terça-feira, 14 de junho de 2016

Associação pró-democracia de Macau quer mais fiscalização às contas das listas eleitorais


Macau, China, 13 jun (Lusa) -- A Novo Macau, a maior associação pró-democracia da cidade, apresentou hoje propostas para a revisão da lei eleitoral, sugerindo que todas as atividades de promoção, mesmo as que não são organizadas pelos candidatos, sejam incluídas no orçamento das listas.

No documento de consulta pública, o Governo sugere "clarificar o que é propaganda eleitoral, sendo qualquer atividade que promova um candidato, mas deve pegar nessas atividades e nos seus custos e colocá-las no relatório das despesas da lista", defendeu Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau.

Com a revisão da lei eleitoral -- cuja consulta pública terminou no passado dia 05 --, o Governo pretende apertar as regras para evitar a repetição dos casos de corrupção eleitoral verificados no passado. Para tal, define mais estritamente o que é uma campanha eleitoral, ações de promoção, quem as pode fazer e quando.

Segundo o documento de consulta, "só os candidatos ou aqueles que forem declarados como apoiantes das candidaturas pelos candidatos podem fazer propaganda eleitoral, devendo essas despesas estar inseridas no cálculo das despesas", que terão o limite máximo de quatro milhões de patacas (444 mil euros), o mesmo montante para todas as listas. O objetivo deste teto é nivelar a campanha, mas a associação alerta para a facilidade com que estas regras podem ser violadas.

Segundo a Novo Macau, outros grupos e pessoas podem organizar eventos que promovem candidatos, mas que não entram para as contas das listas. São atividades não declaradas que não são fiscalizadas.

"Será que as listas vão declarar todas as atividades que as beneficiam? Não me parece. Vão tentar fazer com o relatório pareça mais fino, ao ter atividades realizadas por outras organizações", alertou Chiang.

"É exigido um relatório de todas as candidaturas, que a comissão [eleitoral] aprova. Se as contas estiverem todas bem, é aprovado. Mas não verificam se o relatório está mesmo de acordo com as atividades realizadas. Muitas listas têm 'organizações amigas' que organizam todo o tipo de atividades -- banquetes, viagens à China, distribuição de presentes -- e fazem campanha nestes eventos", indicou.

Assim, a associação pede que a comissão passe a ter "mais poder para lançar investigações".

"É tão fácil contornar as regras. Ou se declara as atividades ou a comissão não vai à procura. É o mesmo com as despesas. A comissão deve ter a função [de investigar] e poder receber denúncias", apelou o ativista.

Esta revisão eleitoral surge após denúncias em eleições passadas de casos como oferta de refeições, presentes e viagens em troca de apoio a determinados candidatos. No entanto, a proposta de restrição de todas as atividades -- que passam a ter de ser aprovadas pela comissão eleitoral -- também levantou dúvidas sobre um excessivo controlo do debate público.

Para a Novo Macau, que apresenta regularmente listas à Assembleia Legislativa, o que está em causa é assegurar a igualdade de oportunidades, "independentemente dos recursos que cada um tem".

"A ideia é restringir as atividades para impedir que alguns [candidatos] sejam beneficiados pelos enormes recursos que têm à sua disposição. É uma questão de igualdade. Se se tornar num sistema de aprovação, será problemático, mas se for apenas uma declaração de atividades, concordamos", disse o vice-presidente da associação, Jason Chao.

Entre as sugestões da Novo Macau está também uma política de acesso igualitário à campanha nas escolas e universidades, que no passado promoveram apenas determinados candidatos. Para a associação, os estabelecimentos devem escolher se querem adotar uma política de "portas abertas" ou de "portas fechadas", mas dar as mesmas condições a todas as listas.

Em Macau não é possível eleger o líder do Governo, apenas parte dos assentos na Assembleia Legislativa. Dos 33 lugares, apenas 14 são diretamente eleitos pela população. O restante hemiciclo é eleito por sufrágio indireto mediante associações (12 assentos), e nomeado pelo chefe do Executivo (sete lugares).

ISG // VC

Sem comentários: