ex-comissário da Comissão
Anti-Corrupção (CAC) que está atualmente na Austrália a completar um
doutoramento.
"Queremos
criar outro tipo de democracia, que não se decida por um ou dois líderes, mas
que seja um esforço coletivo. Queremos fazer algo diferente em Díli. O maior
desafio do processo em Timor-Leste tem sido que tudo é decidido por uma ou duas
figuras", disse à Lusa Adérito Soares.
O
PLP é apontado há vários meses como o partido que poderia, no futuro, apoiar
uma candidatura a primeiro-ministro do atual chefe de Estado, Taur Matan Ruak.
Em
entrevista à Lusa em novembro, Taur Matan Ruak confirmou que não se vai
recandidatar a um segundo mandato em 2017 mas não exclui uma possível
candidatura como primeiro-ministro, afirmando que quer continuar a servir o
país.
Sobre
a possibilidade de Taur Matan Ruak ser o futuro líder do PLP, o atual
presidente interino do partido prefere não tecer comentários, explicando apenas
que em 2016 estão previstos vários congressos distritais e que, possivelmente
no final do ano, decorrerá o congresso nacional que elegerá a nova liderança.
Até
lá, há equipas no terreno a desenvolver as ideias que formarão parte do
programa do partido e, ao mesmo tempo, a contactar militantes, disse.
"Quando
chegarmos ao congresso no próximo ano, estaremos bem documentados com
documentos preparados para analisar todos os aspetos e com uma ligação forte à
base", acrescentou.
Adérito
Soares, que espera concluir o doutoramento sobre a relação entre direitos
humanos e desenvolvimento em março ou abril de 2016, explica que o seu mandato
é, para já, preparar o congresso e continuar a trabalhar com a equipa fundadora
do partido.
"Temos
um grande grupo de jovens, intelectuais, educados com estudos em Portugal,
América, Austrália, Cuba e que estão no terreno num processo muito interessante
de analisar tudo, deste os planos estratégicos de desenvolvimento ao orçamento,
passando por análises setoriais detalhadas", explicou.
O
líder do PLP considera importante "desafiar o mito da geração mais
velha", dizendo que não é correto pensar que se líderes como Xanana Gusmão
ou Mari Alkatiri morrerem "o país colapsa".
"Temos
uma grande fatia da população jovem, muitos nascidos no final da ocupação ou já
depois de 1999, que não estão muito ligados ao passado. Temos de falar com
eles, ouvi-los, oferecer um programa sobre o seu futuro", afirmou.
"Isto
é algo massivo em Timor-Leste. Estes jovens agora são votantes e temos de ter
uma linguagem diferente", disse.
Insistindo
que a geração mais velha é "respeitada e apreciada", Soares considera
que, porém, Timor-Leste não pode viver "sobre mitos inventados" em
que os jovens ficam de fora do processo político.
Questionado
sobre alguns políticos das gerações mais jovens que nos últimos anos estiverem
no poder e defraudaram a esperança de alternância, com suspeitas de
envolvimento em casos de corrupção, por exemplo, Adérito Soares admite que
houve alguns erros.
"Aprendemos
do passado. Aprendemos nos últimos 14 anos. Todos nós. Quando começámos em 1999
ou 2002 ninguém tinha experiência em ser ministro, ou até primeiro-ministro ou
presidente", disse.
"Mas
porque aprendemos, não queremos que seja tudo decidido por uma ou duas figuras.
Queremos ser um partido de ideias, com planos, onde todos possam
colaborar", afirmou.
Por
isso, questiona o atual modelo de governação, com um executivo de unidade
nacional e unanimidade no parlamento, por exemplo, no que toca à aprovação do
orçamento.
"Deixemos
a democracia florescer. E depois podemos encontrar um caminho. Na política
temos de falar de negociação, mas isso não deve fechar a porta à diferença. A
diferença de ideias não é uma ameaça à democracia ou à unidade",
considerou.
ASP
// MP
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